Lenny Kravitz - show vazio e um público morno em São Paulo
Resenha - Lenny Kravitz (Allianz Parque, São Paulo, 23/11/2024)
Por Diego Camara
Postado em 28 de novembro de 2024
Fazem cinco anos desde a apresentação do músico Lenny Kravitz no Loolapalooza, mas quase 20 anos desde a última apresentação solo do artista em São Paulo. Um tempo demasiado longo para um artista de fama internacional e da grandeza de sua história para a música nos Estados Unidos. O Allianz Parque foi o palco escolhido, estádio que este ano trouxe algumas ótimas apresentações, mas falhou em alguns momentos na entrega de shows de alto padrão.
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E o show de Kravitz já dava a toada de que seria complicado, o que se revelou pela baixa procura por ingressos: o anel superior do Allianz Parque foi desativado para a apresentação, e o público de todos os outros setores pode se espalhar com tranquilidade para ver o show: pouca gente ocupava o anel inferior, como também as pistas normal e premium. Sem dúvidas menos da metade do estádio estava ocupado.
Além disso, a confusão ridícula que ocorreu no final do show do lendário Frejat é imperdoável. O atraso de três minutos em uma agenda tão fechada e pontual como os shows realmente não é de bom tom, mas nada pode ser desculpa para truculência ou violência, especialmente da produção de um artista marcado pela representatividade como é o Lenny Kravitz.
O show foi começar, graças a esta confusão, com 10 minutos de atraso: nada anormal para uma apresentação desta magnitude. O público começou bastante morno quando Lenny e banda começaram a tocar "Bring It On". A dispersão dos fãs pelo espaço causou bolsões de grande interação, em especial nas arquibancadas laterais, e na parte frontal da pista, onde as interações foram maiores e mais próximas da banda.
A qualidade do som estava muito boa, mas no geral um pouco baixa – o que anda sendo o padrão para os espetáculos no Allianz Parque durante este ano de 2024 – o que ajudou pouco o show. "TK421" foi bastante animada, e o público puxou o refrão e dançou bastante na pista, o que animou bastante Lenny Kravitz e sua performance no palco. As músicas, pegajosas, tem refrãos cativantes que ajudam a manter o calor do público. "I’m a Believer" é prova viva disso, e conseguiu levantar os fãs.
Lenny deu boa noite ao público e fez um longo monólogo sobre seu sumiço dos palcos brasileiros, da saudade que tinha do Brasil e de quanto ama o país, em especial pelo seu povo, a arte e a natureza. Interessante como a banda e a representatividade do artista ecoam muito pouco com o público: claramente branco, muitas pessoas de classes altas e até mesmo pouco interessados no artista – dadas as conversas paralelas que permearam o show, até mesmo muitas vezes no meio das músicas. A paixão dos fãs sem dúvidas conviveu mais com os ingressos mais baratos do estádio, esvaziado.
A banda de apoio de Lenny é realmente um primor, escolhidos a dedo. Desde os integrantes mais antigos, como o excelente guitarrista Craig Ross até a performance eletrizante de músicos como os gêmeos Blac Rabbit ou a baterista Jas Kayser, uma grande estrela da performance mágica da banda. Tudo soou muito bem, e os artistas entregaram muito durante todo o espetáculo.
"Stillness of Heart" teve Kravitz tentando animar mais o público presente, com uma outro alongada no violão e o vocalista puxando o refrão para a cantoria do público, que foi crescendo até que ele desceu ao pit para cumprimentar o público, enlouquecido o agarrando e puxando os celulares, com os seguranças tentando controlar os que estavam mais animados.
O instrumental forte e bem pegado de "Paralyzed" coroou o trabalho de bateria e guitarra da banda, que arrancou aplausos ávidos do público presente. "Fear" tem um solo interminável no seu final, com uma música que vai se tornando como uma improvisação, ao bom e velho estilo do jazz e do soul clássicos, o que arrancou mais aplausos da plateia.
Se aproximando do final do show, Kravitz voltou a descer ao pit, se aproximando dos fãs mais para a lateral da grade, cumprimentando-os, um a um, gastou ali um tempo do show antes de fazer uma longa introdução de todos os integrantes da banda. A primeira de uma sequência brutal com todos os sucessos do artista, que ficaram concentrados neste último terço do show, foi "It Ain’t Over ‘Til It’s Over", para delírio dos fãs, que cantaram muito e dançaram mais uma vez ao ótimo som da banda.
A sequência brutal finalmente incendiou a plateia, com os fãs cantando muito e em alto e bom som as músicas "Again", "Always on the Run" e o cover de "American Woman". O final, emocionante, ganhou ainda mais potência e vontade com "Fly Away", a melhor apresentação da noite. Uma música atrás da outra fez o show acelerar demais, em contraste com a performance mais lenta que apresentou durante todo o show.
O show foi bom e trouxe ao público o que era esperado: uma performance positiva e bem executada por Kravitz e banda. É difícil, porém, imaginar que esta apresentação será lembrada de maneira memorável por qualquer um que não seja um fã de carteirinha do artista. No final, ficou no ar a ideia de que algo ficou faltando, que poderia ter sido melhor: desde o som do estádio até o público, tudo pareceu muito "normal" para um show onde se espera demais, seja pelo tamanho, seja pelo gabarito dos artistas.
Setlist
Bring It On
Minister of Rock 'n Roll
TK421
I'm a Believer
I Belong to You
Stillness of Heart
Believe
Human
Low
Paralyzed
The Chamber
Fear
It Ain't Over 'Til It's Over
Again
Always on the Run
American Woman (cover do The Guess Who)
Fly Away
Are You Gonna Go My Way
Bis
Let Love Rule
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