Dio Disciples: resenha do show em SP do Minuto HM
Resenha - Dio Disciples (Carioca Club, São Paulo, 15/06/2013)
Por Eduardo dutecnic
Postado em 25 de junho de 2013
Desde o anúncio que a tour do Dio Disciples, banda que homenageia (assim como o blog Minuto HM que, entre tantos posts, tem uma fantástica discografia-homenagem) o eterno Ronnie James Dio, Rolf e eu nos falamos para nos organizarmos e irmos ao show. O Rolf tomou a iniciativa de ir atrás, inclusive, de ingressos especiais, como vocês podem ver acima. O que veio depois disso foram grandes emoções – inicialmente, a euforia pelos ingressos, depois, preocupações que falarei a seguir para finalmente conseguirmos fechar a noite como esperado.
A primeira confusão se deu pela data: inicialmente o show de SP seria no domingo, dia 16/junho/2013. Com o cancelamento do Rio (motivo dado: produtor "sumiu"), o show de SP passou para o sábado, o que possibilitou, inclusive, que a casa acomodasse a passagem da banda Adrenaline Mob, com Mike Portnoy como a grande estrela, no domingo. A segunda pela dificuldade da perna sulamericana desta banda. Inicialmente programada para tocar no Chile e na Argentina, além de SP e Rio, quando a data do show se aproximava, começaram os cancelamentos. A internet e muitas fontes confiáveis informaram que tudo por aqui estaria cancelado, inclusive SP. Por sorte, eu só acredito na fonte original e resisti. Ao ligar para o produtor, segundo o próprio, ele também havia sido pego de surpresa. Liga daqui, se informa dali, consegui a primeira confirmação da "fonte da fonte": o baixista Bjorn Englen respondeu à uma twittada do Minuto HM:
https://twitter.com/BjornEnglen/statuses/342757821143719936
Susto passado, vinha a terceira coisa, que me soava muito estranha: o Meet & Greet foi confirmado para os menos de 10 compradores para um intervalo no mínimo muito duvidoso: entre 13h30 e 14h00. Pelo sim, pelo não, Rolf e eu nos programamos a "perder" o sábado, nos encontrarmos cedo e nos garantirmos…
Chegamos e nos deparamos com a casa fechada e apenas o segurança na porta. Fui perguntar do tal "Meet & Greet" e o segurança ficou olhando para a minha cara como se eu tivesse feito uma pergunta de física quântica. Estava claro que o problema iria apenas começar. Rolf e eu fomos então à uma padaria batermos um papo e um PF e, quando voltamos, em torno das 14h00 e pouco, mais 2 pessoas estavam na porta, um deles um leitor nosso, o Ricardo, que me reconheceu. O outro, Emerson. Ficamos ali conversando sem muita informação. Demos um tempo, mais algumas pessoas chegaram, até que resolvemos ir dar uma volta no Shopping Eldorado. Peguei o 13 Deluxe, novo do Sabbath, e dei nas mãos para o Rolf comprar. Ao voltarmos, havia mais um pequeno grupo indignado com a situação. Demos mais um tempo e o jogo de estreia do Brasil contra o Japão, abrindo a Copa das Confederações 2013, já tinha começado. Fomos ao primeiro boteco da rua com uma belíssima TV de 14″ de tubo com o famoso bombril na antena – pior que já estava 1 a 0 quando chegamos, nem o gol vimos. Foi só a gente se sentar que abriram a casa.
O pequeno grupo entrou e viu apenas Craig Goldy no palco, tocando o início de The Last In Line. Logo após e sem tocar nada, apenas indo perto de seu instrumento, apareceu Scott Warren, com uma cara bastante mal-humorada. Craig continuou tocando por mais um ou 2 minutos. Simon Wright apenas olhou o palco e nem chegou a entrar, sumindo nos bastidores. Scott foi para a área externa da casa fumar. Ali já deu para ver que a tal passagem de som prometida não iria dar em nada. Ficamos ali com cara de patetas esperando por mais uns 30, 40 minutos e nada. Conseguimos contato com o produtor, que falou que o Meet & Greet seria feito agora apenas depois do show, fato que provocou, claro, um mix de revolta, desânimo e principalmente dúvida.
As discussões entre os organizadores eram abertas e talvez tenham sido a melhor informação que tivemos naquele período de espera, e, nós que nos achávamos no direito de termos algo por termos desembolsado um dinheiro para estarmos onde estávamos, éramos com certeza o menor dos problemas dos organizadores. Todos deixaram isso muito claro para nós, pobres "cidadãos consumidores". Fomos tratados com um descaso e como um problema "secundário" face aos absurdos que ouvíamos a cada minuto estando já dentro do Carioca Club no tão aguardado Meet & Greet e vendo o desenrolar de problemas que se acumulavam há poucas horas do início do show. Cumprir com o que foi pago? Cumprir com o que foi combinado? Dar uma satisfação do que estava ocorrendo? Não… estas coisas não eram prioridade das pessoas que ali estavam.
Rolf e eu resolvemos sair novamente da casa, já que nem os ingressos nós usamos para entrar (!!!) e não havia qualquer sinal que teríamos a esperada passagem de som. Emerson e Ricardo nos acompanharam. Na saída, dei de cara com Scott, comendo batatinha frita e com uma cara de "que saco". Olhei, pensei se fiz algo e resolvi nem falar nada. Fiquei ao lado dele aguardando os outros 3 chegarem para sairmos juntos, na esperança de rolar algum assunto para comentar e de repente me aproximar. Mas não teve nada e resolvi não arriscar. Este cenário dramático de ter visto pessoas despreparadas comprando batata frita na esquina do Largo da Batata para os músicos me trouxe uma clara ideia de que isso poderia de alguma forma influenciar a performance deles no show. Para nós, tudo levava a crer que, se dependesse do que havia sido combinado – e que estava inclusive em contrato, segundo o produtor da própria banda – aquele show nem deveria existir. Todo tipo de problema foi elencado: alimentação, camarim, palco, iluminação, estrutura… tudo foi dito que estava errado ou quenão estava de acordo com o que deveria ser. A expectativa de que o show pudesse ser "morno" ou "burocrático" devido a esta situação dramática de organização me dava a clara certeza de que não teríamos uma noite de metal das melhores.
Saímos e retornamos ao Shopping Eldorado para uma looonga volta. Aproveitamos para comprar caneta para autógrafos, que até então não tínhamos mais qualquer certeza de acontecer mesmo. Depois, retornando à casa, o Rolf, que havia levado muitos CDs, um prato e o baixo já autografado por Rudy Sarzo, resolveu deixar tudo no carro e pegar apenas um CD. O Ricardo gentilmente nos forneceu uma foto da banda que ele havia impresso para que pudéssemos também autografar, se fosse o caso. Aquela altura do campeonato, só de rolar o show já seria bom, de verdade – até papo de devolução do dinheiro chegou a rolar.
A casa foi aberta ao público e nós entramos também. A primeira impressão é que a casa ficaria vazia, mas felizmente mais pessoas chegaram e o local ficou, digamos, com sua lotação em torno de 50 – 60%. Fui informado pelo Ricardo que quem tinha o ingresso Meet & Greet ganhava uma pulseira. Quando fui buscá-la, dei a sorte de encontrar Aquiles Priester entrando na casa. Já tinha encontrado o batera no show do G3 do ano passado. Ele foi simpático e permitiu novo registro fotográfico.
A banda de abertura, competente, tocou por cerca de 45 minutos seu setlist próprio e foi bem aceita pelos presentes. O Sagitta tem uma sonoridade de metal melódico que definitivamente agrada quem gosta da vertente.
As 19h15, Tim "Ripper" Owens, Craig Goldy, Bjorn Englen, Scott Warren e Simon Wright subiram ao palco e a homenagem ao saudoso vocalista foi iniciada (Oni Logan só se juntaria à banda mais para frente). A rápida Killing The Dragon já mostrava que o som da casa estava ótimo, tanto em termos de equalização quanto de volume, e Ripper, a grande atração da noite, já entrou com sua poderosa voz dando sinais que a noite seria mesmo demais. Energia, pegada, qualidade e precisão sensacionais! Foi um grande alívio poder ver que afinal o legado de RJD, tão apreciado por nós, estaria mais uma vez sendo primorosamente executado – isso realmente superou – e muito – todas as expectativas logo de cara.
Haviam conversas pela internet que o álbum Holy Diver seria tocado na íntegra. Mas com a vinda da faixa-título logo a seguir, já era o sinal que não seria, pelo menos em sua ordem natural – o que, em absoluto, acabou não sendo um problema dada à escolha fantástica do grupo a cada petardo que ainda viria.
Ripper comenta que estavam ali para celebrarem o grande Ronnie James Dio, arrancando os devidos aplausos. Na sequência, a épica que logo completará 30 anos de idade, Egypt (The Chains Are On), ajudou a confirmar de vez como a banda realmente estava prestando uma homenagem à altura. Uma execução fantástica, com trabalho ímpar de Scott, Craig e Simon Wright – este último, aliás, "preencheu" muito a sonoridade desta e de todas as músicas, se destacando sempre. Oni Logan entrou no palco para dividir os vocais com Ripper, algo que eu tinha inicialmente minhas dúvidas de como e se funcionaria.
O que tenho a comentar é que o vocalista do Lynch Mob fez um papel muito importante durante toda a noite, cantando normalmente as partes mais "baixas" das faixas e deixando Ripper com as partes mais altas e/ou agressivas, algo que combina perfeitamente com a voz dele. Isso se confirmaria com a manutenção do ar épico para a sequência com a perfeita Stargazer. O vídeo abaixo, do Minuto HM, mostra a segunda parte dela até o fim e dá uma boa ideia de como estava tudo devidamente em seu lugar:
Oni também se destacaria ao dividir o vocal da seguinte, minha predileta do primeiro álbum de Dio no Sabbath, a Children Of The Sea, que também contou com Simon Wright ainda tem todo o vigor para tocar do jeito que gostamos: com força, agressividade e muita qualidade.
The Last In Line e Stand Up And Shout nos faria retornar aos 2 primeiros discos da banda DIO, onde Craig teve ótima participação representando o talento de Vivian Campbell, recentemente diagnosticado com linfoma de Hodgkin, principalmente nos solos. Ficaríamos por ali mesmo ainda, com Don’t Talk To Strangers, onde Ripper começou a ter seu nome gritado pela plateia. Neste momento, Ripper logo pediu algo como: "nesta noite, não é Ripper, é ‘Dio!’ ‘Dio!’", arrancando, assim, ainda mais aplausos. Viria um interessante primeiro medley da noite, com Lord Of The Last Day e All The Fools Sailed Away. A última é um dos momentos que lembro dos gêmeos, tão apreciados da música – e nós pelo menos tivemos o (ótimo) gosto do refrão da faixa.
Continuando o "jogo ganho", como classifiquei este setlist ao Rolf, The Mob Rules, com Ripper despejando sua potência para nosso deleite, e o segundo e último medley da noite, com uma feliz escolha setentista da época de Dio no Rainbow: Catch The Rainbow e Kill The King. Ficou o gosto de "quero mais" para a primeira, confesso, ainda mais se pensarmos na insuperável versão do On Stage, ainda antes da mesma ser oficialmente lançada em estúdio, algo que só aconteceria no ano seguinte. A mistura das duas, entretanto, criou um clima muito interessante, saindo da parte mais lenta para a rapidez da segunda.
Continuamos com o Rainbow para as duas próximas, com a marcante faixa-título do mesmo álbum, para delírio dos presentes, e com Man On The Silver Mountain, que foi executada de forma muito parecida com a versão de estúdio em termos de guitarra, mas mais parecida com o que tanto se ouviu de Dio nas partes altas ao-vivo por Ripper. Para fechar, Heaven And Hell, sem luz vermelha, mas com uma emoção ímpar. O olhos de Rolf ficaram marejados, assim como foi em SP, quando vimos Dio pela última vez ao-vivo, em mais um grande momento de celebração a Dio e ao heavy metal.
O BIS viria com a esperada Rainbow In The Dark, cantada como é Fear Of The Dark de um show do Iron Maiden, e meu palpite para We Rock se confirmou para encerrar a noite. You rock, Dio (Disciples).
Não tivemos representantes dos excelentes Dehumanizer e The Devil You Know, mas realmente é impossível fazer qualquer reclamação do setlist acima – apesar de ser possível montar diversas coletâneas do monstruoso legado de Ronnie, sem dúvida as músicas da noite o representaram perfeitamente.
A conclusão é do Rolf: foi uma grande noite de metal. Me arrisco a dizer que acima de tudo, acima de todos os mambembes remendos de organização ali testtemunhados com estes olhos que a terra há de comer, estava claro para todos que honrar o nome de RJD era o que mais importava ali. Em minha humilde opinião, isso foi o que fez diferença entre o que poderia ter sido um show que não deveria ter ocorrido e o show que tivemos: era o nome de um mito que se fez presente naquela atmosfera e, em se tratando de honrar o nome de Dio, todo tipo de dificuldade deve ser deixado de lado e deve-se prevalecer a obra desse que foi uma das maiores lendas do metal de todos os tempos. Acho que só por isso esse evento como um todo não foi um completo desastre. Obrigado mais uma vez, RJD, por ter deixado todo esse legado primoroso e ter feito discípulos dessa magnitude no meio do Heavy Metal. O show e a companhia do meu irmão Eduardo fez daquela dia, um dia inesquecível dentro dos meus 40 anos de heavy metal. Obrigado RJD. Peace, Love and Magica.
E eu termino devolvendo o agradecimento especial ao Rolf que, além da companhia, ajudou muito o blog com o que veremos na segunda e última parte desta cobertura: o Meet & Greet com os caras, após o show.
R.i.P., Ronnie.
Para ver dezenas de fotos do show, setlist completo (inclusive do papel do palco, mais vídeos e links para a discografia-homenagem a Dio, acesse a matéria original no Minuto HM.
Contribuiu, e muito: Rolf.
Outras resenhas de Dio Disciples (Carioca Club, São Paulo, 15/06/2013)
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