The Who: Um trabalho exótico, diferente e inteligente
Resenha - Sell Out - Who
Por Doctor Robert
Postado em 08 de dezembro de 2013
Nota: 10
O que faz de um álbum um clássico? Figurar entre os mais vendidos logo em seu lançamento? Agradar à crítica especializada? Seu poder de influenciar outros artistas? Fugir do convencional? Partindo desses pressupostos, "The Who Sell Out" se enquadra em todos eles, mas principalmente no último – é um trabalho completamente exótico, diferente e inteligente.
O The Who desde o início já demonstrava que não seria apenas "mais uma banda de rock britânico" a duelar com os Beatles e os Stones pela preferência dos fãs. Pete Townshend era um exímio contador de histórias e tanto ele quanto os demais membros apresentavam uma criatividade imensa para ficarem restritos ao formato "compor singles, lançar álbuns e excursionar". Claro que eles fizeram isso tudo, mas à sua maneira.
Lembremos que "My Generation" já trazia frases como "espero morrer antes de ficar velho", sem falar em seu solo de baixo (quem fazia isso na época?). Já em 1966, no álbum "A Quick One", Townshend se exercitava em um protótipo de "mini-ópera-rock" na faixa título, onde contava a história de uma garota que se sentia solitária pela ausência do marido e o trai com um maquinista de trem. Trabalharam em uma faixa composta de vários pequenos trechos diferentes que formariam um todo de 8 minutos, com direito ainda a algumas "esquisitices", como ficar cantando "Cello Cello Cello" em um segmento onde supostamente seria inserido um quarteto de cordas, pedido negado pela gravadora para evitar gastos – "cello" é como o violoncelo é tratado coloquialmente em inglês.
E chegamos então ao álbum em questão. Em "The Who Sell Out" (o termo "sell out" é usado para produtos que esgotam as vendas), o quarteto recria de modo perfeito a sensação de se estar ouvindo a transmissão de uma rádio inglesa na época, chamada Radio London. Para tanto, foram criadas e inseridas vinhetas e propagandas cortando o disco e ligando as canções umas às outras. E algumas destas supostas propagandas foram escolhidas para ilustrar a capa e a contracapa, numa grande ironia ao simular o quarteto (que não era exatamente um exemplo de "modelo a ser seguido" para os jovens da época) como garotos-propagandas daqueles produtos.
O resultado final foi aclamado por alguns críticos como "fantástico", "extremamente único e original", e até mesmo de "jubilante pop psicodélico", mas que não deixou de gerar muitos problemas para eles: obviamente Townshend e o grupo conseguiram alguns processos judiciais pela menção a produtos que realmente existiam, cujos empresários clamavam que estavam tendo suas marcas usadas pela banda sem autorização. Quem também processou o The Who foi a empresa que criou os jingles originais da Radio London (a PAMS Production, de Dallas, EUA), também alegando utilização sem permissão por parte da banda.
Dividindo espaço com clássicos instantâneos como "I Can See For Miles" e "Tattoo", temos outros temas menos conhecidos, mas não menos vibrantes como a estranha "Armenia City in the Sky", que abre o trabalho. Outra faixa interessante é "Rael", que encerra o álbum: esta seria o início de um projeto de um álbum conceitual que Townshend teria abandonado no meio do caminho... seria o embrião de "Tommy"?
Por fim, há de se exaltar o trabalho artístico da capa do álbum, onde os membros aparecem com alguns dos produtos "anunciados" ao longo do disco: Pete Townshend com um desodorante Odorono, Roger Daltrey imerso em uma banheira de feijões cozidos da Heinz, Keith Moon utilizando um creme no rosto (Medac) e John Entwistle, com um traje à la Fred Flintstone/Tarzan como sátira ao fisiculturista Charles Atlas, também citado nas propagandas. "Reza a lenda" que John Entwistle era quem deveria estar na foto dos feijões e chegou atrasado à sessão de fotos propositalmente para não ter que ficar imerso na banheira (os feijões estariam congelados) – Daltrey, admirado pelas garotas pelo seu físico, é quem posaria de Atlas.
Como outro ponto curioso, vale destacar que as primeiras mil cópias na Inglaterra ainda vinham com um brinde: um "pôster psicodélico gratuito", devidamente mencionado nas capas das cópias que os continham – e que hoje se tornaram, naturalmente, objetos de colecionadores. E nos sulcos finais do vinil (aqueles onde a agulha do toca discos paravam... aliás, você é desse tempo?), havia ainda uma gravação que ficava repetindo um tema instrumental que seria supostamente um jingle para a gravadora Track Records – artifício também usado pelos Beatles em "Sgt. Pepper’s", onde eles gravaram um ruído de 15 kilohertz "para perturbar os cachorros" e uma mensagem ao contrário (que dizia "It really couldn't be any other", mas muitos juravam ser "We'll fuck you like Superman").
Em 1995 "Sell Out" foi relançado em CD, com diversas faixas bônus e jingles que acabaram ficando de fora da edição original deste clássico, um verdadeiro marco que deve ser conhecido por todos – nem que seja apenas por curiosidade.
The Who Sell Out (1967) - Track Records/Decca Records
Produzido por Kit Lambert
Todas as faixas compostas por Pete Townshend, exceto as indicadas abaixo:
1. "Armenia City in the Sky" (Speedy Keen) 3:48
2. "Heinz Baked Beans" (John Entwistle) 1:00
3. "Mary Anne with the Shaky Hand" 2:28
4. "Odorono" 2:34
5. "Tattoo" 2:51
6. "Our Love Was" 3:23
7. "I Can See for Miles" 4:44
8. "Can't Reach You" 3:03
9. "Medac" (Entwistle) 0:57
10. "Relax" 2:41
11. "Silas Stingy" (Entwistle) 3:07
12. "Sunrise" 3:06
13. "Rael" 5:44
Faixas bônus (1995):
14. "Rael 2" 0:47
15. "Glittering Girl" 2:56
16. "Melancholia" 3:17
17. "Someone's Coming" (Entwistle) 2:29
18. "Jaguar" 2:51
19. "Early Morning Cold Taxi" (Roger Daltrey, Dave Langston) 2:55
20. "Hall of the Mountain King" (Edvard Grieg) 4:19
21. "Girl's Eyes" (Keith Moon) 3:28
22. "Mary Anne with the Shaky Hand" (US Mirasound version) 3:19
23. "Glow Girl" 2:24
Ou, se você preferir com os jingles em separado:
• "Monday, Tuesday, ..."
"Armenia City In The Sky"
• "Wonderful Radio London -- Whoopee!"
"Heinz Baked Beans"
• "More Music, More Music..."
"Mary-Anne With The Shaky Hand"
• "Premier Drums"
"Odorono"
• "It's smooth sailing with the highly successful sound of Wonderful Radio London!"
"Tattoo"
• "Radio London reminds you: Go to church of your choice."
"Our Love Was"
• "You're a pussycat, you're where it's at, ..."
• "The Big 'L'"
• "Speak easy, drink easy, puh-leasy!"
• "Hold your group together with Rotosound strings!"
"I Can See For Miles"
• "The Charles Atlas course with Dynamic Tension can turn you into A Beast of a Man!"
"I Can't Reach You"
"Medac"
"Relax"
• "Hold your group together with Rotosound strings! (Demo)"
"Silas Stingy"
"Sunrise"
"Rael 1"
Faixas Bônus:
"Rael 2"
• "Top Gear! Top Gear...."
"Glittering Girl"
• "Coke-after-coke-after-coke-after-coca-cola!"
"Melancholia"
• "Loon at the bag of nails"
"Someone's Coming"
• "John Mason, we've got the best cars here!"
"Jaguar"
• "John Mason, we've got the best cars here!" (Reprise)
"Early Morning Cold Taxi"
• "Things go better with Coke!"
"Hall of the Mountain King"
• "Radio One" (Boris the Spider Version)
"Girl's Eyes"
• "Odorono" (Lost Chorus)
"Mary-Anne with the Shaky Hands (Versão diferente)"
"Glow Girl"
• "Track Records! ..."
Roger Daltrey –vocais, percussão
John Entwistle – baixo, vocais, sopros, efeitos sonoros
Pete Townshend – guitarra, vocais, teclados, apitos, banjo
Keith Moon – bateria, vocais, percussão, efeitos sonoros, vocais principais em "Jaguar" e "Girl's Eyes"
Al Kooper – teclados, órgão
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