Alice in Chains: resenha de um show histórico em 1992
Por Brunelson T.
Fonte: Rock in The Head
Postado em 23 de abril de 2019
Em 29 de setembro de 1992, ALICE IN CHAINS lançou o seu 3º trabalho de estúdio, o icônico "Dirt".
Este não era apenas um álbum antigo que viria e depois desapareceria - ele é aclamado como uma obra-prima desde o início.
Seria uma coleção de músicas tiradas em grande parte dos problemas com drogas do vocalista Layne Staley, que havia começado em espiral descendente 12 meses antes, quando estavam em turnê abrindo para o VAN HALEN. Os críticos não podiam acreditar em quão aberto Staley estava sendo em suas letras, que estavam cheias de avisos para ficar longe do que ele estava fazendo para si mesmo.
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Mas as músicas eram tão boas, oriundas dos membros fundadores: Jerry Cantrell na guitarra, Mike Starr no baixo e Sean Kinney na bateria. Foi tão contagiante escutar esse disco lá em 1992, que a mesma banda que fez o álbum de estréia, "Facelift" (1990), estava agora lançando mais um lendário álbum na história do rock.
Vindo de uma ótima estreia, foi um avanço imensurável...
Evidentemente, a desvantagem de "Dirt" era que a banda havia mudado. A fama os tornou mais sombrios, com drogas e caixas ilimitadas de bebidas agora disponíveis abertamente em turnê. A vantagem era que as suas experiências negativas, como muitas bandas antes deles, haviam se transformado em uma beleza tão artística que, ao ouvir "Dirt" do começo ao fim, você quase se sentia violado - não há como negar que "Dirt" foi e permanece de pé até hoje.
Com o ALICE IN CHAINS quase inexistente em turnês no ano de 1992, devido a gravação de "Dirt" e que levou a maior parte da primavera e verão daquele ano, a banda começou uma turnê pelos EUA no outono de 1992 - para coincidir com o lançamento do disco.
No começo não era uma turnê própria, com Ozzy Osbourne pedindo para o ALICE IN CHAINS abrir alguns shows de sua turnê. Na maioria das noites, ALICE IN CHAINS e BLIND MELON foram as bandas de abertura que se revezaram e foi nessa turnê que a banda de Seattle se conectou com Mike Inez - na época, ainda baixista de Ozzy Osbourne e que virou membro do ALICE IN CHAINS em tempo integral no começo de 1993.
No final de 1992, ALICE IN CHAINS montou alguns shows de manchetes por conta própria, sendo que alguns dos locais foram os maiores até aquela data com o grupo sendo headliner. Seria uma medida de quão longe a banda chegou em seu curto tempo juntos e em dezembro, a banda foi contratada para tocar em duas noites no famoso Hollywood Palladium (foto acima), com capacidade para 4.000 mil pessoas.
Ambas as noites esgotaram os ingressos em 01 hora.
Agora, peço desculpas pela interrupção e gostaria de explanar que o texto escrito acima foi formulado a partir de várias revistas que possuo das antigas, livros autobiográficos, pesquisas in loco em sebos e gratas lembranças de quando a MTV era um canal de música de verdade no começo dos anos 90. Desde 1991, onde fui fisgado pelo grunge, gravei mais de 10 fitas de vídeo-cassete com vídeo clipes, entrevistas e documentários de várias bandas.
O relato a seguir é de um fã que assistiu a 1ª noite de shows do ALICE IN CHAINS no Hollywood Palladium, Los Angeles, em 15 de dezembro de 1992. Esta resenha foi retirada da revista Spin de 1993.
A 1ª noite do ALICE IN CHAINS no Palladium aconteceu apenas 77 dias após o lançamento de "Dirt" e é amplamente conhecido como um dos melhores shows deles. Naquela época, a banda decidiu entrar no palco de uma forma quase clássica, lembrando um jovem Alice Cooper.
Um dos membros da equipe de produção que trabalhou no local, explicou: "Nós realmente não tínhamos visto nada assim antes, então, eles pediram para que tivessem uma grande cortina branca erguida na frente do palco. Eles tinham os seus próprios roadies para que todos estivessem a bordo e eu só tinha que ter certeza de acertar o sinal, até a cortina cair no momento exato. Aquele momento certo teve que ser na hora em que a guitarra e o vocal entram juntos e foi uma grande emoção. Aparentemente, eles fizeram isso em todas as noites naquela turnê".
Em 15 de dezembro de 1992, com os holofotes da casa apontados, cada membro do ALICE IN CHAINS estava de pé, atrás da imensa cortina branca. Eles aparecem em silhuetas, sendo que o mais eficaz foi Layne Staley, cuja sombra oscilava de um lado para o outro. A multidão esgotada já está fazendo uma festa e a atmosfera é elétrica. Você olha para o teto do Palladium que permanece firme desde 1940, desconfiado devido a trepidação e barulho da multidão.
Então, a bateria estrondosa de Sean Kinney entra em ação, Jerry Cantrell acelera a sua guitarra e o baixista Mike Starr já está girando em movimentos de 360 graus - a sua marca registrada de dança. A cortina cai e Layne Staley grita para o público lotado de Los Angeles: "Eu quebrei você no canyon / Eu afoguei você no lago". É o começo da canção "Dam That River" e todo mundo está cantando junto - eles já conhecem as músicas e letras do álbum "Dirt".
De pé na frente do palco, este é o seu foco para a noite: Layne Staley vestido afiadamente em uma jaqueta de couro com os seus óculos escuros - ele é cheio de energia e está em forma.
De fato, toda a banda está energizada! Eles tiveram apenas 04 dias de descanso em seu último show, que aconteceu em Boulder, Colorado, e é fácil sentir a agitação dentro da banda e da multidão naquela primeira, de duas noites.
"O Natal chegou 10 dias antes em Los Angeles!", grita um fã enquanto a banda termina a música "Dam That River" e entra direto na canção "We Die Young". A música começa com o tênis de alguém sendo jogado para o ar e termina com outro tênis sendo jogado no palco, mas quem se importava quando a música ao vivo era tão boa?
No final da música "We Die Young", os gritos são quase ensurdecedores quando a multidão já parece estar cansada, mas a banda continua o seu ataque quando Staley emite os gritos clássicos da canção "Them Bones", que a multidão só responde num volume ainda maior. O grupo não está querendo enrolar hoje à noite e pretende lançar música após música, sem conversa...
Eis que surge o lindo baixo de Starr apresentando a clássica "Would". Há uma galera de surfistas que tentaram se conectar com Staley, com um fã sendo levantado ao palco e cantando junto com ele a parte final.
No término da canção, Staley dá um tempo na frente do ventilador, apenas para que não seja uma tarefa aparentemente impossível de cantar a próxima música, "Love Hate Love". Com a famosa introdução da guitarra de Cantrell, a bateria sombria de Kinney e o baixo de Starr, todos entram em ação desde o 1º verso, com os fantásticos vocais de Staley preenchendo o ar - enquanto ele derrama os seus sentimentos emocionais no microfone. Em um ponto, Starr consegue olhar para o teto, cuspir e depois ver o cuspe cair até o chão, sem perder uma nota. O solo impressionante de Cantrell também é um destaque.
Enquanto a canção "Love Hate Love" diminuiu um pouco o ritmo da plateia, a intenção da banda nunca foi essa e eles lançam a próxima música, "Junkhead". Starr está batendo cabeça junto com a bateria de Kinney, Cantrell está sem camisa e Staley canta a próxima música também lançada no disco "Dirt", "Godsmack", agachado durante quase os 04 minutos inteiros.
No momento em que o grupo lança a canção "Bleed The Freak", a voz de Staley é tão forte que durante os momentos mais calmos, você pode ouvi-la vibrar pelas paredes lotadas do local. Talvez a única música da noite que parece fora do lugar seja "Put You Down", também lançada no álbum "Facelift", levando o grupo de volta aos seus dias de bar em Seattle como banda de garagem - mas algum entusiasmo se perde entre eles, com o público claramente querendo o material mais pesado.
Então, quando a próxima canção da banda é "Sickman", esse desejo é correspondido. É uma versão envolvente com um magnífico show de luzes, onde Cantrell toca como se estivesse eletrificado.
A música "It Ain't Like That" segue para aplausos estrondosos e sempre uma das favoritas dos fãs, que inclui Starr saltando do palanque da bateria. Durante a canção, Staley faz o primeiro dos seus 02 mergulhos do palco.
Mergulhando bem durante o solo de guitarra, ele é capaz de correr de volta ao palco, perdendo apenas uma palavra do próximo verso. Nada mal vendo por este ponto, porque a banda está tocando num ritmo tão implacável que no final da canção, eles têm uma pequena pausa que inclui um "concurso de bateria". Isso era algo que Sean Kinney faria regularmente na turnê, onde um fã era convidado a subir no palco para tocar bateria.
Hoje à noite foi a vez de Michael, que parece que vai cagar nas calças... O seu grande momento na bateria é parado por Kinney, lhe dizendo: "Ok, pode ir embora".
Aproveitando o ensejo e numa aparição surpresa, Chad Smith, baterista do RED HOT CHILI PEPPERS, sobe ao palco e mostra a Michael como se faz, com Kinney permanecendo como comediante de palco e informando a Smith que Michael era melhor - mas que ele quase chegou perto.
Depois desse interlúdio, Staley pega a guitarra e com algum incentivo de Cantrell, a banda lidera a canção "Hate to Feel" e depois se despede, o que, é claro, nos leva ao encore break.
Retornando, o grupo começa com uma versão empolgante da clássica "Angry Chair", depois que Staley pergunta à platéia: "Mais uma?" E sem perder o ritmo, ALICE IN CHAINS lança o seu mega hit, "Man in The Box". Depois do segundo verso da canção, Staley decide escalar em 02 monitores - que tinham mais de 03 metros cada um - o forçando a entregar seu microfone para um roadie. A multidão sente o que vai acontecer a seguir e do alto, Staley mergulha neles. Ele então, retorna ao palco para finalizar a música e o show está acabado.
Com certeza, foi uma experiência emocionante tanto para a banda quanto para aqueles fãs que estavam presentes - um show que ninguém da platéia deve ter esquecido, mesmo 27 anos depois.
Setlist
1. Dam That River
2. We Die Young
3. Them Bones
4. Would
5. Love Hate Love
6. Junkhead
7. Godsmack
8. Bleed The Freak
9. Put You Down
10. Sickman
11. It Ain't Like That
12. drum solo with Chad Smith
13. Hate to Feel
Encore Break
14. Angry Chair
15. Man in The Box
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