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Therion: 23 músicas em mais de duas horas de show em São Paulo

Resenha - Therion (Citibank Hall, São Paulo, 27/09/2007)

Por Bruno Sanchez
Postado em 03 de outubro de 2007

Três anos após a bem sucedida turnê dos álbuns "Lemuria / Sirius B", os suecos do Therion voltam ao Brasil para um único show em São Paulo e o Whiplash! esteve lá para conferir e contar para vocês como foi.

Fotos: Rafael Solano Karelisky

Vou fazer uma resenha um pouco diferente desta vez e começo pelos pontos negativos da apresentação para depois comentar apenas o que interessa: o espetáculo – literalmente falando – que tivemos na noite do dia 28 de Setembro, uma sexta-feira, em São Paulo.

O grupo não trouxe nenhuma produção de palco. Antigamente, as bandas optavam por pelo menos um pano de fundo com a capa do último CD, mas desta vez não tivemos nada, apenas canhões de luz. Detalhe que isso não é exclusivo do Therion, a maioria dos últimos shows que fui, incluindo bandas nacionais, seguiu esse padrão de produção de palco "zero". É amigo, o corte de custos anda severo no mundo da música, mas até dá para entender porque a turnê brasileira dos caras se limitou apenas a um único show, conseqüentemente fica mais difícil financiar algo bacana para a decoração.

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O setlist escolhido foi muito bom, mas não teve nada da fase antiga "pré-Theli", quando os suecos mandavam ver no Death Metal cru. Em diversas entrevistas, nosso amigão e líder, Christofer Johnsson, já deixou claro que desistiu de cantar com seus vocais guturais. Aliás, no show aqui em São Paulo, só ouvimos sua voz no finalzinho, quando ele agradeceu a presença de todos com um largo sorriso, mas infelizmente – para os saudosistas - nada do período entre 1989 e 1995.

Não tivemos também, nenhum teclado durante a apresentação e todos os sons "orquestrais" vinham de samplers, o que pode ter decepcionado alguns puristas.

Agora a mudança mais importante: o estilo "coral" com cantores operísticos parados, para algo mais performático onde quatro vocalistas se movimentam e brincam com o público. Seguindo a tendência já mostrada no "Gothic Kabbalah" e fugindo um pouco do lance mais épico dos álbuns anteriores. Para se ter uma idéia desta diferença, dê uma olhada no DVD "Celebrators Of Becoming", no show de 2004 no México.

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Os vocais agora estão a cargo de Snowy Shaw (fazendo as vezes dos graves e vocais mais pesados), Thomas Vikström (trazendo o melódico, que era de Mats Levén), Katarina Lilja (mais tradicional, com ótima presença de palco) e Lori Lewis (vocais líricos com perfeição).

Snowy e Katarina participaram das gravações do último CD, mas a grande dúvida na cabeça dos fãs era como soariam os velhos clássicos com esta nova formação. Afirmo que os vocalistas corresponderam ao alto padrão de qualidade das apresentações do Therion, mas é fato que as versões ao vivo estavam diferentes do que nos acostumamos a ouvir nos álbuns. Isso não quer dizer que, especificamente, tenham ficado melhores ou piores; Estão apenas diferentes e menos pomposas, mas sem perder a qualidade.

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O Citibank Hall não estava 100% lotado, mas recebeu um ótimo público para a apresentação. Era interessante notar a faixa etária mais alta do que a maioria dos shows de Metal. Pessoal acima dos 20 anos, sem rodinha de porrada, mas todos cantando e pulando. Lembrou-me bastante o show do Grave Digger em 2003 (e não o de gravação do CD/DVD de aniversário), onde quem compareceu, foram os fãs mesmo, que conheciam todas as músicas e mostraram do que os brasileiros são capazes.

Não tivemos nenhuma banda de abertura e às 22 horas e 5 minutos, as luzes se apagaram e a apresentação começou com "Der Mitternachtlöwe", faixa de abertura do "Gothic Kabbalah" onde um músico entrou de cada vez e se posicionaram com a parte "instrumental" ao centro e um casal de vocalistas de cada lado: Thomas e Lori a esquerda e Snowy e Katarina a direita. Essa formação foi intencional para dividir o grupo simbolicamente entre o limpo (melódico e lírico) e o sujo (gutural e o Metal tradicional). Enquanto Lori e Thomas cantam de maneira mais suave, Snowy e Katarina incorporam as linhas agressivas e arriscavam caretas para o público o tempo inteiro. O set seguiu com "Schwartzalbenheim" do "Secret Of The Runes" e "Blood Of The Kingu" do Sirius B, todas tocadas de maneira impecável.

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A empolgação dos suecos com a resposta do público era visível e não me espantaria se o Therion voltar em 1 ou 2 anos com a idéia de gravar um CD ao vivo por aqui. Christofer Johnsson tem uma ótima presença de palco e passeia para lá e para cá, sempre batendo cabeça e chamando a participação do público. O guitarrista Kristian (com um cavanhaque enorme, a la Scott Ian) e seu irmão, o baixista Johan Niemann, são mais contidos, mas também não deixam de agitar.

A escolha das músicas foi muito bem balanceada entre todos os CDs da fase "clássica". Tivemos boas faixas do "Sirius B" ("Son Of The Sun"), "Deggial" (o clássico "Seven Secrets of the Sphinx"), "Vovin" ("Wine Of Aluqah"), "Secret Of The Runes" ("Muspelheim") e obviamente várias músicas do último CD ("Tuna 1613", "Son Of The Staves Of Time", a ótima "Perennial Sophia", com direito a caracterização dos personagens, entre outras), que afinal de contas, é o que eles estão promovendo. Infelizmente, do "Lemuria", que considero o melhor álbum da década até aqui, a banda tocou apenas duas músicas, incluindo "An Arrow From The Sun", minha música preferida dos suecos, que ganhou uma versão muito bacana, mas conforme já mencionei nos parágrafos anteriores, diferente da original do CD.

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Outro destaque vai para "Rise Of Sodom And Gomorrah", do "Vovin", onde Christofer se empolgou bastante e cantou a letra com o público na frente do palco. Foi um dos momentos altos do show.

Depois da música "Tuna 1613", chegou o famigerado solo de bateria, a cargo de Petter Karlsson. Confesso que fiquei com bastante medo que o show, que vinha tão bem até então, esfriasse, como acontece em 90% das apresentações com esse tipo de solo. Já até escrevi um texto aqui para o Whiplash! sobre o assunto, mas no caso do Therion, eles se superaram e tornaram o momento bastante divertido, com um solo razoavelmente curto e os dois vocalistas, Snowy Shaw e Thomas Vikström, disputando batucadas. Detalhe que Snowy também é baterista e tocou em bandas reconhecidas, como King Diamond e Dream Evil. Não preciso nem dizer quem levou a melhor né? No final, os dois ainda simularam uma luta de esgrima com as baquetas. Mas mesmo com toda a performance, o lance foi curto e não quebrou o ritmo da apresentação. Aprendeu, Mike Terrana?

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O final da apresentação teve "Ginnugagap" e a instrumental "Grand Finale", do Theli. A banda agradeceu e saiu do palco sob os famosos gritos (em versão ensurdecedora) de "Olê, Olê, Olê, Olê, Therion, Therion", que acho que todas as bandas gringas esperam quando vem ao Brasil.

A volta para o bis foi sensacional. O Therion emendou quatro clássicos sem pausa para o público respirar: "Lemuria", "Wand Of Abaris" (ok, essa não é tão clássica assim porque acabou de sair, mas é uma excelente composição), "Cults Of The Shadow" (do álbum "Theli") e a música mais conhecida dos caras, o hino "To Mega Therion" cantado pelos quatro vocalistas em uma versão simplesmente perfeita (provando que as mudanças na banda não afetaram a performance do material antigo). Uma aula de qualidade musical em pouco mais de 10 minutos.

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Quando todos já estavam conformados com o final, uma pequena surpresa e o Therion volta ao palco para uma saideira, o cover de "Thor (The Powerhead)", do Manowar, que já tinha aparecido no álbum "Crowning Of Atlantis", com vocais muito competentes de Snowy. Na verdade, não foi algo improvisado, pois a música constava no setlist oficial distribuído para a imprensa, mesmo assim foi uma escolha perfeita para fechar a apresentação, com direito a todos os integrantes da banda levantando os punhos no símbolo tradicional dos "Kings Of Metal".

Melhor ou pior que a apresentação de 2004? Isso vai da opinião pessoal de cada um, o importante é sempre ressaltar que o Therion sabe MESMO dar um show e encantar seus fãs. No total, foram 23 músicas em 2 horas de show, um belo exemplo para bandas preguiçosas – especialmente algumas finlandesas. Quem não foi, perdeu uma das melhores apresentações do ano.

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Sobre Bruno Sanchez

Paulistano, 26 anos, Administrador de Empresas e amante de História. Bruno é colaborador do Whiplash! desde 2003, mas seus textos e resenhas já constavam na parte de usuários em 1998. Foi levado ao Rock e Metal pelos seus pais através de Beatles, Byrds e Animals. Com o tempo, descobriu o Metallica ainda nos anos 80 e sua vida nunca mais foi a mesma. Suas bandas preferidas são Beatles, Metallica, Iron Maiden, Judas Priest, Slayer, Venom, Cream, Blind Guardian e Gamma Ray.
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