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Rock e Metal: Bandas se colocam contra o racismo e surpreendem zero pessoas

Por Victor de Andrade Lopes
Postado em 10 de junho de 2020

Nos últimos dias, os Estados Unidos (e o Brasil também) entraram num turbilhão sociopolítico ainda maior do que já estavam. O estopim foi o assassinato do cidadão negro George Floyd pelas mãos - ou melhor, pelo joelho - de um policial branco de Minneapolis durante uma abordagem, sob anuência de três colegas.

Nas minhas redes sociais, acompanho mais de 400 artistas nacionais e internacionais. Muitos pipocaram em minhas linhas do tempo posicionando-se de alguma forma a favor da luta antirracista.

Isso obviamente repercutiu na imprensa especializada e, consequentemente, nas seções de comentários - que deveriam ser abolidas posto que viraram um antro de trolls, disseminação de discurso de ódio, robôs e debates tão ricos quanto minha conta bancária, mas isso é outra história.

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A frase "gostava mais de vocês antes de falarem de política, unfollow" foi repetida à exaustão por representantes dessa geração mimizenta que não suporta ter seus paradigmas abalados. Algumas bandas responderam na base do "já vai tarde", outras tentaram ser mais diplomáticas - como se pessoas que torcem o nariz para o combate ao racismo merecessem tal deferência.

Racismo é um filhote da ignorância, e a disseminação desse tipo de comentário "rompedor de relações" é reflexo disso. Uma das bandas que vi sendo vítima disso foi o Less Than Jake, quinteto estadunidense expoente do ska punk. Sim, eles misturam ska (gênero jamaicano) com punk (a epítome musical da contestação) e ainda por cima contam com um membro nascido no Brasil. Mesmo assim, alguns fãs tiveram a pachorra de achar ruim que eles se declarem antirracistas!

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Não pretendo reproduzir aqui toda aquela história de como o rock (e, consequentemente, o metal) tem raízes na canção negra e é uma música de contestação por natureza. Outros jornalistas mais capacitados do que eu já tiraram bastante suco dessa questão. Antes de avançar na leitura, confira esta música diretaça e ácida do sexteto paranaense Mulamba para já ir se aquecendo pro resto do texto (a letra é sobre feminismo, mas eu precisava de uma desculpa para indicar este incrível grupo parcialmente negro).

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Outro choramingo frequente foi a tentativa de tornar a luta antirracista um braço exclusivo do comunismo (?). Há muitos comunistas no movimento antirracista, não nego. Só que olha só: você não precisa ser comunista para se opor ao racismo. Não precisa ser comunista nem para concordar que o policial em questão exagerou, e muito, na abordagem a George. Sério. Se tiver perdido o fôlego com esta revelação, escuta esta música fresquinha do trio mineiro Black Pantera para se recompor do choque:

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Agora vamos bater um papo reto. Livre-se da "lógica do disjuntor". Aquela lógica binária segundo a qual ou você é isso ou é aquilo. Nem todo mundo que abraça a causa antirracista é comunista. Às vezes a pessoa só tem noção mesmo.

Marias-Vão-com-as-Outras

Uma crítica que vem sendo feita - inclusive por pessoas da esquerda - é a de que gente que sempre cagou pra questão racial agora resolveu abraçar a campanha. Teve até uns casos bem curiosos, como o DragonForce, que apoiou o movimento apesar dos membros Herman Li e Sam Totman terem tocado no Demoniac, grupo que escrevia letras de cunho escandalosamente racista, homofóbico e até pedófilo (Sam se defendeu em entrevista de 2014 à Vice dizendo que era tudo uma "brincadeira").

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Sim, trata-se de um claro sinal de banalização e diluição da pauta. Quando todo mundo resolveu postar conteúdos com a hashtag #blackouttuesday misturada com #blacklivesmatter, acabaram sufocando as vozes negras que usavam a segunda para denunciar mais violência policial e divulgar conteúdos informativos em geral.

É preciso problematizar sim esses artistas que pegaram o bonde andando e certamente o abandonarão quando a opinião pública mudar de foco, mas sem deslegitimar a causa inteira. Fique aqui com um pouco do saudoso Unlocking the Truth, hoje separado:

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"Quando começam os saques, começam os tiros"

Vou sair um pouco da música agora. Tem uma galera que pede o fim da quebradeira de um jeito que me faz imaginá-la interrompendo um show do saudoso Slayer para pedir que eles troquem as guitarras por violões porque senão o som fica pesado demais.

Sem entrar no (de)mérito dos vândalos infiltrados, há uma questão maior aqui: fazer protestos mais enérgicos, com fechamento de vias públicas e fogueiras de lixo só parece exagero pra quem não sente na pele o que os revoltados estão sentindo.

Vi algumas manifestantes explicando para a CNN International que a população negra dos EUA cansou de ser pacífica. Pudera, são décadas pedindo "na moralzinha" por menos truculência e mais respeito sendo que o ser humano só consegue ser paciente por um tempo. Você não é obrigado a apoiar modalidades de protesto que sejam radicais demais para você, mas ao menos se esforce para entender e fuja dos pensamentos prontos.

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Quem sabe o mestre Gary Clark Jr. não te ajuda com "This Land", do álbum mais recente dele:

A luta antifascista no Brasil

O Brasil também andou muito movimentado. Além das repercussões locais da luta antirracista (num país onde muitos Georges são mortos todos os anos), tivemos uma outra causa para promover: o antifascismo. Tal movimento foi uma resposta à escalada autoritária de Bolsonaro e ganhou apoio de toda a classe artística engajada. Vale notar algumas movimentações paralelas e mais recatadas, como o Estamos Juntos e o Somos 70%, também apoiada por nomes relevantes.

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Alguns torceram o nariz para o movimento por conta da forte presença comunista que há nele - uma conexão que tem sentido, uma vez que a bandeira antifascista nasceu a partir do símbolo da Luta Antifascista, agremiação do Partido Comunista da Alemanha.

Mas de novo, não aplique a lógica do disjuntor. E mais do que isso, não seja aquele que pede tolerância à intolerância. Não brade "os antifas agridem quem pensa diferente, eles que são fascistas" (não falei que é uma geração mimizenta?). Foi com base nessa conversa mole que alemães sensatos, porém dóceis propiciaram a ascensão de Hitler a despeito de seu discurso aloprado.

Tentativas de diálogo não faltaram. Desde antes das eleições já se alertava para o perigo que Bolsonaro representava. Os avisos foram ignorados ou minimizados em nome de uma suposta luta contra a corrupção misturada com uma compreensível aversão ao PT. 1,5 ano e muitos bolsominions arrependidos depois, o joio foi separado do trigo com sucesso e essa galera capaz de reconhecer o fracasso do atual governo tem o meu perdão. As alas mais podres da sociedade que seguem apoiando essa criatura cegamente, não.

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Encerremos com este clássico do Living Colour sobre o culto ao chefe - aquele que os bolsominions sempre ridicularizaram nos petistas e agora reproduzem alegremente em seu "mito".

FONTE: Sinfonia de Ideias
https://bit.ly/sinfoniablb

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Sobre Victor de Andrade Lopes

Victor de Andrade Lopes é jornalista (Mtb 77507/SP) formado pela PUC-SP com extensões em Introdução à História da Música e Arte Como Interpretação do Brasil, ambas pela FESPSP, e estudante de Sistemas para Internet na FATEC de Carapicuíba, onde mora. É também membro do Grupo de Usuários Wikimedia no Brasil e responsável pelo blog Sinfonia de Ideias. Apaixonado por livros, ciências, cultura pop, games, viagens, ufologia, e, é claro, música: rock, metal, pop, dance, folk, erudito e todos os derivados e misturas. Toca piano e teclado nas horas livres.
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