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Punk: "Faça você mesmo" vira "Você não sabe o que está fazendo"

Por Moisés Agostinho Junior
Postado em 03 de janeiro de 2014

Sobre o "Faça Você Mesmo", tradução de "Do It Yourself" (DIY, na sigla em inglês), diz a Wikipedia...

"O faça você mesmo, concebido como princípio ou ética, questiona o suposto monopólio das técnicas por especialistas e estimula a capacidade de pessoas não-especializadas aprenderem a realizar coisas além do que tradicionalmente julgam capazes."

Lançado no Brasil em 2009 (2007, nos EUA), o livro "O Culto do Amador", do empresário e escritor anglo-americano Andrew Keen, nos traz uma perspectiva ácida quanto ao cultuado DIY:

"Ao solapar o especialista, a onipresença do conteúdo gerado pelo usuário e gratuito ameaça o próprio cerne de nossas instituições profissionais. A Wikipédia de Jimmy Wales, com seus milhões de editores amadores e conteúdo não confiável, é o 17° site mais acessado da internet; Britannica.com, com seus 100 ganhadores do Prêmio Nobel e 4 mil colaboradores especialistas, está em 5.128° lugar."

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(Keen, Andrew. O culto do Amador: como blogs, MySpace, Youtube e a pirataria digital estão destruindo nossa economia, cultura e valores. Trad. de Maria Luiza X. de A. Borges. Zahar: 2007. Edição digital para Kindle: posição 584.)

Fato é que Keen parte duma perspectiva conservadora e elitista, desconsiderando um aspecto básico do "Faça Você Mesmo": conforme nos lembra a Wikipedia, trata-se da possibilidade de aprender, assimilar e realizar. Envolve aperfeiçoamento e dedicação, não apenas amadorismo inconsequente. Keen defende uma reserva de mercado às mídias tradicionais e, enquanto desmoraliza empreendimentos que fogem dos parâmetros já consagrados, lança numa vala comum iniciativas díspares tais como as dos sites colaborativos (Whiplash.net, p. ex.) e vídeos despropositados postados a esmo no Youtube.

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Contudo, quando falamos de música, temos de, pelo menos em certos momentos e circunstâncias, dar o braço a torcer ao niilismo anti-amadorismo-internético de Andrew Keen.

Não estou lhes contando nenhuma novidade ao afirmar que o Punk Rock nasceu com propostas DIY. A ousadia, a postura afrontosa haveria de influenciar inúmeras bandas e estilos posteriores, todos inspirando-se na irreverência e iconoclastia punks para dar seguimento a diversos projetos artísticos.

Certo, estamos falando de música. "Faça Você Mesmo". Empunhe uma guitarra, um contrabaixo, vire-se com uma bateria, convoque um amigo para fazer as vezes de vocalista... Essa deveria (ou poderia) ser uma das maneiras pra se começar uma banda. A coisa se complica quando se passa a crer que o amadorismo do começo, a precariedade com a qual os iniciantes têm de conviver, que o produto grosseiro dessas limitações tem muito charme, muita essência e substância, que a banda deve prosperar ao regurgitar miséria.

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Charme?

Pode até ser que ele exista naquele chimbal improvisado, no contrabaixo-tuba, na guitarra que nunca afina e nos microfones vagabundos emprestados pelo pai de alguém. Entretanto, resume-se nisso: o frio na barriga por reunir-se com uns caras que, pela primeira vez, e mesmo que de forma improvisada e delirante, juntam os sons de instrumentos diversos de maneira coordenada (ou quase). Após 3 ou 4 covers de Ramones e/ou Raimundos, parte-se pra uma zoeira desconexa. São as tentativas de engatar algo que soe como "música própria". Sem nenhum planejamento, sem a mínima ideia do resultado duma palhaçada empolgada. Apenas amplificadores ligados e barulho contínuo.

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Como início de trampo, tudo isso é válido. Gratificante, mesmo. Só que o que era pra ser preliminar, com muita frequência, acaba persistindo, mantido por livre e espontânea vontade dos integrantes. Os caras acreditam que a insistência em rudimentos de teoria musical e equipamentos sofríveis seriam os únicos caminhos pra atingir o âmago do Rock´n´Roll. Tudo é feito num ambiente de improviso e desleixo premeditado, como se isso pudesse resultar em algo, presume-se, original.

Tive o desprazer de ser parceiro de banda dum sujeito que afirmava, convicto, que "não é o que você toca, e sim COMO você toca". Apenas uma glorificação do amadorismo presunçoso, da deficiência técnica perpetuada e da preguiça. É com esse argumento do "o importante é a atitude" que pseudo-músicos imprestáveis continuam produzindo um lixo sonoro com pretensões de clássicos incompreendidos.

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Quando converso com amigos e exponho o ridículo dessa crença no som tosco como redentor do Rock, sempre chega aquele momento no qual alguém avisa: "Mas e os Ramones? Os Pistols? Eles eram medíocres!" Pois bem. Além do elemento originalidade (estavam engendrando uma nova estética, um novo estilo), podem ter certeza de uma coisa: a molecada (quase sempre nem tão moleques, na idade) amadora à qual me refiro não consegue sequer tocar Ramones ou Pistols. Nirvana? Também não.

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Deu pra sacar de quem estou falando? Caso ainda restem dúvidas: não me refiro a essas bandas iniciantes precárias que brotam em todas as esquinas. Falo é desses caras com 10 anos de estrada que continuam fazendo a mesma merda. Covers desrespeitosos, horrorosos, equipamento impraticável e "músicas próprias" que, tocadas inúmeras vezes, nunca repetem a mesma sequência de acordes.

Fosse algo despretensioso, eu não teria motivos pra escrever este texto. Tratando-se de tocar bêbado na garagem, reunir amigos pra fazer barulho apenas pelo prazer de sentir a resposta dos amplificadores àquilo que você apronta na guitarra, seria de uma impertinência atroz exigir qualidade e comprometimento. Não me refiro a algazarras sonoras aleatórias e inofensivas, a brincadeiras de finais de semana; falo de amadores julgando-se virtuoses injustiçados, os novos deuses do Rock´n´Roll que somente não foram revelados e idolatrados (ainda) porque público e crítica não os descobriram ou não os entenderam. Essas figuras não admitem a possibilidade de já serem suficientemente conhecidas, compreendidas e desprezadas pelo material asqueroso que produzem e disponibilizam.

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A absoluta incompetência, a ausência desesperadora de qualquer técnica, nada disso é tratado como problema a ser sanado com o evoluir da banda. A tacanhice é vista como prelúdio de genialidade. Desde o primeiro ensaio, tem-se que lidar com aquele jegue da banda, aquele estúpido que, incapaz do mais singelo dos covers, desconhecendo o básico, pretende improvisar, inventar, fazer nascer pelo em ovo naquela música que pressupõe 2 ou 3 acordes mas na qual ele insiste em inserir um solo obtuso. "Pra enriquecer o som", alega o jumento.

"Do It Yourself" foi uma ideia revolucionária, inovadora; conferiu nova dinâmica à música permitindo-lhe fugir do engessamento e do óbvio. Ora, então não há porque refutar a essência da iniciativa! Faça você mesmo, siga adiante, acredite. Porém, com uma condição: saiba o que está fazendo – a menos que você seja um Dee Dee reencarnado, e é aí que mora o perigo. Toda a molecada acredita possuir o gênio intuitivo de um Ramone.

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E dessa arrogância vem a confusão entre amador e "independente". Aqui nasce o orgulho em ser desconhecido, diletante e precário. Como se música com tempos precisos e instrumentos afinados fosse puro mainstream de corrompidos. Isso sem contar o consolo que os idiotas protopunk´s se congratulam: "eu não preciso saber tocar pra ser famoso, rico e ídolo".

Enfim: RIDÍCULO.

O compromisso com a qualidade não significa necessariamente um pacto com o establishment musical medíocre, da mesma forma que não é um impertinente "Faça Você Mesmo" que tornará qualquer melodia um puta som digno de créditos.

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Andrew Keen não escreveu sobre Punk, e é claro que Rock´n´Roll não é estilo exclusivo de músicos profissionais. Mas um pouco menos de presunção e despreparo não faria mal a ninguém (nem a um Ramone, caso você se ache um deles).

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