Produtores: Grandes nomes da produção de discos
Por Vitor Bemvindo
Fonte: Mofodeu
Postado em 16 de fevereiro de 2010
Ouvir um disco e não dar importância ao seu produtor é o mesmo que ver um filme e achar que os atores são os elementos mais importantes. Ao contrário do que possa parecer, o produtor de disco não tem um papel meramente técnico. Ele é responsável por colocar as idéias do artista para funcionar e tem um papel fundamental no processo criativo dos álbuns. É claro que os artistas não são meramente atores num álbum. Eles têm papel análogo ao de um roteirista em um filme, ou seja, eles criam a conceito principal que será dirigido pelo produtor.
(Publicado originalmente no MOFOBlog)
Nos anos 1960 e 1970 alguns produtores passaram a ter um grande destaque devido o sua importância no processo criativo de álbuns que acabaram tornando-se clássicos. O exemplo maior disso é o de George Martin, tido como o quinto beatle. Sem o trabalho do seu produtor, os BEATLES dificilmente conseguiriam alcançar os resultados pretendidos em álbuns como "Revolver", "Sgt. Pepper's Lonely Heart Club Band" ou "Abbey Road".
Martin conseguia traduzir tecnicamente todas as viagens lisérgicas dos Beatles, para composições concretas que se tornariam históricas. Isso se deve também a formação clássica de Martin como músico e arranjador. O papel dele era muito maior do que simplesmente orientar as gravações dos álbuns, ele tinha um papel criativo na banda e sempre foi valorizado por isso.
Com o fim dos Beatles, Martin continuou produzindo álbuns com a mesma maestria. Ele foi responsável, por exemplo, pela produção do excelente "Apocalipse" (1974), da MAHAVISHNU ORCHESTRA; pelos aclamados discos do AMERICA entre 1974 e 1979; pelo disco solo de estréia de RINGO STARR, "Sentimental Journey" (1970); e pelos elogiados álbuns de JEFF BECK, "Blow by Blow" (1975) e "Wired" (1976).
Martin se dedicou também à produção de trilha sonoras para filmes, em especial para a série de películas de James Bond. Primeiramente ele compôs e fez o arranjo de alguns temas para "Moscou contra 007" (1963) e "007 contra Goldfinger" (1964). Mais tarde, ele seria responsável pela trilha completa de "007 – Viva e Deixe Morrer" (1973), sendo produtor também da faixa "Live and Let Die", executada por PAUL McCARTNEY e os WINGS. Já nos anos 1980, George Martin produziu discos dos Wings, do UFO, LITTLE RIVER BAND, entre muitos outros.
Mas o que poucos sabem é que a relação entre os Beatles e Martin esteve arranhada entre 1968 e 1969. Martin era muito ligado a Paul McCartney e havia uma clara dissensão entre o baixista e os demais beatles. Houve grande desgaste durante a gravação de "Get Back" (que viria a ser lançado como "Let It Be"), e as sessões foram abandonadas. No final de 1969, por motivos contratuais os BEATLES foram obrigados a lançar o álbum, mas já não havia nenhum interesse em reunir a banda para mexer naquele material.
Por conta própria, John Lennon entregou o material de "Let It Be" para o produtor Phil Spector, com quem já havia trabalhado em seu álbum solo "Instant Karma". Apesar de Martin ter trabalhado com os BEATLES nas sessões de gravação do álbum, a produção final do álbum ficou a cargo de Spector, que recheou o disco de overdubs, orquestrações sem sentido e tudo que pudesse disfarçar a displicência com que as gravações foram feitas.
O disco foi bem recebido pela crítica e acabou alavancando a carreira de Phil Spector, que já havia trabalhado anteriormente no disco "River Deep – High Mountain" (1966) de IKA & TINA TURNER e alguns álbuns das THE RONETTES. Depois de "Let It Be", ele ficaria encarregado pela co-produção de boa parte dos álbuns dos ex-beatles John Lennon e George Harrison. No final dos anos 1970, a carreira de Spector vai se escondendo atrás de suas extravagâncias e atitudes anti-sociais. Depois de produzir "End of the Century" (1980), dos RAMONES, Spector passa a aparecer mais nas páginas policiais do que nas de cultura. Em 2003, após trabalhar com Celine Dion, Spector se viu envolvido no assassinato da modelo Lana Clarkson, sendo condenado. Desde 2008, ele cumpre sentença no mesmo presídio em Charles Manson está preso.
Mas diferente de Spector, que sempre gostou dos holofotes, a maioria dos produtores dificilmente aparecem. É o caso de Martin Birch, por exemplo, que se tornou um dos magos da produção de discos de hard rock e heavy metal, sem praticamente sair nunca do estúdio. Birch começou sua carreira como engenheiro de som de álbuns do FLEETWOOD MAC, DEEP PURPLE e WISHBONE ASH. A partir de meados dos anos 1970, ele passou a produzir os discos do Deep Purple, como "Stormbringer" (1974) e "Come Taste the Band" (1975).
Com a saída de Ritchie Blackmore do DEEP PURPLE, Martin Birch passou a produzir, ao mesmo tempo, a antiga e a nova banda (RAINBOW) do homem de preto. Ele foi responsável pela produção de todos os discos da banda com Ronnie James Dio nos vocais ("Ritchie Blackmore's Rainbow" (1975), "Rising" (1976), "On Stage" (1977) e "Long Live Rock 'n' Roll" (1978)).
Todos esses trabalhos colocaram Birch na linha de frente da produção de álbuns no fim dos anos 1970. A partir daí ele produziria todos os discos do WHITESNAKE entre 1978 e 1984, os do BLACK SABBATH (mais uma vez com Ronnie James Dio) "Heaven and Hell" (1980) e "The Mob Rules" (1981), além dos trabalhos do BLUES OYSTER CULT deste mesmo período.
Mas foi com o IRON MAIDEN que Birch se tornou ainda mais conceituado, tornando-se a maior referência do heavy metal britânico, quando produziu todos os álbuns da banda entre 1981 e 1992. Após produzir "Fear of The Dark", Martin Birch decidiu se aposentar, deixando um legado de grandes produções.
Além do talento, Birch era conhecido pelo bom humor e bom relacionamento com os músicos. Isso fica evidenciado quando mesmo com bandas separadas, ele segue trabalhando com todos os músicos, como no caso do DEEP PURPLE e o RAINBOW. No começo da carreira, ele já foi homenageado pelo Purple com a faixa "Hard Lovin' Man". Nos discos do IRON MAIDEN, ele era sempre "homenageado" com um apelido nos créditos dos discos, como Martin "Farmer" Birch (em "Number of The Beast"), Martin "Marvin" Birch (em "Peace of Mind"), Martin "Pool Bully" Birch (em "Powerslave"), etc.
Quando se fala em hard rock setentista, não se pode esquecer de Bob Ezrin, que também ficou conhecido belo bom relacionamento com as bandas. Ele iniciou sua trajetória com ALICE COOPER, produzindo todos os discos do artista entre 1971 e 1977, sendo responsável por clássicos como "Killer" (1971), "School's Out" (1972), "Billion Dollar Babies" (1973), "Welcome to My Nightmare" (1975). Com Alice Cooper, Erzin era parceiro em várias composições, como "Under my Wheels", "Department of Youth", "Cold Ehtyl", entre muitas outras.
Erzin também ficou encarregado da produção de alguns dos discos do KISS, como o clásssico "Destroyer" (1976) e o controvertido "Music From the Elder" (1981), sendo co-autor de uma das músicas mais famosas do grupo: "Detroit Rock City". Outros clássicos como "Do You Love Me?" e "Shout It Out Loud" também tiveram o dedo de Ezrin como compositor.
[an error occurred while processing this directive]Outro trabalho importantíssimo da carreira de Bob Ezrin foi "The Wall", um dos mais importantes discos da história do Rock e do PINK FLOYD, co-produzido ao lado de Roger Waters e David Gilmour. Nessa obra, Ezrin trouxe sua experiência com Alice Cooper para produzir um álbum conceitual, como já fizera, por exemplo em "Welcome to my Nightmare". Além disso, ele trabalhou na produção de álbuns de artistas como PETER GABRIEL, AEROSMITH, KANSAS, e muitos outros. Atualmente, Ezrin ainda é um dos grandes nomes da produção de discos, estando muito valorizado no mercado fonográfico por produzir bandas atuais como 30 SECONDS TO MARS, THE DARKNESS, DEFTONES, entre outros.
Eddie Kramer é outro peso-pesado na produção de discos. O rapaz começou a carreira trabalhando no "Olympic Sound Studio", um dos mais conceituados de Londres no fim dos anos 1960. Nesse período ele pode atuar como engenheiro de som em álbuns dos ROLLING STONES, SMALL FACES e até mesmo com os Beatles. Ele passa a ser mais conhecido ao trabalhar com JIMI HENDRIX, com quem aprendeu muito.
Em 1968, Kramer se mudou para Nova Iorque, para ajudar no estabelecimento do Electric Lady Studio, de Jimi Hendrix, quando teve a oportunidade de trabalhar também com Jimmy Page, então no YARDBIRDS. Essa relação com Page continuou quando nasceu o LED ZEPPELIN e Kramer ficou encarregado pelos trabalhos técnicos em diversos trabalhos do grupo.
O primeiro trabalho de Kramer como produtor foi em 1970, no lançamento do primeiro álbum póstumo de Jimi Hendrix: "The Cry of Love". Nesse mesmo ano ele passa a ser o diretor do Electric Ladyland Studios, e fica encarregado da produção de discos de diversos artistas (DAVID BOWIE, SHA NA NA, SPOOKY TOOTH, PETER FRAMPTON, etc), até 1974.
Em meados da década de 1970, Kramer se une ao Kiss, na produção dos "Alives" (I, de 1975, e II, de 1977). Nesse período ele estabeleceu uma grande amizade com Ace Frehley, passando a produzir a maior parte de seus trabalhos. O sucesso na produção dos discos ao vivo do Kiss, rendeu um convite para trabalhar em "Frampton Comes Alive", um dos álbuns ao vivo mais bem-sucedidos da história.
[an error occurred while processing this directive]Atualmente Kramer se dedica a produção de vídeos ligados à música e exposição de fotografias, tornando-se um produtor cultural no sentido mais amplo. Um dos seus últimos trabalhos como produtor de discos foi em 2007, com o LEZ ZEPPELIN, banda tributo ao Led Zeppelin, formada apenas por mulheres. Recentemente ele produziu o disco "Avatar", da banda THE EVERYBODY.
Da mesma geração de Kramer, menos conhecido, mas não menos talentosos, é Jimmy Miller. Apesar de ser nova-iorquino, a carreira de Miller sempre esteve ligada a bandas britânicas. Seus primeiros trabalhos foram com o THE SPENCER DAVIS GROUP, quando estabeleceu uma relação muito produtiva com Steve Winwood, com quem compôs "I'm a Man". Graças a essa amizade, Miller acabou trabalhando com Winwood em seus outros grupos, produzindo álbuns do TRAFFIC e BLIND FAITH (que contava também com Ginger Baker e Eric Clapton).
A qualidade desses trabalhos alavancou a carreira de Miller, que logo começou a receber convites. Após ter trabalhado com Clapton no Blind Faith, ele seria engenheiro de som em outros trabalhos do guitarrista, como com o DEREK AND THE DOMINOS e mais tarde em alguns dos seus trabalhos solos.
Mas o auge da carreira de Miller veio em finais dos anos 1960, quando ele passou a trabalhar com os ROLLING STONES em seus mais aclamados discos como "Beggars Banquet" (1968), "Let It Bleed" (1969), "Sticky Fingers" (1971) e "Exile on Mean St." (1972). Ele seria responsável por ajudar os Stones a se livrar da fama ruim que a banda trazia após o fracasso de "Their Satanic Majesties Request" (1967) e das produções frustradas do "Rock and Roll Circus" (1968) e do Altamont Free Concert (1969). Além disso, o produtor era responsável por tocar percussão em várias faixas dos discos da banda, como por exemplo em "Honky Tonk Woman", na qual ele toca cowbell. Ele chegou até mesmo a substituir Chalie Watts, tocando bateria em faixas como "You Can't Always Get What You Want", "Happy" e "Shine a Light".
O sucesso dos quatro primeiros álbuns dos Stones produzidos por Jimmy Miller, não foram suficiente para manter a parceria entre a banda e o produtor, após o fracasso de "Goats Head Soup" (1973), que não conseguiu manter o nível dos trabalhos anteriores. Com isso, a banda resolveu trocar de produtor, e Miller passou a trabalhar menos. Ele viria a falecer em 1994, mas antes trabalhou com bandas como THE PLASMATICS e MOTORHEAD.
Apesar do papel fundamental do produtor de álbuns, alguns artistas resolvem dispensá-los para tentar deixar trabalho o mais autoral possível. Dois grandes músicos podem ser destacados também como grandes produtores: Jimmy Page (YARDBIRDS, LED ZEPPELIN) e Roger Waters (PINK FLOYD).
Jimmy Page começou sua carreira como músico de estúdio. Talvez por isso tivesse tanto fascínio pelo trabalho de produção musical. Já no YARDBIRDS, ele sempre se metia na produção dos álbuns, apesar de nunca ter sido creditado em nenhum deles. Com a criação do LED ZEPPELIN, Jimmy Page viu, finalmente, a grande oportunidade de tomar conta de todo processo criativo em torno à produção dos álbuns.
Page produziu todos os trabalhos da banda e fazia questão de sempre trocar o engenheiro de som de um disco para o outro, para deixar claro que o responsável pela produção era ele. Mesmo assim, o seu principal parceiro nas produções dos álbuns, foi o já citado Eddie Kramer.
Algumas inovações no que se diz respeito à produção de álbuns são creditadas a Jimmy Page, principalmente no que se refere ao posicionamento de microfones em frente aos amplificadores de guitarra e baixo. Ele era extremamente detalhista quanto à distância e angulação dos microfones na captação do som das guitarras. O interessante é que Page preferia utilizar amplificadores pequenos, dando mais intensidade ao som exatamente com a microfonização.
Os detalhes também eram uma obsessão de Roger Waters na produção dos discos do PINK FLOYD. A primeira aventura de Waters como produtor foi em "Ummagumma" (1969), quando ele dividiu a produção do disco com seus companheiros de banda e Norman Smith. A partir daí, Roger Waters passa a assumir todas as produções, apesar de sempre creditar nos encartes a todos os companheiros.
O auge desse trabalho foi em "Dark Side of the Moon" (1973), quando ele foi responsável não só por quase toda a composição do álbum, mas também pelas inovações de introdução de sons inusitados nas gravações. Foi da cabeça dele que surgiu as idéias de introduzir sons de relógios e despertadores em "Time", e de moedas caindo e de caixas registradores em "Money". Esse tipo de trabalho passaria a ser marca registrada de Waters, que produziu também os seus discos solo, após sua saída do Floyd.
Entre outros nomes da produção de álbum estão: Jerry Wexler (RAY CHARLES, THE ALLMAN BROTHERS BAND, LED ZEPPELIN, BOB DYLAN), Chris Thomas (PINK FLOYD, PROCOL HARUM, ROXY MUSIC, BADFINGER, SEX PISTOLS), dentre muito outros que acabaram ficando de fora desse artigo.
Para conhecer o trabalho desses produtores, ouça o MOFODEU #080, clicando no link abaixo:
Você pode ler esse e muitos outros artigos sobre a História do Rock no MOFOBlog (www.mofodeu.com/mofoblog).
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