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Cobalt: assustadora mistura de Black, Punk, Doom e Prog

Resenha - Gin - Cobalt

Por Marcelo Kuri
Postado em 15 de abril de 2009

Adaptado do fabuloso review feito por ZADOK no site v2.metalreviews.com. Uma arte que inspirou outra: review certeiro, álbum matador!

Uma guerra é sempre uma guerra. Os efeitos dela podem se perpetuar por gerações e mais gerações como forma de cicatrizes que são, assim como as feitas por queimaduras nucleares, difíceis e às vezes impossíveis de se curar. Os pesadelos (tão assustadores como a própria guerra) descrevem a sina maldita de jovens assustados forçados a rastejar na lama presente nos campos de batalha para atirarem impiedosamente nos rostos de outros jovens também assustados em nome de um líder político a muitas e muitas milhas dali. Os choques traumáticos, a Síndrome da Guerra do Vietnan e a do Golfo Pérsico perpetuam na mente daqueles que escaparam da frente de batalha. Muitos de nós, brasileiros, podemos nos considerar pessoas afortunadas de nunca termos tido a obrigação de irmos para uma guerra e, assim sendo, frequentemente criticamos os soldados ali presentes como sendo desumanos e máquinas de matar sem alma porque, muitas vezes, eles realmente o são.

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No entanto, olhando para uma guerra por uma perspectiva mais humanista, os verdadeiros inúmeros heróis sem nome são aqueles que realmente se perpetuarão, aqueles que não criticam ou rezam, aqueles que repudiam controvérsias, torturas, estupro, atrocidades e apenas querem viver suas vidas se lixando para tudo isso.

Toda este descritivo é para lhes apresentar a banda Cobalt. Ela é formada por Phil McSorley um sargento do exército dos Estados Unidos presente no Iraque, e o baterista Erik Wunder (baterista de turnê para as apresentações do ex vocalista do SWANS Jarboe) que faz uma participação especial neste álbum. O sargento McSorley utiliza seu tempo livre para gravar músicas que descrevem muitos dos sentimentos dos quais escrevi a pouco. A distinta e original marca de Black Metal da banda criada pelo seu mentor, mistura elementos que transcendem o gênero, algo como uma assustadora mistura de Black, Punk, Doom e Prog que, definitivamente, dispensa comentários.

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"Gin" (2009) é o terceiro registro da banda e foi dedicado ao escritores Ernest Hemingway e Hunter S Thompson. Composto por 61 faixas (a maioria de silêncio com uma faixa escondida) as influências de Neurosis e Tool foram usadas de forma sábia gerando sólidas pilastras ao som dando origem a uma faceta da banda que foi polida até brilhar. A força direcionadora neste álbum é, no entanto, as maravilhosas sinfonias de guitarra feitas em conjunto com a bateria que consolidam a obra de forma tão esplêndida. Os riffs presentes aqui desafiam perólas do estilo (assim como o magistral "Those of the Unlight" do Marduk) fazendo deste álbum uma verdadeira jóia rara que, por sua simples existência, faz com que a maioria dos atuais lançamentos de Black Metal pareçam pobres.

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Toda música presente aqui é matadora. A magistral faixa de abertura, "Gin", começa soturna e quando menos o ouvinte espera inicia-se o caos sonoro que fará arrepios subirem por suas espinhas. Uma levada de bateria ao estilo TOOL abre alas para a faixa seguinte "Dry Body", uma música que consegue ao mesmo tempo ser melódica, inspirada, psicodélica e assustadora. As letras desta faixa seguem o que há de melhor no estilo Stephen King.

Apesar da atmosfera criada pelo álbum ser extremamente marcante, há diversos riffs merecedores de todas as atenções. "Arsonry" é uma das faixas que contêm estes riffs insanos. Assim como o Marduk, indo na profundidade da psicose, esta faixa se transforma completamente de meio passo para uma canção tribal entoada por uma levada selvagem de bateria dirigida por riffs destruidores que acabam com as palavras de McSorley: "Burn me down, shoot me in the chest!’ (Queime-me! Atire no meu peito!). Esta é apenas um dos estonteantes momentos do álbum que comprovam a habilidade da banda em produzir uma atmosfera ainda mais obscura. Não confunda o sentido da palavra "obscuro" da forma como a maioria das bandas de Black Metal a utiliza (em referência a idéias satânicas) mas sim obscuro como uma potente forma de se explorar a psique humana.

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"Gin" continua então com o massacre sonoro aos ouvintes através de faixas como a brutal "Stomach" (do EP de 2008 "Landfill Breastmilk Beast"), "A Clean Well-Lighted Place" e "Pregnant Insect". Chega a ser frustrante sumarizar estas incríveis e inteligentes faixas de forma tão sucinta, assim como o impacto que elas nos trazem. O álbum é tão consistente que é extremamente difícil escolher uma única faixa de destaque. Porém se eu tivesse que fazê-lo eu escolheria "Two-Thumbed Fist" uma verdadeira fábrica de riffs diabólicos e de nove minutos de duração, o qual nos leva a uma jornada impiedosa que faz referência desde as raízes do grupo (o mais puro Black Metal) com uma mistura de sons indescritível que a banda executa atualmente.

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Hoje em dia é muito raro descobrirmos uma banda que nos cause tanto impacto como Cobalt. Simplesmente deixe um pouco de lado os já tradicionais crânios, corpsepaints e espinhos do já corriqueiro Black Metal e permita que esta banda mostre o que ainda é possível fazer com este estilo musical. "Gin" é uma cria única e um futuro clássico de um distinto e original Metal Obscuro que precisa, mais que obrigatoriamente, ser ouvido por todos aqueles que são interessados no estilo e que realmente busquem uma evolução do Black Metal em algo muito maior de que apenas uma repetição cansativa.

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Sobre Marcelo Kuri

Mestre em Ciência e Engenharia de Materiais pela UFSCar, costuma dizer que é engenheiro por opção e headbanger de coração. Sempre gostou de ler revistas, zines, artigos e livros especializados em Heavy Metal e sempre desejou poder escrever um pouco a respeito disso. Foram-se alguns anos até que tivesse plena confiança para redigir um artigo, e sabe que ainda tem muito que aprender. Colecionador assíduo de todo material relacionado ao gênero, é um dos poucos "sobreviventes" de um grupo de amigos fanáticos que cresceram ouvindo Heavy Metal. Já tem consciência que não tem aptidão para tocar nenhum instrumento, mas com o apoio, sempre incondicional, da noiva Marilia, continua a desfrutar cada vez mais intensamente tudo de bom que esse estilo musical pode proporcionar.
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