Orphaned Land: mais acessível, menos agressivo
Resenha - All Is One - Orphaned Land
Por Félix Baumgarten Rosumek
Postado em 10 de agosto de 2013
Nota: 7
Só o fato de ser de um país tão incomum no cenário metálico como Israel já seria o suficiente para atrair alguma atenção para o ORPHANED LAND. Mas o reconhecimento que a banda possui hoje vai muito além disso. Após dois bons álbuns nos anos 90, o grupo levou oito anos para, em 2004, soltar uma verdadeira bomba na forma de "Mabool - The Story Of The Three Sons Of Seven", um dos álbuns mais elogiados da década. Foram mais seis anos até o sucessor, "The Never Ending Way Of ORWarriOR". E agora, depois de mudanças na formação e um intervalo de "apenas" três anos, surge o quinto álbum de estúdio, "All Is One".
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Apesar dessas mudanças, a essência sonora da banda continua a mesma. Mas "All Is One" apresenta diferenças pontuais em relação ao passado, possivelmente produtos da evolução natural de uma banda querendo explorar novas possibilidades ao longo do tempo. Se fica melhor ou pior, depende da subjetividade de cada um.
A mudança mais chamativa é a quase ausência de vocais guturais, que, embora já em menor quantidade em relação a "Mabool", ainda pontuavam diversas músicas em "The Never...". Isto faz com que o disco perca muita agressividade e alguma variedade. Por outro lado, a voz limpa de Kobi Farhi continua melhorando, cada vez com mais interpretação e feeling.
Segundo algumas entrevistas, a banda quis simplificar o som em "All Is One". Efetivamente, a pegada progressiva de "The Never..." deu lugar a uma maior quantidade de "orientalismos", que, no fim, são a marca registrada e m aior diferencial do Orphaned Land. Há uma presença maior de orquestrações, que muitas vezes são as responsáveis pelas melodias regionais e dão um toque mais grandioso às músicas. Como conseqüência disso, as linhas de guitarra estão bem mais simples. Em vez de linhas soladas quase constantes, como nos discos anteriores, as guitarras servem mais como base às orquestrações (sem contar, logicamente, os solos "de verdade").
Para concatenar isso tudo, os israelitas contam com a melhor produção de sua carreira. As guitarras estão cortantes, a bateria está na altura certa, vocais e orquestrações se harmonizam perfeitamente, e até o baixo tem alguns segundos para mostrar que existe, lá para o fim do disco.
Finalmente, não é possível falar de um disco do Orphaned Land sem mencionar o conteúdo lírico. Este não é um disco conceitual no mesmo sentido dos anteriores, que contavam uma história única. Mas ainda gira em torno dos conceitos sempre levantados pela banda, da orige m única e conflito entre as três religiões abraâmicas. Só que, em vez de simbolismos e metáforas bíblicas, temos uma coleção de historietas bem diretas, que falam em guerra, armas e fé cega em líderes.
"All Is One" começa muito forte. A faixa-título abre os trabalhos com um coro feminino bem na orelha e um refrão simplicíssimo, pronto para ser gritado nos shows. "The Simple Man" abusa dos orientalismos e escancara a evolução vocal de Kobi.
A energia dá uma baixada geral em "Brother", uma boa balada, mas colocada no lugar errado. Melhor seria ter seguido direto para a obra-prima do álbum, "Let The Truce Be Known", com seu andamento arrastado e hipnotizante. Novamente Kobi se destaca, em uma interpretação primorosa que vai crescendo na medida em que a história se aproxima de seu trágico final. Esta forma, junto com as duas primeiras, a trinca principal do álbum, aquelas músicas que certamente ficarão para a história do Orphaned Land.
A partir daí, o disco se perde um pouco. "Through Fire And Water" é a primeira cantada em hebraico, o que sempre dá uma chacoalhada nas orelhas do ouvinte, mas não se aproxima das memoráveis "Norra El Norra" e "Sapari". O que fica mais evidente é a perda da banda ao trocar o vozeirão marcante de Shlomit Levi por vocais femininos mais genéricos.
"Fail" vem depois e é uma boa música, que se destaca por ser a única com vocais guturais. Uma pena, pois eles aparecem com uma fúria fenomenal. Parece que Kobi tentou compensar, nesses poucos versos, toda a falta de guturais no resto do disco. Bem, pelo menos mostra que a voz continua em forma para detonar nos shows.
Após uma instrumental que não fede nem cheira ("Freedom"), vem duas músicas que não se destacam particularmente no universo musical do Orphaned Land, mas são interessantes por apresentarem uma dicotomia direta entre as duas grandes influências regionais da banda: uma com letra, melodia e estilo vocal em hebraico ("Shama’im"), a o utra em árabe ("Ya Benaye").
"Our Own Messiah" retoma o rumo metálico mais tradicional, cheia de melodia e vocais nas alturas. Guturais teriam entrado muito bem para dar um tom de clímax à faixa. "Children" termina o disco de modo parecido com "The Storm Still Rages Inside", com pouca letra e muito solo, só que com metade da duração e inspiração da penúltima faixa do "Mabool".
"All Is One" é um disco que qualquer fã da banda vai ouvir com prazer repetidas vezes. Certamente contribuirá para o crescimento do Orphaned Land, até por ser um pouco mais acessível do que os trabalhos anteriores. A nota que dei pode parecer um pouco baixa, mas, depois de respirar fundo e deixar baixar a adrenalina do disco novo, considero que fica abaixo dos dois últimos trabalhos, apesar de possui algumas músicas fantásticas. De qualquer modo, é um baita disco. Só tem a sombra de um passado de nível muito alto com o qual lidar.
Tracklist:
All Is One
The Simple Man
Broth er
Let The Truce Be Known
Through Fire And Water
Fail
Freedom
Shama'im
Ya Benaye
Our Own Messiah
Children
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