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Asema Daeva: "Abandonada eternamente permanece a canção perpétua"

Resenha - Dawn of The New Athens - Aesma Daeva

Por Maria Morgen
Postado em 28 de março de 2014

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

AESMA DAEVA foi uma banda de Symphonic Metal nascida nos Estados Unidos em 1998. Pela banda, já passaram três vocalistas; Rebecca Cords, a renomada Melissa Ferlaak e Lori Lewis. Lançado em 2007, "Dawn of New Athens" foi o quarto e último álbum de estúdio, único com Lori Lewis.

O álbum abre com Tisza's Child. Eu costumava achar que tinha alguma coisa na letra dessa música que me fascinava, até descobrir que era mesmo só o jeito que a Lori canta, com leveza, graciosidade e muita técnica, sendo forte na hora que precisa. As guitarras bem trabalhadas, dão o peso necessário sem a necessidade de soarem agressivas.

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Logo em seguida, vem The Bluish Shade, mais rápida que sua predecessora. A música, de acordo com John Prassas, é inspirada na luta que é a vida do músico, e explora a ideia de que é a música que escolhe você. Essa sim tem uma letra que realmente me encanta (não só pela forma que é cantada hahaha). Mais uma vez Lori mostra a versatilidade que não é característica das vocalistas do gênero. "Eu preciso de respostas para a minha paixão. Eu preciso de respostas para as perguntas da vida": Michael Platzer sendo Michael Platzer, ou seja, exímio compositor. (Atentem para a última vez que ela canta "I wish to live like all men" que quase sempre me faz cagar na calça de tão linda).

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A próxima obra é "Artemis", que tem sua introdução com um bawu, que dá toda a melancolia que faz dessa a segunda melhor música do álbum. Acho que talvez porque alterna o som simples do bawu com o peso e o ritmo da guitarra. "I don't need anyone. I don't love anyone" mais uma vez mostra tudo que eu gosto de ouvir numa música, letras que exaltam a independência de quem nos canta (isso de acordo com o próprio Prassas, e eu super concordo), e mais explícito ainda em "embrace the art of letting go".

Hymn to The Sun é a estrelinha dourada do álbum, porque é diferente das outras em todos os sentidos. O ritmo não é recorrente nas músicas da banda, a melodia mais solta muito menos, até a voz de Lewis assume um tom diferente.

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A letra de Hymn to The Sun sempre me faz criar uma história mental da Loris no Egito antigo, venerando o Sol, e logo em seguida, crescendo um par de asas e levantando vôo (quando é cantado "few mortals have flown on wings"). De repente ela cai, e é quando começa a se perguntar "I fear I follow illusion. Is this my final veil?" e como uma fênix, ressurge em "the mirage of the Phoenix, from ashes daily arises".

Sim, gente, eu sou retardada, e imaginei essa história toda escutando uma música :-) Próxima música antes que eu morra de vergonha: D'Oreste D'Ajace.

D'Oreste, é uma adaptação da ária originalmente composta por Mozart para a problemática ópera Idomeneo. De acordo com Prassas, essa adaptação de D'Oreste serve para lembrá-los, bem como lembrar a todos, que a música e o passado são, sim, relevantes. Gosto muito do jeito dramático que a Lori interpreta essa música, porque não é muito comum ver tanta emoção assim nas interpretações dela (pelo menos no Aesma Daeva).

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The Camp of Souls. Ah, a fragilidade que Lori Lewis transmite no início dessa música! Quase dá pra agarrar o sentimento de paz no ar. Uma coisa que me agrada são os momentos em que todos os instrumentos cessam e Loris canta sozinha, com sua voz triplicada em diferentes tons, transbordando propriedade, mostrando que ela não só sabe o que faz, como o faz bem feito. No meio da música, um solo de um instrumento que já me disseram ser o Oboé, mas não confirmo porque não conheço. Só sei que gostei a beça, e que a Melissa Ferlaak toca esse instrumento no DVD Last Rites (se alguém quiser assistir e me dizer que instrumento é, agradeço).

Ancient Verses começa de forma rápida, e também conta uma história, muito parecida com como eu vejo a história da evolução. Uma evolução que, desnecessariamente, deixa pra trás seus mitos e seu mistério, que destrói seu passado e sua história e que ignora os segredos, que jazerão para sempre intocados, sem que nenhuma língua os tenha coragem de contar e se perderão entre mentiras contadas no futuro.

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Since The Machine é uma música chata que dói, mas a letra é muito boa, quase como um passeio pela história na visão de Platzer. E pra fechar com chave de ouro esse texto incrivelmente longo que todo mundo já deve estar cansado de ler, The Loon.

The Loon começa daquele jeitinho doce de sempre. A guitarra pesada, porém, lenta, a melodia suave, a voz calma de Lewis, tudo se encaixando perfeitamente na letra. E assim continua nas duas primeiras partes da música, excetuando-se a parte em que todos os instrumentos dão lugar ao baixo que, suave, marca o tempo da música, até ela começar a crescer e se desenvolver de novo, dessa vez com a presença de alguns violinos e um violoncelo, e uma Lori mais grave.

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E aí entra a parte mais linda da música toda, não tem absolutamente UMA falha. Eu não sei direito se é o bumbo batendo forte, a guitarra pesada, a voz irretocável de Lori quase como um choro, um lamento. De "Replume, refire, ravage my unholy ghost. My heavenly mate..." até "For all the world is spirits furnace" é SÓ AMOR. A gravidade, a urgência e a emoção passadas nessa passagem da música é uma coisa que eu raramente ouço igual.

E aí a melodia murcha, levando ao fim do álbum. "Todas as canções estrangulam debaixo do gelo, se apagam e morrem. Abandonada eternamente permanece a canção perpétua".

E é exatamente isso que acontece depois que você realmente entende e passa a ver o álbum como um todo. A canção se apaga e fica guardada, perpetuada dentro de você. Não sei se é uma visão muito romântica que eu tenho da música, mas esse álbum vai ficar gravado pra sempre, pela profundidade das letras, pelo passeio poético que ele dá por diferentes temas ao redor do mundo e do tempo, seja no rio Tisza na Hungria, ou o obscuro mundo Orwelliano, por eles se aproveitarem de instrumentos pouco conhecidos, como o bawu, e o introduzirem de forma magistral num estilo de música que não costuma ser tão aberto e receptivo à mudanças. E ainda a ideia de fazer uma releitura de uma ária de Mozart. É muita audácia pra uma banda só, e eles foram extremamente bem sucedidos nesse ponto. E ainda há bandas que dizem gostar de desafios... Quer desafio maior que este?

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Eu posso estar (e com certeza estou) me prolongando um pouco, mas eu me peguei necessitada de que todos vocês que conseguirem acompanhar o texto até aqui, vejam um pouco da magia por trás dessa obra. É necessário ver que cada um desenvolveu um trabalho único e seu pra entender como se dá a sintonia dos três. Cada um junta os pedaços da forma que quiser e forma uma opinião acerca dele, mas que eu posso dizer é que, até decidir escrever esse texto, nem eu compreendia totalmente o conteúdo desse álbum. E agora que eu compreendo, garanto que vou marcar esse dia pra sempre.

Tracklist:

1. "Tisza's Child" - 6:36
2. "The Bluish Shade" - 5:14
3. "Artemis" - 6:22
4. "Hymn to the Sun" - 4:21
5. "D'Oreste" - 3:25
6. "The Camp of Souls" - 5:36
7. "Ancient Verses" - 4:32
8. "Since the Machine" - 6:49
9. "The Loon" - 6:32

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