Sepultura: o que aconteceria se Max não tivesse saído em 1996?
 Por Ricardo Seelig
Por Ricardo Seelig
Fonte: Collectors Room
Postado em 20 de fevereiro de 2016
Uma pergunta que até hoje faz parte da maioria dos metalheads brasileiros: o que aconteceria se o Sepultura não tivesse se separado em 1996?
Para responder, é preciso contextualizar o momento que a banda vivia na época. Em 20 de fevereiro de 1996 o Sepultura lançou o seu sexto disco, "Roots", e mergulhou de forma profunda no caminho que havia iniciado três anos antes, com "Chaos A.D." (1993). As batidas primais e a intensificação das influências brasileiras tornaram a música do Sepultura, que sempre foi singular, em algo pra lá de único. A faixa de abertura e primeiro single, "Roots Bloody Roots", deixou meio mundo boquiaberto com a sua sonoridade agressiva, pesada e turbinada por uma batida crua e influenciadíssima pela cultura tupiniquim. Um clássico instantâneo e também apenas a ponta do iceberg, que se revelaria em sua plenitude em composições como "Attitude", "Cut-Throat", "Ratamahatta" e "Breed Apart", que apresentavam uma nova maneira de fazer heavy metal.
 
"Roots" foi aclamado pela crítica. Os ritmos e andamentos incomuns ao metal foram saudados como uma grande inovação. Veículos tradicionais e fora da mídia especializada no gênero, como o jornal norte-americano Los Angeles Times, saudaram o álbum com frases de efeito como "a mistura entre o metal denso e pesado do Sepultura e a música brasileira criou um efeito intoxicante". O The Dailiy News declarou que "o Sepultura reinventou a roda em Roots. Misturando o metal a instrumentos nativos de seu país, a banda ressuscitou um gênero que apresenta sinais de cansaço, relembrando o que o Led Zeppelin fez ao rock. Mas enquanto o Led uniou o rock inglês a batidas africanas, o banda brasileira utilizou elementos do seu próprio país. Buscando inspiração no passado, o Sepultura mostrou o caminho que o metal deve seguir no futuro".
 
No jornalismo especializado, a aclamação foi semelhante. O renomado escritor canadense Martin Popoff colocou "Roots" na décima-primeira posição em sua lista com os melhores discos de metal de todos os tempos, presente no livro "The Collector’s Guide to Heavy Metal". Nas palavras de Popoff, "Roots é um espetacular álbum de metal e hardcore futurista, uma obra-prima, concebido por uma banda com um coração enorme e uma inteligência ainda maior". A revista inglesa Kerrang! colocou "Roots" na segunda posição em sua lista Os 100 Discos que Você Precisa Ouvir Antes de Morrer, atrás apenas de "In Útero", do Nirvana. A Q Magazine incluiu "Roots" em sua lista Os 50 Álbuns Mais Pesados de Todos os Tempos. A Rolling Stone Brasil colocou o álbum na posição 57 em sua lista com os melhores discos brasileiros já feitos.
 
O sucesso de crítica se repetiu também com o público. "Roots" alcançou a posição número 27 na Billboard e ficou em quarto lugar na parada britânica. O disco vendeu muito em todo o mundo, alcançando a marca de 500 mil cópias nos Estados Unidos em 2005, 100 mil na França em 1997 e 100 mil na Inglaterra em 2001.
O Sepultura estava no topo do mundo com "Roots", subindo com velocidade e não dando sinais de que iria parar. A criatividade da banda e as composições de Max Cavalera - dez das dezesseis faixas eram assinadas pelo vocalista - jogaram todos os holofotes do mundo para o grupo. A influência de "Roots" foi sentida de forma profunda no groove metal e no ainda nascente nu metal, tornando o disco referência para ambos os estilos. No entanto, não ficou restrita a eles. Outros gêneros como o thrash, o death e até mesmo o black metal foram influenciados pela música da banda, e isso ficou claro com o passar dos anos. "Roots" influenciou o metal como um todo.
 
Com um público cada vez mais crescente, fazendo shows em todo o planeta e recebendo elogios de músicos que antes eram ídolos, como Ozzy Osbourne, o Sepultura acabou se despedaçando quando o trio Andres Kisser, Paulo Jr. e Igor Cavalera, insatisfeito com o trabalho da empresária Gloria Cavalera, esposa de Max, tomou a decisão de demitir a americana do cargo, alegando que ela dava mais destaque para o vocalista do que para os demais integrantes. Um caso clássico de ciúmes puro e simples, intensificado pelas esposas dos músicos, como ficou claro anos mais tarde. Max, que no período atravessava uma fase complicada devido à morte de Dana Wells, seu enteado e filho de Gloria, ficou enraivecido com o trio e decidiu deixar o grupo, formando o Soulfly em 1997.
 
Mas e se nada disso tivesse ocorrido e a banda continuasse junto, o que teria acontecido? Até onde o Sepultura poderia ter chegado? É correto supor que, com o sucesso alcançado pelo caminho iniciado em "Chaos A.D." e aprofundado em "Roots", a banda intensificaria as experiências com sons e batidas tribais brasileiras, gravando mais alguns discos nessa linha. Foi o que Max, o principal compositor do grupo, fez nos três primeiros álbuns do Soulfly - "Soulfly" (1998), "Primitive" (2000) e "3" (2002). Com a presença dos demais integrantes, as ideias de Max ao invés de virem ao mundo como vieram nesses discos, teriam o toque pessoal da guitarra de Kisser e das batidas sem igual de Igor, criando algo que certamente seria único e diferente de tudo o que estava sendo feito na época. A criatividade crescente do grupo, incentivada pela aceitação crítica e popular de sua música, daria segurança para a banda criar mais dois ou três discos nessa linha, explorando até o limite o caminho que estavam seguindo nos dos últimos discos com Max e tornando-se um dos maiores nomes do metal em todo o planeta.
 
Não é exagero - pelo contrário, soa bastante plausível - supor que o Sepultura teria gravado, ainda durante a década de 1990, um disco que poderia ser classificado como uma espécie de "seu Black Album", onde tornaria a já azeitada união de elementos distintos ouvida em "Chaos A.D." e "Roots" ainda mais audível para o grande público. Isso faria a banda estourar de vez em todo o planeta, transformando o grupo em um dos mais populares do metal na década, rivalizando inclusive com Metallica e outros gigantes do período - fato que, na época de "Roots", não estava tão distante assim de acontecer. Se já era possível visitar o interior do País de Gales e encontrar uma pequena ponte com o nome da banda pichado - como relatado por Herbert Viana em uma entrevista -, esse hipotético "Black Álbum" dos mineiros faria com que Max e companhia se transformassem em alguns dos músicos mais conhecidos da época. A relação próximo que o quarteto possuía com nomes como Ozzy e outras lendas tornaria esse caminho ainda mais fácil.
 
É provável que, com a chegada da década de 2000 e o crescimento gradual da demanda por rock clássico e o retorno de bandas veteranas, o Sepultura, que já havia ido até onde poderia ir com os seus experimentos étnicos, fizesse um retorno gradual ao death e thrash de álbuns como "Beneath the Remains" (1989) e "Arise" (1991), criando uma música que traria elementos destes dois gêneros somada à características dos demais estilos que o grupo explorou durante a década de 1990, como o groove, o nu metal e o toque brasileiro sempre presente. Isso consolidaria uma sonoridade que, além de extremamente particular, também seria muito popular entre os fãs e bastante influente.
Já maduros, rodados e experientes, os integrantes do Sepultura - que manteria a sua formação clássica - possuiriam status de verdadeiros ícones e lendas da música em todo o planeta, algo semelhante ao que é atribuído a nomes como James Hetfield e Dimebag Darrell, por exemplo. Com reconhecimento e estabilidade, a banda seguiria gravando grandes álbuns, intensificando, com a idade, os aspectos extremos de sua música.
 
A conclusão é que, caso não tivesse se separado, o Sepultura seguiria crescendo e seria uma das maiores bandas de metal de todos os tempos - algo que realmente é, mas em escala muito maior. Popular, influente e original ao extremo, o quarteto mineiro possuiria a força de um Slayer mesclada a popularidade de um Metallica, e se tornaria um dos maiores nomes da história do metal, em todos os sentidos.
Uma pena que o vôo foi abortado logo depois da decolagem e o destino jamais foi revelado.
 
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps












 O disco de reggae que Nando Reis tem seis exemplares; "Quase como se fossem sagrados"
O disco de reggae que Nando Reis tem seis exemplares; "Quase como se fossem sagrados" O artista que Roger Waters diz ter mudado o rock, mas alguns torcem o nariz
O artista que Roger Waters diz ter mudado o rock, mas alguns torcem o nariz Os 50 melhores discos da história do thrash, segundo a Metal Hammer
Os 50 melhores discos da história do thrash, segundo a Metal Hammer Tecladista anuncia que o Faith No More não volta mais
Tecladista anuncia que o Faith No More não volta mais Valores dos ingressos para último show do Megadeth no Brasil são divulgados; confira
Valores dos ingressos para último show do Megadeth no Brasil são divulgados; confira Produtor brasileiro que vive nos EUA critica novo tributo a Andre Matos
Produtor brasileiro que vive nos EUA critica novo tributo a Andre Matos Rick Rubin elege o maior guitarrista de todos os tempos; "ele encontrou uma nova linguagem"
Rick Rubin elege o maior guitarrista de todos os tempos; "ele encontrou uma nova linguagem" Dave Mustaine confirma que regravou "Ride the Lightning" em homenagem ao Metallica
Dave Mustaine confirma que regravou "Ride the Lightning" em homenagem ao Metallica Os 16 vocalistas mais icônicos da história do rock, segundo o The Metalverse
Os 16 vocalistas mais icônicos da história do rock, segundo o The Metalverse A canção do Genesis que a banda evitava tocar ao vivo, de acordo com Phil Collins
A canção do Genesis que a banda evitava tocar ao vivo, de acordo com Phil Collins A música que Paul McCartney não toca ao vivo por ter sido "deturpada" em sua ideia original
A música que Paul McCartney não toca ao vivo por ter sido "deturpada" em sua ideia original Festival Sonic Temple anuncia 140 shows em 5 palcos para 2026
Festival Sonic Temple anuncia 140 shows em 5 palcos para 2026 System of a Down está no melhor momento da carreira, diz Serj Tankian
System of a Down está no melhor momento da carreira, diz Serj Tankian A pior música do melhor disco do Iron Maiden, segundo o Heavy Consequence
A pior música do melhor disco do Iron Maiden, segundo o Heavy Consequence






 Como "Welcome To The Jungle", do Guns N' Roses, soaria se gravada pelo Sepultura?
Como "Welcome To The Jungle", do Guns N' Roses, soaria se gravada pelo Sepultura? 30 bandas de thrash metal do mundo todo em 1 vídeo
30 bandas de thrash metal do mundo todo em 1 vídeo Janela de transferências do metal: A epopeia do Trivium em busca de um novo baterista
Janela de transferências do metal: A epopeia do Trivium em busca de um novo baterista Trivium agradece Greyson Nekrutman e anuncia novo baterista
Trivium agradece Greyson Nekrutman e anuncia novo baterista O melhor disco do Sepultura, segundo a Metal Hammer
O melhor disco do Sepultura, segundo a Metal Hammer O álbum brasileiro que é "a maior gravação de metal" de todos os tempos para Dave Grohl
O álbum brasileiro que é "a maior gravação de metal" de todos os tempos para Dave Grohl O pior disco do Sepultura, segundo a Metal Hammer
O pior disco do Sepultura, segundo a Metal Hammer A banda que ajudou a salvar a carreira (e a vida) de Max Cavalera
A banda que ajudou a salvar a carreira (e a vida) de Max Cavalera Pattie Boyd: o infernal triângulo com George Harrison e Eric Clapton
Pattie Boyd: o infernal triângulo com George Harrison e Eric Clapton Black Sabbath: os vocalistas misteriosos da banda
Black Sabbath: os vocalistas misteriosos da banda



)