Banda do Sol: Atual mas ostentando onipresente aura dos 70s
Resenha - Tempo - Banda do Sol
Por Ricardo Seelig
Fonte: Collector's Room
Postado em 21 de fevereiro de 2011
Nota: 8
O Brasil tem uma grande tradição no rock progressivo. O estilo, muito popular no país durante os anos 1970, semeou na juventude daquela época o amor pelas elaboradas composições características do gênero. Enquanto de um lado nomes já estabelecidos como Os Mutantes, por exemplo, mergulharam fundo no prog, no outro extremo várias bandas começaram a surgir e a gravar álbuns que hoje são considerados clássicos do estilo, como é o caso d'O Som Nosso de Cada Dia e O Terço.
A Banda do Sol faz parte dessa cena. Surgida no início da década de 1980, gravou um único disco, o cult "Banda do Sol", lançado em 1982, e depois se separou. Os integrantes trilharam caminhos diversos e a banda encerrou as suas atividades, até que, no final da década de 2000, foi aos poucos reativada.
O line-up se estabilizou com Moa Jr (vocal, guitarra e violão), Fran Simi (guitarra), Allex Bessa (teclados, piano), Cesinha Rodrigues (baixo) e Fábio Fernandes (bateria), e o próximo e natural passo foi a gravação do segundo trabalho, intitulado "Tempo".
O álbum reúne composições de diversas fases da banda. Gravado em três estúdios paulistas e mixado pelo conceituado Billy Sherwood – ex-guitarrista do Yes e produtor com experiência em discos de bandas como Motörhead, Paul Rodgers e Ratt -, "Tempo" é um trabalho atual que ostenta uma onipresente aura setentista.
A pop "Som do Sol" abre o play com um clima meio Guilherme Arantes meio Flávio Venturini. Destaque imediato para a guitarra, tanto pelas intervenções marcantes quanto pelo bonito solo. "Voar" tem um início que traz "Run Like Hell", do Pink Floyd, à mente, e o baixo em primeiríssimo plano. Uma ótima faixa, com longas passagens instrumentais bem ao gosto dos fãs de progressivo.
Já "Quem Eu Sou?" é dona de uma breguice equivocada, e chega a lembrar o Roupa Nova – isso não é um elogio, ok? A disparidade em relação à "Voar" é tanta que nem parece que é a mesma banda tocando.
O trem volta aos trilhos em "Yes Blues", boa faixa com o piano de Allex Bessa dando as cartas. Em "Praça da Paz" novamente o piano se destaca, com um ótimo início que é puro suingue latino. O único problema de "Praça da Paz" é que a faixa é muito curta, passando a sensação que acabou prematuramente. Se a banda a tivesse estendido por mais alguns minutos, com um solo de Bessa por exemplo, tenho certeza de que ficaria bem mais interessante.
A música que dá nome ao álbum é outra que mostra toda a capacidade criativa da Banda do Sol. "Tempo" tem um ótimo solo de guitarra, repleto de feeling, e é a faixa mais prog do disco.
O jazz fusion bate ponto em "Fabito", excelente composição instrumental e, na minha opinião, a melhor música do álbum. O disco segue para o seu final com a fraca "Maya", com a atmosférica "Sinal de Liberdade" e com a dobradinha "Prana" e "Mahavishnu", gravadas ao vivo.
O som da Banda do Sol requer um certo estado de espírito e de consciência propícios para que a música seja o principal elemento e, dessa maneira, possa ser curtida em sua totalidade. O que o quinteto faz é um tipo de música que pouquíssimas bandas, atualmente, executam no Brasil em alto nível. Os integrantes do grupo soam muitas vezes como artesãos esculpindo atmosferas sonoras repletas de detalhes, o que faz o álbum ser uma experiência reconfortante para os ouvidos.
Ao contrário do que muitos sites publicaram, saudando esse retorno da Banda do Sol como a chegada do Messias à Terra, "Tempo" não é uma obra-prima incontestável e um clássico instantâneo. O disco está longe disso, mas é dono de uma qualidade inegável e de uma identidade artística bastante forte, que agradará o ouvinte.
Se você é fã de rock progressivo, compre de olhos fechados e ouvidos abertos!
Faixas:
1.Som do Sol
2.Voar
3.Quem Eu Sou?
4.Yes Blues
5.Praça da Paz
6.Tempo
7.Fabito
8.Maya
9.Sinal de Liberdade
10.Janavatar
11.Prana (ao vivo)
12.Mahavishnu (ao vivo)
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