Alcest - Discografia comentada
Por Marcelo R.
Postado em 02 de novembro de 2025
A caracterização da música por meio de um conjunto combinado de palavras é tarefa raramente singela. Afinal, definir-se é limitar-se. Quanto ao Alcest, essa meta é inalcançável, diante da profusão particularmente intensa de emoções que emanam de sua intrincada teia musical.
A música do Alcest é sensorial. Essa caracterização, numa simples locução, é um bom ponto de partida – um marco zero, talvez – para começar a rabiscar algumas sílabas sobre um conjunto tão intenso em sua profundidade sentimental.

A experiência contemplativa da música do Alcest conduz a paralelos oníricos. Um teletransporte a mundos etéreos, iluminados por um caleidoscópio de paisagens evocativas de imagens, sentimentos, sensações e emoções.
Lançar-se às espiraladas profundezas da sua música é entregar-se a experiência catártica, envolta com matizes de meditativa imersão, introspecção e intimismo.
Nesse breve pórtico, e apesar da alta carga de abstração, creio que já sintetizei o tripé sobre o qual se apoia a tapeçaria sonora dos franceses. A tríade sensorial, onírica e transcendental talvez não lhe defina completamente – nenhuma palavra escrita o faria –, mas confere noção, de antemão, e com algum grau de precisão, da ambiência musical brotada de suas fontes.
As características citadas compõem precisamente o mosaico de virtudes que mais aprecio no universo das notas. É exatamente o que procuro. O que me toca e me sensibiliza. É, portanto, e num aspecto puramente pessoal, o que me faz sentido.
Não é surpresa, assim, que minha coleção de discos, tão estimada, esteja ilustrada com o catálogo completo de LPs do Alcest.
Estimulado, assim, por esse seleto tesouro pessoal – que me preenche com orgulho e com plena alegria –, idealizei a elaboração deste texto, na forma de discografia comentada. Faço-o para preservar meu envolvimento afetivo com esse extenso material, agora pelas tintas do verbo, já riscados os vinis (aqui, no melhor sentido do termo) pela agulha do meu toca-discos.
Mapearei, brevemente, os lançamentos considerados full-length, acrescentando, ainda, uma análise da compilação Le secret, retrabalhada a partir de um antigo EP homônimo, de 2005.
Decidi incluir esse material – Le secret –, pois, aparentemente, a própria banda dedica-lhe especial importância, tendo repaginado o EP em elogioso relançamento anos depois (em 2011), com otimizadas versões regravadas. Ainda, o tempo de duração desse material, que soma quase 1 hora, confere-lhe status próximo a full-length, o que também me persuadiu a inclui-lo nesta análise.
Por fim, um disclaimer nesse já verborrágico introito: a intenção, aqui, é apenas a de excursionar pelos álbuns, percorrendo-os em voo abrangente. Não, portanto, de incursioná-los.
É dizer: não pretendo destrinchar, minuciosamente, cada material individualmente, com resenhas tão longas quanto inflamadas (embora o ímpeto me empurre nessa direção).
No decorrer desse texto, pretendo apenas sobrevoar panoramicamente pela discografia do Alcest, pincelando características gerais de cada lançamento, transmitindo, assim, uma ideia sobre a respectiva musicalidade, sem preocupação com o esgotamento de detalhes intrínsecos. A experiência auditiva – e inevitavelmente sensorial, no caso do Alcest – caberá exclusivamente ao ouvinte, em sua íntima degustação.
Quanto às lacunas, remeto às características já sintetizadas ao longo desse texto introdutório, parte integrante da análise. Creio que, com essas considerações iniciais, já provi o leitor, com boa noção, com o retrato que espelha a música do Alcest. Ao que resta a acrescentar, salpicarei comentários individuais. E, a partir daquele ponto intangível onde rarefizerem as palavras, sempre escassas, fica o leitor conclamado à audição propriamente dita, cujo convite reforço.
Isso dito, à análise.
Souvenirs d'un autre monde (2007)
Em 2007, Alcest debutou com Souvenirs d'un autre monde.
Abordar trabalho inaugural de tamanha envergadura é tarefa que reclama responsabilidade. Afinal, o ouvinte expõe-se, aqui, a um primor. A uma rara joia musical.

Diretamente ao ponto, em respeito à sucintez prometida: em Souvenirs d'un autre monde, Alcest entrega às mãos e aos tímpanos um convite à imediata imersão pelos pavimentos de toda a sua discografia, tamanha a deslumbrante qualidade do material de estreia.
Em sua carta de apresentação, os franceses entregaram resultado cativante, movido, nessa estreia, com menos apego ao peso. Em diversas passagens, é difícil ou, ao menos, impreciso categorizar Souvenirs d'un autre monde como um álbum exclusivamente de metal. E isso, frise-se, espelha largo elogio.
Embora com produção um pouco mais suja e ruidosa, fruto da incipiência da banda e, consequentemente, dos seus recursos gravação então limitados, Souvenirs d'un autre monde reequilibrou déficits pontuais com composições laureadas com indisputáveis qualidade, criatividade e inspiração.
Em seu aspecto geral, Souvenirs d'un autre monde é luminoso, lustrando a audição tal como um globo espelhado de matizes vivazes.
Distintamente da tendência de vários álbuns que se seguiram, a musicalidade de Souvenirs d'un autre monde protagonizou elementos mais afinados a uma verve romântica e vibrante, evocando sensações de felicidade, espirituosidade e pacificidade, numa espécie de leveza celestial. Em síntese: uma verdadeira viagem transcendental aos paralelos de um mundo onírico, de sublimação angelical.
Solidamente desenvolvido sob as bases dessa sensorialidade, Souvenirs d'un autre monde permanece na posição de álbum particularmente favorito nas fileiras de lançamentos do Alcest. E isso, frise-se, em meio a rígida disputa.
Irretocável!
Écailles de lune (2010)
Embora não lançados em sequência estritamente cronológica, considero primos-irmãos os álbuns Écailles de lune, Les voyages de l'âme e Kodama. Essa majestosa tríade segue estruturas e padrões semelhantes. Precisarei, assim, lançar mão de imaginação e de certa dose de criatividade para analisar esses citados álbuns sem me repetir insossamente nas locuções e ideias.

Destaco, assim, já de partida: o que se declarar, adiante, sobre Écailles de lune servirá igualmente, em grande medida, para os dois outros precitados trabalhos, Les voyages de l'âme e Kodama.
Pois bem. Diversamente de Souvenirs d'un autre monde, que inaugurou a discografia do Alcest de forma lustrosa, com brilhoso sentimento de esperança e de elevação espiritual, Écailles de lune molda-se, em seu aspecto geral, a um estilo um tanto mais obscuro, denso e gélido.
A psicodelia das canções não se assenta, aqui, em aura de multicores vivazes, mas em aspectos de lúgubre ambiência, com matizes acinzentadas (ou, na melhor das sensações, em paleta de cores frias).
Écailles de lune é mais pesado em comparação com o trabalho anterior. Detentor, no aspecto geral, de melancólico clima de desalento e infortúnio, sua estrutura e verve convidam, imediatamente, à contemplação, à imersão e à introspecção.
Écailles de lune conduz a uma viagem profunda para olhares interiores, à regência de uma melodia que, embora taciturna, distancia-se do enfadonho e da repetição. Ao contrário, a sensorialidade do material pavimenta-se, aqui, por meandros de experimentações e ao gosto de cíclicas alternâncias, em elogioso e incomparável dinamismo executado com raro dom e com intensa sofisticação.
Um primor na forma de música.
Le secret (2011) - Compilação
Conforme já antecipado, Le secret (2011) é uma compilação de um EP homônimo, de 2005, lançado previamente ao full-length de estreia.
A compilação Le secret é formada pelas duas faixas do EP, em suas versões originais (Le Secret e Élévation), bem como pelas mesmas canções, agora em versões regravadas e retrabalhadas.

Embora o material seja composto por 4 faixas, a audição perdura por aproximadamente 1 hora (as canções variam, individualmente, entre 12 e 14 minutos).
A musicalidade de Le secret é robusta. Pesada e intensa, a compilação evidencia uma veia densa, com contornos tétricos, evocativas do início da carreira do Alcest (lembre-se, aqui, de que as canções foram originariamente compostas antes do lançamento do primeiro álbum completo, Souvenirs d'un autre monde).
As faixas são longas, mas dinâmicas. Assim, o percurso sonoro não se arrasta por estruturas minimalistas de poucos acordes que se repetem infinitamente.
Ao revés: em Le secret, o Alcest demonstrou, desde o raiar de seus dias, seu aspecto experimental e dinâmico, trabalhando com arranjos, ritmos e cadências que se alternam ciclicamente ao longo da audição.
Le secret é moldado a influências claras de metal extremo, em paisagem tétrica, obscura e superpesada. Ainda que as inserções psicodélicas, que caracterizam o espírito geral do Alcest, sejam aqui menos acentuadas, Le Secret evidenciou-se como o embrião da sofisticação musical que o conjunto tão fertilmente aprimorou em sua evolução.
A prodigalidade de ideias, refinadas e douradas durante sua trajetória, brotou evidente em Le secret, tendo o conjunto demonstrado, precocemente, raro dom de compor canções extensas, mas não marasmáticas. Aliás, remou no revés dessa tendência e, desde então, preservou elevada a qualidade despontada desde o seu nascedouro.
Há diversos arranjos criativos, que se sucedem e se sobrepõem, tornando cada faixa de Le secret, por si só, uma completa epopeia. E, no seu aspecto geral, uma intensa viagem.
As versões regravadas contaram com produção e lapidação superiormente tratadas, otimizando significativamente o deleite de uma audição marcada, desde a concepção, por indiscutível qualidade.
Uma curiosidade: a letra de Élévation corresponde aos versos do belíssimo poema homônimo do poeta francês modernista Charles Baudelaire, encontrável na obra As flores do mal. Eis a deslumbrante simbiose artística, tão tenaz, entre música e literatura...
Les voyages de l'âme (2012)
No continuum da tríade já citada, pouco resta a acrescentar a Les voyages de l'âme para além daquilo que já fora anteriormente afirmado a respeito Écailles de lune.
Integram-se, nesse espaço, portanto, as considerações já expostas em relação ao mencionado álbum, com o temperamento de que, em seu espírito geral, Les voyages de l'âme seja, talvez, um pouco menos pesado e suavemente mais cadenciado, ostentando, assim, uma aura discretamente menos densa em comparação com Écailles de lune.
Luis Alberto Braga Rodrigues | Rogerio Antonio dos Anjos | Everton Gracindo | Thiago Feltes Marques | Efrem Maranhao Filho | Geraldo Fonseca | Gustavo Anunciação Lenza | Richard Malheiros | Vinicius Maciel | Adriano Lourenço Barbosa | Airton Lopes | Alexandre Faria Abelleira | Alexandre Sampaio | André Frederico | Ary César Coelho Luz Silva | Assuires Vieira da Silva Junior | Bergrock Ferreira | Bruno Franca Passamani | Caio Livio de Lacerda Augusto | Carlos Alexandre da Silva Neto | Carlos Gomes Cabral | Cesar Tadeu Lopes | Cláudia Falci | Danilo Melo | Dymm Productions and Management | Eudes Limeira | Fabiano Forte Martins Cordeiro | Fabio Henrique Lopes Collet e Silva | Filipe Matzembacher | Flávio dos Santos Cardoso | Frederico Holanda | Gabriel Fenili | George Morcerf | Henrique Haag Ribacki | Jorge Alexandre Nogueira Santos | Jose Patrick de Souza | João Alexandre Dantas | João Orlando Arantes Santana | Leonardo Felipe Amorim | Marcello da Silva Azevedo | Marcelo Franklin da Silva | Marcio Augusto Von Kriiger Santos | Marcos Donizeti Dos Santos | Marcus Vieira | Mauricio Nuno Santos | Maurício Gioachini | Odair de Abreu Lima | Pedro Fortunato | Rafael Wambier Dos Santos | Regina Laura Pinheiro | Ricardo Cunha | Sergio Luis Anaga | Silvia Gomes de Lima | Thiago Cardim | Tiago Andrade | Victor Adriel | Victor Jose Camara | Vinicius Valter de Lemos | Walter Armellei Junior | Williams Ricardo Almeida de Oliveira | Yria Freitas Tandel |

Com notória evolução técnica, as multicamadas e, no geral, toda a sensorialidade que identificam e distinguem o Alcest estão presentes em Les voyages de l'âme, com semelhantes intensidade, criatividade e envolvimento.
Para fugir das abstrações e da mera alusão a comentários pretéritos, deixo um registro pessoal sobre uma faixa específica. A canção Faiseurs de Mondes, com seus aproximadamente 8 minutos de duração, condensa, nela própria, todos – absolutamente todos – os elementos que mais aprecio na música. Ela é, na verdade, a própria definição, e uma síntese, do meu gosto musical.
Há, nela, elevações de ritmos, que mantêm uma camada de espiralado sentimentalismo, atingindo apogeu semelhante a um vórtice. Há, também, caídas de tempo, com seus serenados e melancólicos apaziguamentos. E, no contexto geral de toda a estrutura, há as complexas, e sempre inventivas, multicamadas que vão se alternando ciclicamente, aos rodopios.
Faiseurs de Mondes compila as tantas virtudes do Alcest. Representa, ainda, ponto de notório destaque na trajetória musical do conjunto, já altamente nivelada.
Shelter (2014)
Pelo que noto, Shelter ocupa, no geral, um degrau abaixo na escala do gosto popular. Até compreendo o porquê, em certa medida, embora sem concordar. Minha opinião sobre esse material é, portanto, impopular.
Para cravar, logo de saída: Shelter não é um álbum de metal. Com uma atmosfera límpida, cristalina e suave – em proporção quase angelical –, o Alcest apostou, aqui, num caldeirão que mescla rock com elementos de música pop e, sutilmente, influências de new age.

Alguns arranjos de Shelter remetem ao clima de trabalhos mais contemporâneos do saudoso Anathema, especialmente na ambiência de We're Here Because We're Here (algumas composições de Shelter soam-me como primas-irmãs de Thin Air ou de Angels Walk Among Us, apenas para referenciar alguns paralelos).
Para preservar o intuito predominantemente analítico e menos emotivo da análise, não vou me dispersar, aqui, naquela minha típica verborragia de palavras inflamadas (que costumeiramente declamo para exaltar trabalhos musicais com notórias qualidades). Deixo, porém, consignado o registro, com ênfase sonora: Shelter é um dos meus álbuns favoritos do Alcest. Ouçam-no sem preconceitos e sem comparações com outros materiais da banda.
Em Shleter, os elementos típicos do Alcest estão presentes, notadamente as multicamadas, a transcendentalidade e contemplativa sensorialidade das estruturas musicais. Aqui, porém, a verve melodiosa de seu espírito geral soergue-se numa tapeçaria com aura celestial, distanciando-se das fontes mais pesadas e agressivas vertidas do metal (e, portanto, dos trabalhos imediatamente anteriores do conjunto).
Há certa afeição com o primeiro álbum (Souvenirs d'un autre monde), com quem parece fazer par, embora Shelter seja ainda mais doce, leve e suave.
Assim precavido o ouvinte, Shelter proporcionará, por certo, sublimados momentos de deleito sonoro. Deguste-o sem medo, sem resistência e, assim, sem moderação.
Kodama (2016)
Evoco aqui, como parte integrante da análise de Kodama, os comentários já detalhados a respeito de Écailles de lune e Les voyages de l'âme. Agregam-se, porém, alguns acréscimos pontuais, inclusive para não tornar indistinta a análise de materiais que, embora semelhantes, conservam especificidades.
Kodama é uma palavra japonesa que, segundo pesquisas que realizei, significa "eco" ou "espírito da floresta", a depender do contexto. Logo, a homenagem à cultura oriental evidencia-se já no título.

À semelhança de Écailles de lune, Kodama detém aura mais densa, resgatando o espírito de trabalhos antigos do Alcest. Aliás, alguns arranjos são tão caóticos e frenéticos, que mais se assemelham a vórtices sonoros. A rodopiantes redemoinhos. Uma revisitação, por certo, aos primórdios mais extremos da banda.
Ainda assim, e dentro do sadio contrabalanço que caracteriza a música do Alcest, Kodama é, em igual medida, permeado por experimentações, aqui timbradas com elementos até mesmo exóticos, diretamente evocativos da cultura oriental. As instrumentações contidas na faixa-título provam essa afirmação.
Kodama é mais um fértil deleite contemplativo, ora épico, ora lírico, sorvido pelos caminhos dessa extensa peregrinação musical.
Spiritual Instinct (2019)
Novamente, uma opinião impopular. Lanço, já de partida, essa advertência, precavendo de antemão o espírito do leitor, pois sei que Spiritual Instinct ocupa posição cativa no gosto geral.
Alcest é conjunto sem lançamentos ruins. Ponto pacífico. De todo modo, como é comum a conjuntos com discografia extensa e com lançamentos sistematicamente sólidos, nivelados "por alto", há sempre aquele trabalho que se acanhou a um passo aquém. Para mim, o Spiritual Instinct está nessa categoria, apesar de seus múltiplos méritos e virtudes.

Embora proporcione excelentes momentos – a exemplo da inspiradíssima faixa de abertura, Les jardins de minuit, e da cadenciada Sapphire –, Spiritual Instinct é menos sensorial em comparação com os outros lançamentos.
As canções moldam-se a um estilo mais cru, direto e pesado, sendo, porém, um pouco mais escassas no aspecto do sentimentalismo e da sensorialidade. Não que os atributos citados ao início desse parágrafo sejam, necessariamente, um malfazejo. Todavia, a marca identitária do Alcest, que lhe diferencia e lhe destaca, deita raízes justamente no seu núcleo sensorial, sensivelmente menos presente em Spiritual Instinct.
Há, é claro, momentos de sublimação, a exemplo de Le miroir, que resgata verve etérea e experimental. De todo modo, Spiritual Instinct é um álbum mais metal e menos atmosférico, nuance potencializada, inclusive, pela presença mais frequente de vocais rasgados ao longo das faixas.
É o trabalho que mais aproxima seu ponteiro às raízes do metal tradicional. É, ainda, o menos dinâmico.
Spiritual Instinct deleitará especialmente os apreciadores de um estilo mais direto, pesado e cru, com menos experimentações. Titula, inegavelmente, diversos valores e virtudes, mas o aspecto menos plurilateral das experimentações e das ambientações relativizou a vitalidade que dá corpo e tradicionalmente identifica o conjunto. É, por essas razões, o trabalho que menos me desperta atenção e interesse.
Les chants de l'aurore (2024)
Considero Les chants de l'aurore o melhor lançamento do ano de 2024. Dediquei-lhe à época, inclusive, uma resenha, cujas palavras agora retomo para comporem, aqui, as minhas considerações.
Como notará o leitor, algumas palavras-chaves serão novamente revisitadas. Não há como expressar a arte do Alcest, pela tinta da caneta – e dentro do que permitem as limitações do verbo –, sem evocar algumas locuções, lugares-comuns de sua musicalidade poética.

Pois bem. A audição de Les chants de l'aurore beira o transcendental.
Invocando algumas metáforas que permitam aproximar a experiência musical aos respectivos aspectos sensoriais aguçados por essa jornada em notas, pode-se contemplar Les chants de l'aurore como uma experiência caleidoscópica multicolorida, brilhante e etérea. Uma verdadeira imersão onírica, orquestrada em multicamadas, que conduz o ouvinte pelo vórtice de uma torrente de sensações intensas e dicotômicas.
Em movimentos pendulares, Les chants de l'aurore se alterna entre doses galopantes e épicas de pulsante vivacidade (como em Komorebi), moduladas e moderadas pelo contrabalanço de momentos de maior introspecção e lirismo, com inflexões melancólicas, frias e sombrias (a exemplo de L'adieu).
Por vezes, aliás, essas citadas características amalgamam-se na estrutura de uma mesma canção, em construções climáticas e complexas permeadas por cíclicas quebras de movimentos e sobreposições de explosões sonoras. Citam-se, para referenciar, as faixas Améthyste e L'enfant de la lune, apogeus de Les chants de l'aurore.
Les chants de l'aurore é, em síntese, um trabalho solidamente maduro, complexo e pródigo em sentimentalismo. Uma verdadeira jornada musical, alternadamente épica e lírica, que aguça no ouvinte não apenas deleite sonoro, mas a visitação a um universo repleto de cores, camadas e paisagens, numa ambiência tão bela quanto essa descrição possa sugerir (e quanto a imaginação do ouvinte possa se lançar).
Mérito do Alcest. Raro privilégio de mentes criativas. Eis a maravilha da arte...
Um registro pessoal: Améthyste, presente nesse material, é, provavelmente, a minha canção favorita do Alcest.
Eis, então, as minhas considerações, nessa viagem em voo panorâmico pela discografia do Alcest.
Boa audição.
Texto originalmente publicado na página Rock Show.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



As músicas do Iron Maiden que Dave Murray não gosta: "Poderia ter soado melhor"
"Guitarra Verde" - um olhar sobre a Fender Stratocaster de Edgard Scandurra
As duas bandas que atrapalharam o sucesso do Iron Maiden nos anos oitenta
Como foi para David Gilmour trabalhar nos álbuns solos de Syd Barrett nos anos 1970
Ramones e a complexidade técnica por trás da sua estética
A banda brasileira que está seguindo passos de Angra e Sepultura, segundo produtor
Valores dos ingressos para último show do Megadeth no Brasil são divulgados; confira
A música do Trivium que mistura Sepultura, emo e melodic death metal
Alcest - Discografia comentada
A música favorita de todos os tempos de Brian Johnson, vocalista do AC/DC
O guitarrista que Steve Vai diz que nem Jimi Hendrix conseguiria superar
Mais um show do Guns N' Roses no Brasil - e a prova de que a nostalgia ainda segue em alta
Inferno Metal Festival anuncia as primeiras 26 bandas da edição de 2026
A banda que deixou o Rage Against The Machine no chinelo tocando depois deles em festival
A reação de Malu Mader e Marcelo Fromer à saída de Arnaldo Antunes dos Titãs


Iron Maiden: a tragédia pessoal do baterista Clive Burr
Lista: 12 músicas que você provavelmente não sabe que são covers