Wilco: uma breve análise da discografia da banda
Por Ricardo Seelig
Fonte: Collectors Room
Postado em 27 de junho de 2016
O Wilco foi formado em 1994 na cidade norte-americana de Chicago. No início a banda era associada à cena do alt country, formada por uma nova geração de artistas que buscavam atualizar o tradicional gênero e torná-lo mais atraente para novos ouvintes ao aproximá-lo de estilos como rock alternativo, indie e southern.
A origem do Wilco está no Uncle Tupelo, um dos nomes pioneiros e mais legais do country alternativo (a dica pra saber mais sobre o gênero é ouvir o próprio Uncle Tupelo e também o Whiskeytown, cujo destaque era o vocalista e guitarrista Ryan Adams). Após a saída do vocalista Jay Farrar, os integrantes do Uncle Tupelo decidiram seguir em frente e rebatizaram o grupo, adotando o nome Wilco.
A espinha dorsal, a alma e o coração do Wilco atendem pelo mesmo nome: Jeff Tweedy. Vocalista, guitarrista e compositor, Tweedy é o centro da banda. É a partir dele e ao seu redor que tudo se desenvolve. Em um primeiro momento, a parceria com o guitarrista Jay Bennett foi a força motriz do grupo. Inclusive, é possível dividir a carreira do Wilco em duas fases distintas: a primeira, com Bennett na guitarra, e a segunda, onde Nels Cline assume o posto.
Com nove álbuns na carreira, o Wilco iniciou a sua trajetória seguindo a cartilha do alt country, mas foi desenvolvendo uma identidade própria com o passar dos anos. Talvez o principal elemento de sua música seja a melancolia, onipresente e traduzida através de lindas melodias e arranjos que, invariavelmente, tocam a alma do ouvinte. Uma música que vai muito além da atração inicial, tornando-se parte do que o ouvinte é como indivíduo e assumindo diferentes significados ao longo de sua vida.
Com Bennett, o Wilco gravou quatro álbuns: "A.M." (1995), "Being There" (1996), "Summerteeth" (1999) e "Yankee Hotel Foxtrot" (2011). A estreia foi uma grata surpresa, que se transformou em certeza com o duplo Being There, lançado em 29 de outubro de 1996. Produzido pela própria banda, o disco é um dos maiores clássicos do alt country e um dos grandes discos da década de 1990. Foi com "Being There" e suas excelentes canções que o Wilco chamou pela primeira vez a atenção de um público além do seu próprio nicho. Se nunca ouviu, está aí um disco para ser descoberto.
"Summerteeth", que chegou às lojas em 9 de março de 1999, tem algumas das mais belas canções da banda, como a ótima "She's a Jar". Mas o maior destaque é a transcendental "How to Fight Loneliness", incluída na trilha do filme Garota Interrompida. Nela, Tweedy canta sobre a dor da solidão, apresentando a sua fórmula cínica de como vencê-la. Uma canção que possui diversos significados, que se revelam a cada nova audição.
E chegamos a "Yankee Hotel Foxtrot", o disco que mostrou ao mundo do que o Wilco era capaz. A banda gravou o álbum, mas a gravadora o reprovou alegando que ele não tinha força comercial suficiente. Então, após uma batalha jurídica, a banda saiu fora da Reprise e lançou o trabalho primeiramente de forma independente, e logo após através da Nonesuch. Trata-se de um álbum bastante experimental, mas que consegue equilibrar o minimalismo dos arranjos e da instrumentação com momentos de brilhantismo pop como "Kamera", "War on War", "Heavy Metal Drummer" e "Pot Kettle Black". O grande destaque, no entanto, é a faixa cinco, "Jesus, etc", levada por uma lindíssima melodia de violinos e com uma letra sensacional escrita por Tweedy. É a minha música preferida do Wilco, e uma das canções que tenho certeza que estará ao meu lado até o final dos meus dias.
Bennett deixou a banda em 2001, levando o Wilco a um breve hiato. Nels Cline, músico com origem no jazz e que havia realizado colaborações com gente como Mike Watt (Minutemen) e Thurston Moore (Sonic Youth), veio para o Wilco em 2004, iniciando uma nova fase na carreira dos norte-americanos. O primeiro disco dessa nova fase foi "A Ghost is Born", lançado em 22 de junho de 2004 e um dos meus preferidos. O álbum traz uma influência muito grande de Neil Young e dos Beatles, e soa, em alguns momentos, como se o bardo canadense fosse o guitarrista do Fab Four. A faixa de abertura, "At Least That’s What You Said", funciona como uma espécie de carta de intenções, com Tweedy declamando a letra de forma calma e quase sussurrada até ser interrompido de forma violenta por Cline, que despeja um solo orgásmico repleto de dissonância e microfonia, fazendo jus ao status de 82º melhor guitarrista de todos os tempos atribuído pela Rolling Stone. Além disso, temos canções deliciosas como "Hummingbird" e "Theologians", onde a melodia assume o protagonismo em um resultado incrível.
Veio então aquele que é, na minha opinião, o melhor álbum do Wilco: "Sky Blue Sky". Lançado em 15 de maio de 2007, o disco é o ponto de partida perfeito para quem nunca ouviu a banda. São doze canções excelentes, mantendo a influência Beatle do trabalho anterior e incrementando a mistura com um belíssimo trabalho de guitarra. "Impossible Germany" é o ápice dessa alquimia, uma canção cativante construída a partir de um inspirado arranjo de seis cordas. Já com três guitarristas em sua formação - além de Tweedy e Cline, Pat Sansone também empunha o instrumento -, o Wilco explora todas as possibilidades que um trio de guitarras pode proporcionar, alcançando um resultado que soa como uma espécie de country tocado por um Lynyrd Skynyrd adolescente. Sensacional!
Se você nunca ouviu o Wilco, a tríade "Yankee Hotel Foxtrot", "A Ghost is Born" e "Sky Blue Sky" é uma bela indicação.
Em 2009 a banda lançou o consistente "Wilco (The Album)", que trouxe boas canções como "One Wing", "Bull Black Nova", "You and I" e "I'll Fight", e que foi seguido por um retorno ao experimentalismo de "Yankee Hotel Foxtrot" em "The Whole Love" (2011), expressado através da genial faixa de abertura, "Art of Almost". "Star Wars" (2015) completa a discografia de estúdio da banda, mas confesso que passei meio batido por esse disco e não tenho como falar muito a seu respeito.
Luis Alberto Braga Rodrigues | Rogerio Antonio dos Anjos | Everton Gracindo | Thiago Feltes Marques | Efrem Maranhao Filho | Geraldo Fonseca | Gustavo Anunciação Lenza | Richard Malheiros | Vinicius Maciel | Adriano Lourenço Barbosa | Airton Lopes | Alexandre Faria Abelleira | Alexandre Sampaio | André Frederico | Ary César Coelho Luz Silva | Assuires Vieira da Silva Junior | Bergrock Ferreira | Bruno Franca Passamani | Caio Livio de Lacerda Augusto | Carlos Alexandre da Silva Neto | Carlos Gomes Cabral | Cesar Tadeu Lopes | Cláudia Falci | Danilo Melo | Dymm Productions and Management | Eudes Limeira | Fabiano Forte Martins Cordeiro | Fabio Henrique Lopes Collet e Silva | Filipe Matzembacher | Flávio dos Santos Cardoso | Frederico Holanda | Gabriel Fenili | George Morcerf | Henrique Haag Ribacki | Jorge Alexandre Nogueira Santos | Jose Patrick de Souza | João Alexandre Dantas | João Orlando Arantes Santana | Leonardo Felipe Amorim | Marcello da Silva Azevedo | Marcelo Franklin da Silva | Marcio Augusto Von Kriiger Santos | Marcos Donizeti Dos Santos | Marcus Vieira | Mauricio Nuno Santos | Maurício Gioachini | Odair de Abreu Lima | Pedro Fortunato | Rafael Wambier Dos Santos | Regina Laura Pinheiro | Ricardo Cunha | Sergio Luis Anaga | Silvia Gomes de Lima | Thiago Cardim | Tiago Andrade | Victor Adriel | Victor Jose Camara | Vinicius Valter de Lemos | Walter Armellei Junior | Williams Ricardo Almeida de Oliveira | Yria Freitas Tandel |
Como dica final fica a coletânea "What’s Your 20? Essential Tracks 1994-2014", lançada em formato duplo no ano de 2014. Como o próprio título deixa claro, trata-se de uma compilação trazendo duas dezenas de canções que repassam os primeiros vinte anos da carreira da banda. Nunca ouviu Wilco? Também dá pra começar por aqui.
A banda retornará ao Brasil no final do ano após mais de uma década, para se apresentar no Popload Festival, que acontece no dia 8 de outubro em São Paulo. Até lá, vale revisitar ou ter o primeiro contato com a discografia do grupo, que é sensacional. Ainda que esteja ligada equivocadamente ao cenário indie em nosso país, o Wilco vai muito além e é muito maior que o mundo hipster, e possui um trabalho sólido que vale muito a pena ser conhecido por quem ama a música.
Experimente, você vai curtir!
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



Internautas protestam contra preços de ingressos para show do AC/DC no Brasil
Os três clássicos do Iron Maiden que foram "copiados" do Michael Schenker Group
Os três melhores guitarristas base de todos os tempos, segundo Dave Mustaine
Como James Hetfield, do Metallica, ajudou a mudar a história do Faith No More
A banda que não ficou gigante porque era "inglesa demais", segundo Regis Tadeu
A melhor banda de metal de todos os tempos, segundo Scott Ian do Anthrax
O álbum que rachou o Deep Purple: "O Jon gostou da ideia, mas o Ritchie não"
A única música do "Somewhere in Time" do Iron Maiden que não usa sintetizadores
Os dois solos que, para Ritchie Blackmore, inauguraram a "guitarra elétrica inglesa"
West Ham une forças ao Iron Maiden e lança camiseta comemorativa
Slash dá a sua versão para o que causou o "racha" entre ele e Axl Rose nos anos noventa
O "detalhe" da COP30 que fez Paul McCartney escrever carta criticando o evento no Brasil
Os 10 melhores álbuns do DSBM em uma lista para checar sua saúde mental
A maior lenda do rock de todos os tempos, segundo Geezer Butler do Black Sabbath
A categórica opinião de Kiko Loureiro sobre Slash
Chris Cornell: Alguns fatos sobre o músico que nem todos conhecem
Youtuber expõe miséria que Spotify repassa a bandas de metal brasileiro


Alcest - Discografia comentada
Eles abriram caminho para bandas como o Guns N' Roses, mas muita gente nunca ouviu falar deles
Iron Maiden: a tragédia pessoal do baterista Clive Burr
Lista: 12 músicas que você provavelmente não sabe que são covers

