Música Clássica em crise; Heavy Metal e A Nova Música Clássica
Por Luiz De Simone
Postado em 18 de novembro de 2024
O heavy metal e a música clássica compartilham muitas características: ambos valorizam a complexidade estrutural, o virtuosismo e a intensidade emocional. Muitos músicos do metal são fãs declarados de compositores clássicos, como Bach, Beethoven e Wagner, por exemplo, e algumas bandas fazem referências explícitas a esses compositores em suas músicas.
Não me parece despropositado, portanto, vir aqui contar pra você, fã de metal, que a música clássica passa por uma delicada crise. Há décadas que o público que frequenta as salas de concerto vem diminuindo de forma constante. Só pra ilustrar rapidamente, nos anos oitenta 40% dos adultos frequentavam as salas de concerto. Em 2024 esse número desceu para 4%, assustadoramente. Orquestras, salas de concerto, teatros e instituições musicais têm encontrado grandes desafios financeiros, com destaque para a dificuldade em manter seu corpo de apoiadores e patrocinadores. Além disso, o público está envelhecendo e não está havendo renovação, afinal as pessoas não têm se conectado ao que vem sendo produzido na música clássica contemporânea. Os números são alarmantes!
E o que me habilita a vir aqui falar sobre isso? Bom, sou pianista e compositor e minha história foi toda desenhada na universidade, através de uma educação formal de música erudita. Eu era o que podemos chamar de um músico meio bitolado. Pra mim apenas Bach, Beethoven, Chopin e companhia eram dignos de minha admiração e atenção.
Até que um dia entrei para uma banda de prog-metal. Era nos anos noventa e, quase sem querer, por conta da influência de um querido amigo baterista, me vi ensaiando e em seguida me integrando ao Sigma 5, uma banda carioca que teve uma trajetória muito bacana na virada dos anos 2000. Vivi essa aventura do metal por quase dez anos, criando esse elo quase familiar com os membros do grupo e vivendo intensamente a vida de ensaios, shows e gravações. Quem tem banda sabe como é isso.
Posso dizer que entrei na banda sendo um tipo de músico e quando saí, depois da banda encerrar suas atividades, me tornei outro. Minha cabeça se abriu enormemente e minha linguagem como compositor se transformou. Impactante! Como não podia deixar de ser, afinal, em se tratando de metal.
Ter vivido essa experiência é que me faz vir aqui na Whiplash - site que praticamente vi nascer - te contar sobre essa crise da música clássica e também pra dizer que descobri uma pequena brecha, o vislumbre de um caminho que pode ajudar a transformar essa situação. Essa luz no fim do túnel se chama Nova Música Clássica.
A Nova Música Clássica é um movimento musical contemporâneo que une a tradição clássica a elementos atuais, incorporando influências de gêneros como pop, rock, jazz e eletrônico. Com estrutura minimalista e atmosfera introspectiva, seu estilo é geralmente mais acessível e emocionalmente direto. Focada em transmitir sensações e em criar experiências sonoras contemplativas, reimagina a linguagem clássica para o público moderno, mantendo a sofisticação da música erudita em um formato mais leve e conectável.
Veja bem, há neste momento compositores espalhados pelo mundo inteiro, não necessariamente formados pelas academias tradicionais de música, criando um repertório fascinante para piano solo. Eles estão ocupando os grandes teatros, ganhando prêmios ligados ao mundo da música clássica, assinando contrato com as mais antigas e tradicionais gravadoras do mundo clássico e, o mais importante, vendo suas apresentações repletas de pessoas de todas as idades, inclusive os mais jovens!
Criadores como Ólafur Arnalds, Nils Frahm, Hania Rani, Alexandra Stréliski, Yann Tiersen, Ludovico Einaudi, dentre muitos, milhares de outros, estão redefinindo o que é ser um artista clássico no nosso tempo.
O triste é que o mundo clássico formal de modo geral nutre um enorme preconceito por esses compositores e suas obras. Eles são desqualificados e se tornam praticamente invisíveis aos olhos dos músicos e líderes do universo da música de concerto tradicional. Minha luta pessoal é que seu valor seja ao menos reconhecido e que a música clássica possa tirar proveito dessa conexão fabulosa que a Nova Música Clássica tem com as pessoas, servindo como porta de entrada para um vasto público que talvez nunca fosse entrar numa sala de concerto na vida.
O heavy metal e a Nova Música Clássica se inspiram na tradição, são derivações da música clássica, por assim dizer, ainda que explorem terrenos muito distintos. Enquanto um absorveu a energia, o drama e o virtuosismo da música erudita, a outra se conecta a seu lado mais enigmático, expressivo e meditativo.
Meu caro amante de metal, na Nova Música Clássica você não vai encontrar a mesma energia e grandiosidade que se vê tomar forma num show de metal, mas vai reconhecer a busca por profundidade, uma herança harmônica muito semelhante e uma busca incansável por melodias cativantes.
Acredito realmente que você pode se conectar a essas obras e compositores. Embora numa escala de intensidade muito diferente, vai apreciar conhecer esse movimento que reanimou o mundo do piano e está trazendo o público de volta para os grandes teatros. Entendo que você, fã de boa música, vai curtir e valorizar a descoberta desse universo.
E aí, quer conhecer de perto esse repertório, esse mundo da Nova Música Clássica? Então venha ao meu concerto no Teatro das Artes no dia 19 de novembro. É uma terça-feira, véspera de feriado, às 20h! Aguardo você lá e não deixe de falar comigo depois. Vou adorar saber que esse artigo aqui fez você ir até o teatro descobrir essa nova face da música clássica!
Serviço:
A NOVA MÚSICA CLÁSSICA PARA PIANO
com o pianista e compositor Luiz De Simone
Local: Teatro das Artes
Endereço: Av. Rebouças, 3970 – Pinheiros, loja 409, São Paulo – SP (Shopping Eldorado)
Duração: 80 minutos
Data e horário: 19.NOV (terça) às 20hs
Ingressos online pelo Eventim.
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