Posies
Por Alexandre Luzardo
Postado em 25 de junho de 2006
Originalmente publicada no site Dying Days
O Posies, formado em Seattle em 1987, esteve na ativa durante toda a década de 90 e escapou ileso da super-exposição do grunge. Mas por outro lado, jamais atingiu um grande sucesso comercial e acabou solenemente e injustamente ignorado. Seus dois líderes, Jon Auer e Ken Stringfellow são excelentes músicos e compositores e os álbuns da banda, devidamente aclamados pela crítica e esquecidos pelo público, são itens indispensáveis para os seguidores do power pop. Explica-se, o Posies é mais uma das bandas fortemente influenciadas pelo Big Star, revolucionária e influente banda dos anos 70 conhecida por melodias simples mas muito bem trabalhadas, de inegável apelo pop e pegada rock n'roll, o tal power pop. Nos anos 90, surgiu uma verdadeira legião de bandas influenciadas diretamente pelo som do Big Star, capitaneadas principalmente pelo Teenage Fanclub, Redd Kross e o Posies.
Jonathan Auer e Kenneth Stringfellow se conheceram nos tempos de escola primária, na cidade de Bellington (estado de Washington), e desde então os dois vêm tocando juntos. Ao longo dos anos, as influências foram se definindo e o estilo de tocar e compor foi aos poucos sendo refinados. A formação do Posies propriamente dito só ocorreu quando Jon e Ken gravaram uma fita demo, tocando todos os instrumentos, no porão da casa dos pais de Jon em 1989. Eles fizeram várias cópias da fita (foi quando batizaram a "banda" como The Posies) e uma delas chegou até a gravadora PopLlama. A PopLlama se empolgou tanto com a fita que assinou com a banda, re-lançando a demo como o primeiro disco da banda, intitulado "Failure". Logo em seguida, a formação do Posies ficou completa com a entrada de Rick Roberts no baixo e Mike Musburger na bateria. Rick tinha a idéia de formar a sua própria banda com Mike na bateria quando conheceu o pessoal do Posies, que na época eram dois guitarristas precisando completar a banda.
A repercussão de "Failure" esteve longe de ser um fracasso. A banda não chegou a fazer uma turnê, mas excursionou algumas vezes para a California, enquanto o disco repercutia favoravelmente em fazines e pequenas revistas de música. O disco agradou bastante na região de Seattle, especialmente no embalo do single "I may hate you sometimes". As coisas continuavam dando certo quando surgiu o interesse da gravadora SBK (uma das grandes, ligadas ao grupo EMI) em assinar o grupo. Quando uma gravadora se interessa, rapidamente começa um verdadeiro leilão e em pouco tempo, Warner e PolyGram, entre outras negociavam com o Posies. O último a chegar, Gery Gersh da Geffen Records, procurou a banda e disse: "Vocês gostariam de fazer discos para uma gravadora de verdade?" Eles ficaram impressionados com a audácia de Gersh (sim, o mesmo que assinou com o Nirvana), ao mesmo tempo em que ficaram entusiasmados pela Geffen ser a gravadora do XTC (outra influência do Posies) por muitos anos, mesmo tendo o XTC uma vendagem bastante baixa. Negócio fechado e o Posies era da Geffen, que na mesma época abriu um novo selo, DGC, dedicado a bandas novas. Os primeiros artistas contratados para o novo selo foram o Sonic Youth, Jon Doe (da banda X) e o Posies.
Poucos meses depois ficava pronto o álbum "Dear 23", as músicas estavam todas compostas bem antes da banda assinar com a gravadora. "Dear 23", lançado em setembro de 1990, expandia consideravelmente o som da banda, contando com excelentes composições e uma produção muito bem cuidada. O disco contou com a produção da própria banda em parceria com John Leckie, que já havia trabalhado com o Stone Roses. Toda a obsessão e o cuidado por detalhes e harmonias que não eram possíveis durante as gravações caseiras do "Failure" davam o tom de "Dear 23" que foi imediatamente aplaudido pelos críticos. "Golden Blunders" e "Suddenly Mary" chegaram a tocar em rádio e a banda fez uma turnê por todo os Estados Unidos, enquanto o disco vendia razoavelmente bem.
Até que, a partir de 1991, a instabilidade se instalou entre os integrantes do Posies. O baixista Rick Roberts foi o primeiro a sair. Desde o começo, Rick pretendia ter a sua própria banda, e a medida que ele tentava se adaptar ao Posies, surgiam conflitos com os "ditadores" Jon e Ken. O material que ele compunha não se encaixava na proposta da banda, ou soava forçado. "Não precisávamos de um terceiro compositor", confessa Ken.
Na emergência, o Posies chamou o baixista Joe "Bass" Howard, que tocou por alguns meses durante 1992. Mas na época, Howard tocava na banda Sky Cries Mary e não tinha a intenção de sair, e mais uma vez o Posies ficou sem um baixista. Até que encontraram Dave Fox, que tocava no Flop, também de Seattle. Finalmente a banda estava pronta para gravar seu segundo disco, que viria a ser "Frosting on the Beater", que acabou lançado em abril de 1993.
"Frosting on the Beater" foi produzido por Don Fleming, um expert responsável pela produção de discos como "Sweet Oblivion" do Screaming Trees e "Bandwagonesque" do Teenage Fanclub. Mais uma vez, o Posies foi elogiadíssimo pelos críticos e obteve alguma rotação nas rádios, com os singles, principalmente com "Dream All Day" e "Solar Sister". No novo disco, os temas explorados nas músicas ficaram mais obscuros e o som ficou notadamente mais pesado.
Chegou a se especular que a mudança no som da banda tinha a intenção de fazer com o Posies se adaptasse a explosão do "som de Seattle" ao que Ken Stringfellow uma vez respondeu: "Nós teríamos feito algo muito mais ridículo se nós estivéssemos tentando fazer 'grunge'. De certa forma, nós não estamos atentos ao que está acontecendo. Quando eu escuto um disco, eu não fico pensando se é popular. Eu acho o Red Red Meat e R.E.M. igualmente populares, embora saiba que o R.E.M. vende muito mais discos. Eu não sei se reajo ao que é popular".
De qualquer forma, "Frosting on the Beater" não teve o sucesso esperado, e o fato é que o peso e as distorções não anularam a principal característica do som do Posies, o gosto e o cuidado pelas melodias.
Em pouco tempo ocorreram mais mudanças na formação da banda. O baixista Dave Fox não vinha agradando e foi substituído por novamente por Joe Bass. E Mike Musburger, depois de uma discussão feia com Ken, também deixa a banda. A banda chamou o baterista Brian Young para completar a formação e trabalhar no próximo disco, mas um evento muito importante iria acontecer nesse meio tempo.
Em uma história que já se tornou célebre, 20 anos depois do fim da banda, o Big Star, ídolos maiores do Posies, voltaram a ativa. Tudo surgiu pela iniciativa de dois DJ's de uma rádio do estado de Missouri (a saber, a rádio KCOU da Universidade de Missouri), que estavam organizando um pequeno festival. Um dos DJ, Mike Mulvihil telefonou para Jody Stephens, o baterista original do Big Star, com a proposta de fazer um show. Jody concordou, a menos que Alex Chilton (o vocalista e líder da banda) também topasse (o que ele admitiu mais tarde que duvidava que acontecesse). Só que, para surpresa de todos, Alex concordou. O problema é que os demais integrantes do Big Star (originalmente um quarteto), não estavam disponíveis. Andy Hummel, baixista original, seguia carreira na área aeronáutica enquanto o guitarrista Chris Bell falecera há alguns anos.
Com as duas vagas em abertas, começaram as especulações sobre quem seriam os convidados. O pessoal da rádio queria chamar nomes conhecidos, Mike Mills do R.E.M. e Paul Westerberg dos Replacements foram cotados, mas entre indefinições de agenda e incompatibilidade de datas, surgiu o nome de Ken Stringfellow. Jody Stephen, o baterista original, já conhecia o trabalho do Posies, inclusive havia ficado impressionado com os covers do Big Star gravados pelo Posies, "Feel" e "I Am the Cosmos". E foi Gery Gersh da Geffen que introduziu Jody à dupla do Posies. Com um pouco de lobby (Ken só aceitaria tocar se Jon também participasse), estava definida a formação da reunião do Big Star, contendo metade do Posies na formação. O que inicialmente seria apenas um show (Jody e Alex Chilton haviam concordado inicialmente em tocar em troca apenas por passagens), começou a tomar proporções maiores. Bud Scoppa, amigo de Jody e um dos diretores da gravadora Zoo sugeriu que fosse registrado um álbum daquele show.
E foi então que os lendários Alex Chilton e Jody Stephens passaram a voar regularmente para Seattle para ensaiar com Jon e Ken do Posies, que tiveram a chance de trabalhar com seus ídolos. O show aconteceu e a química da banda foi perfeita, o álbum, "Columbia: Live at Missouri's University" foi lançado em seguida.
E, desde então, regularmente a banda tem se reunido para shows esporádicos, já tendo tocado em grandes festivais na Inglaterra e na Espanha, e feito diversos shows em cidades americanas e em outros países como Holanda e Japão. Em entrevistas, Jody e Alex já se referem aos dois Posies como membros da banda, não há como o Big Star existir sem a presença dos dois, o que com certeza é motivo de orgulho para eles.
Mantendo a presença no Big Star como um projeto paralelo "de luxo" (não pela grana, diga-se de passagem), o Posies seguia firme e chegava ao seu quarto álbum com "Amazing Disgrace", em 1996. Com produção de Nick Launey, "Amazing Disgrace" tinha guitarras ainda mais estridentes e marcantes que no álbum anterior. Grandes músicas como "Song #1", "Grant Hart" e "The Certainty" estão entre as melhores da banda, embora seja um trabalho difícil bater o nível alcançado nos dois álbuns anteriores. Aliás, não é tarefa fácil determinar qual o álbum definitivo da carreira do Posies, a maioria dos fãs são de opiniões dividas.
A repercussão de "Amazing Disgrace" também seguiu o usual, um grande incentivo da crítica e baixa vendagem. 1996 não foi um ano fácil para o rock alternativo, grandes bandas vinham em queda nas vendagens. Sem esperanças de que o mercado um dia se abrisse ao Posies, a Geffen acabou dispensando a banda, logo após o (pouco) trabalho de divulgação de "Amazing Disgrace".
Circulavam fortes boatos de que o final do Posies estava próximo em função das tensões entre os demais integrantes e as crescentes atividades paralelas de Jon Auer e Ken Stringfellow eram motivos mais do que determinantes. E o Posies chegou efetivamente a se separar, mas surpreendeu a todos depois ao anunciar que haviam assinado com a gravadora Popllama para lançar seu último álbum. Era uma maneira de por ponto final a história do jeito que começou, e assim, em 1998 foi lançado "Success", cujo nome é uma alusão ao primeiro álbum que se chamava "Failure". "Success" tinha um som bem mais relaxado que os álbuns anteriores e foi um bom presente aos fãs, uma bonita forma de dizer adeus.
Só que, mais uma vez surpreendendo a todos, não foi o fim da história. Em 1999 foi lançado um álbum ao vivo, "Live Before the Iceberg", gravado num show na Espanha durante a turnê de "Success". Em 2000, a Geffen lança a coletânea "Dream All Day: The Best of the Posies" com plena participação de Jon e Ken na escolha das músicas e nos textos do encarte. Após o lançamento da coletânea, o Posies se reúne para uma turnê acústica, apenas com Jon e Ken nos violões. A turnê faz muito sucesso com vários shows lotados e datas adicionais. Para documentar o Posies em turnê acústica, é lançado o disco "In Case You Didn't Feel Like Plugging In". O disco é fiel ao capturar toda a energia dos shows e contém alguns momentos "clássicos" de participação do público. Durante "Solar Sister", uma das mais conhecidas do Posies, dá para ouvir alguém mais empolgado dizer "Yes,Yes,YES". Em "I may hate you sometimes", dá para ouvir alguém cantando a letra errada.
A overdose de lançamentos pós-Posies estava longe de terminar. Em 2001 surge "At Least, At Last", uma box set com 4 CD's e inacreditáveis 66 músicas cobrindo toda a carreira da banda, de 1988 e 1998, recheado de demos, covers e músicas inéditas, uma preciosidade para os fãs.
A banda nunca desmentiu que havia acabado, embora tenha ficado óbvio que o Posies continua a existir, ao menos como um projeto paralelo. Eventualmente Jon e Ken se reúnem para shows, algumas vezes somente com violões, outras com músicos convidados completando a banda. Em 2001, o Posies gravou 4 músicas inéditas e um cover do Byrds em estúdio para um EP que foi lançado ainda naquele ano. "Nice Cheekbones and a PhD" foi o primeiro lançamento de material inédito depois que a banda "acabou" oficialmente. Chegaram a circular boatos do lançamento de um álbum completo de músicas novas, o que até agora não foi confirmado.
Jon Auer tem trabalhado como produtor, músico de estúdio e artista solo após o final do Posies, além de continuar se apresentando ao vivo ao lado de Ken no próprio Posies e no Big Star. No seu currículo de produtor já constam diversas bandas espanholas, onde ele passou algum tempo trabalhando. Seu primeiro álbum solo foi um EP, chamado "The Perfect Size", lançado em 2000 pela Houston Party. Auer também tocou em duas bandas de Seattle depois do Posies. A primeira foi a Lucky Me (que havia tocado como show de abertura na turnê do álbum "Success") e também na banda Jeanjacket Shotgun, onde tocava ao lado do ex-Posies Joe Bass. Em 2001 foi lançado seu segundo EP, "6 1/2", bem como o primeiro trabalho do Jeanjacket Shotgun.
Ken Stringfellow já havia lançado um álbum solo antes mesmo do fim oficial do Posies, "This Sounds Like Goodbye", em 1997 e é provavelmente um dos músicos mais ocupados de Seattle. Ainda antes do final do Posies, ele foi convidado a participar da turnê do álbum "Up" do R.E.M., em 1998 e desde então tem se tornado um membro não oficial da banda, participando das gravações de "Reveal" e todos os show e ensaios desde então.
Outro projeto paralelo importante é o Minus 5, capitaneado por seu colega não oficial do R.E.M Scott McCaughey, além do próprio Peter Buck. Ao final do Posies, Ken formou o Saltline, promissora banda power pop de Seattle que acabou logo após lançar seu primeiro EP. Participou ainda de diversos outras bandas de Seattle, como Twin Princess, Bootsy Holler, the Orange Humble Band, Lagwagon e Chariot. "Touched", seu segundo álbum solo, foi lançado em 2001.
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