Indústria: porque lojas e gravadoras não tem mais interesse em vender música
Por Nacho Belgrande
Fonte: Playa Del Nacho
Postado em 03 de outubro de 2013
O texto abaixo é de autoria de Jeff Price, fundador da spinART e do TuneCore. Sua mais jovem empresa, a Audiam, tem como meta fazer com que os artistas recebam pelo uso de suas músicas no YouTube.
Na nova indústria musical de hoje, de compartilhamento P2P, lojas de download, e streams on-demand, já é difícil o suficiente para um artista fazer dinheiro vendendo sua música. Então o que acontece quando os maiores distribuidores e lojas de música do mundo tem todas as músicas em seu acervo mas não precisam vender nenhuma delas para faturar?
A resposta: receita da venda de música cai para o artista, enquanto ao mesmo tempo, não há impacto financeiro negativo sobre essas novas lojas e distribuidoras.
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Lojas/Serviços Musicais
Diferentemente da loja de ‘discos’ do passado, que precisava vender os CDS e vinis expostos em suas prateleiras para fazer dinheiro, as lojas e serviços digitais de hoje [Pandora, iTunes, Amazon, Spotify, entre outras] podem fazer dinheiro sem JAMAIS vender – ou fazer o streaming – de qualquer música que eles tenham ‘no estoque’. Na era digital em que vivemos, dentre as novas maneiras pelas quais a música está sendo utilizada para dar lucro, a venda ou streaming de música é quase que uma ideia secundária.
Pegue o iTunes, atualmente o substituto mais óbvio para a loja tradicional de discos. Se rolar da Apple fazer dinheiro com a venda de música [o que alguns suspeitam que ela não conseguiu por muitos anos], muito melhor – mas, a proposta principal do iTunes é fazer dinheiro para a Apple ATRAVÉS DA VENDA DE PRODUTOS DA APPLE e ganhando share de mercado para seu sistema operacional.
A Amazon está mais ou menos no mesmo barco, usando a música como um aperitivo para motivar as pessoas a criar contas em seu site, comprar outros produtos que não sejam música [incluindo o próprio serviço preferencial deles], vender mais Kindles, e ganhar espaço no mercado. Isso explica porque ela vende música a um preço abaixo do que compra. A música arrebata esses clientes para os outros produtos e serviços deles. E não é só a Apple e a Amazon. Olhe para o Spotify e outros serviços interativos de streaming. Como é que uma empresa como o Spotify, cujo único modelo de negócio é fazer dinheiro com o streaming de música, não prioriza o faturamento oriundo do streaming de música?
A resposta é: o Spotify não precisa fazer o stream da música que ele tem licenciada e armazenada, tampouco ser mercantilmente viável baseado nas músicas que ele eventualmente realizar o stream, de modo que seus investidores e proprietários cruzem a linha de chegada – que seria vender a empresa ou colocá-la no mercado de ações e fazer bilhões.
Para atingir seu objetivo, o Spotify acredita que deve ter:
1] um grande número de assinantes, um vasto catálogo de artistas;
2] um serviço que os usuários achem agradável, e
3] estar em todo canto.
Fazer dinheiro com música, ou ter a música sobre a qual você comprou direitos em stream, é, nesse momento, uma sub-prioridade. E quando a saída financeira inevitável do Spotify de fato vier, os artistas não ganharão dinheiro algum com isso e esse serviço, apesar de representarem pelo menos metadeda equação. Isso pode explicar porque as grandes gravadoras, sendo que todas tem uma parte do Spotify, não parecem preocupadas com o repasse de royalties que o Spotify efetua.
O olho deles está virado no verdadeiro prêmio: ter um porcentual de uma empresa que seja comprada por bilhões.
Olhe pro Pandora: seus acionistas fizeram uma fortuna quando a empresa entrou pro mercado de ações, apesar de fazer pouco ou quase nenhum lucro. A empresa conseguiu suplantar a relevância comercial da obra musical dos artistas apesar de a música nem precisar ser tocada, nem tampouco pagar aos autores da música um royalty que eles julguem decente.
Na ‘loja de discos’, o ponto de intersecção econômica aonde a arte de fato vai de encontro ao comércio, a pessoa jurídica vendendo a música gera renda sem vender música ou poder perder dinheiro na venda ou stream de uma faixa e ainda assim fazer um troco enquanto o artista ganha pouco ou absolutamente nada.
Os interesses dos artistas e das lojas de músicas não estão mais em convergência.
A tecnologia criou um modo pra que haja pouco ou nenhum risco ou custo no fato de se ter música armazenada em discos rígidos sempre prontos para serviços de compra ou stream. O incentivo para que uma loja venda música e faça dinheiro dessa venda não existe mais. Ao invés disso, a música é usada para vender smartphones, tablets, computadores, mensalidades de assinatura, sistemas operacionais e gerar cotas de mercado. Ou está sendo usada como um atrativo a mais para atrair um comprado, deixando todos os investidores e acionistas ricos enquanto os compositores, editores, artistas e criadores de música com pouco ou nada. O artista é um bem de consumo sendo agregado para se criar a impressão de vastidão de um catálogo musical.
Certamente, ninguém contesta o fato de que os artistas sempre foram um bem de consumo até certo ponto; ou seja, a música deles era um ‘produto’ para ser traficado, vendido ou usado pelos outros para se fazer dinheiro. Desde os estúdios de gravação até as gravadoras, distribuidoras, imprensa, rádio, varejistas – o artista era o meio necessário para muitos fins mercantis de vários interessados. Contudo, na indústria de hoje, há uma PROFUNDA FALTA DE TRANSPARÊNCIA SOBRE COMO E PORQUE O ARTISTA ESTÁ SENDO USADO PARA FAZER DINHEIRO. [...]
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