Johnny Winter: a força e a simplicidade do blues texano
Resenha - Johnny Winter (Via Funchal, São Paulo, 22/05/2010)
Por Bento Araújo
Postado em 23 de maio de 2010
Sem brincadeira, desde que me conheço por gente, tomei conhecimento de que JOHNNY WINTER "viria" se apresentar no Brasil por no mínimo umas seis vezes. Winter é disparado o campeão de cancelamentos por aqui... Seus shows eram marcados e divulgados, os ingressos eram vendidos, e na hora "H", o show era cancelado sem mais explicações. As desculpas eram as mais diversas possíveis: "Johnny não aguenta mais fazer longas viagens de avião, por isso ele nunca vai vir tocar aqui"; "o remédio que ele toma não pode entrar no país"; etc, etc, etc. Desde meados dos anos 80 era a mesma história. Isso chegou num ponto que quando alguém chegava pra mim e dizia: "Você viu que vai ter show do Johnny Winter?" eu simplesmente dizia: "Conta outra... Esse eu só acredito vendo, ali na cara do palco".
Confesso que dessa vez, quando o show foi marcado, algo me dizia que agora iria rolar pra valer... Era a nossa chance de ver aquele texano que surgiu para o mundo da música em 1969, e que desde a sua aparição no Festival de Woodstock, naquele mesmo ano, não parou de brilhar na cena do rock e do blues.
Winter veio, apareceu de verdade dessa vez, e que emoção!
Tanto ele como a platéia parece que sabiam disso, todos sabiam que o encontro havia demorado décadas, mas finalmente havia chegado. Winter veio andando com dificuldade, sentou no seu banquinho e mostrou para os brasileiros o que é música feita com emoção e verdade. Sabedoria pura jorrando de sua guitarra e de seu microfone...
A banda de apoio era sensacional, todo mundo com energia, pegada e técnica na medida. Do lado direito de Winter, o guitarrista Paul Nelson, seu Messias, o cara que o trouxe de volta aos palcos e aos discos. Todos nós brasileiros devemos uma cerveja a Paul, pode apostar!
O som estava bom, coisa rara em se tratando de Brasil e Johnny fez um set especial, tocando clássicos especialmente pinçados para sua tour brasileira, tirando do baú temas que ele há tempos não tocava em suas tours pelo exterior. O show foi transmitido no telão, porém o equipamento de vídeo da Via Funchal é uma decepção completa. Imagem borrada, sem definição alguma. Em plena era de ouro da resolução HD, você paga 300 reais para assistir um show exibido num telão com resolução digna de uma fita Betamax... Lamentável.
Quando Winter detonou uma sublime versão de "Good Morning Little School Girl" (aquela mesma que aparece em seu primeiro álbum pela Columbia/CBS, de 1969), todos já estavam rendidos. O que dizer diante daquela entidade da história da música; peça única da história do rock e do blues? O jeito era curtir cada solo, cada slide do mestre... HENDRIX foi homenageado com uma emocionante e longa versão de "Red House", que ainda teve citações a "Sunshine Of Your Love" do CREAM. Outros destaques do set foram "She Likes To Boogie Real Low", "Hide Away", "Bonny Moronie", "It’s All Over Now" e a sempre obrigatória releitura de "Highway 61 Revisited", de BOB DYLAN, que surgiu como encore, onde Winter surgiu carregando sua legendária Gibson Firebird, sua antiga companheira de guerra.
Winter saiu completamente ovacionado. A emoção era palpável no ar, a lenda deu sua graça por aqui. Quem ficou em casa perdeu. Muitos disseram: "se for para ver Winter nesse estado quase terminal, eu prefiro não ver"... Mal sabem eles, que mesmo ali sentadinho, com dificuldade de andar e quase não enxergando nada; nosso novo velho amigo albino deu uma aula, tocando com garra e paixão, e mostrando muita verdade em cada nota.
Foi surpreendente? Sim, muito, pois eu mesmo confesso que não estava esperando tanto dessa apresentação. Foi mais que um show, foi uma aula de simplicidade, de história, de veracidade musical e de vida; enfim, uma aula de blues... Contrastando infinitamente com o show do dia anterior, (ZZ TOP, também na Via Funchal), JOHNNY WINTER e sua banda tiraram o atraso de décadas em questão de horas, mostrando a força e a simplicidade do verdadeiro blues texano. Que Deus abençoe o nosso novo/velho amigo Johnny...
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