Aquiles Priester: o que deu errado na caótica entrevista a Jô Soares em 2012
Por Igor Miranda
Postado em 26 de abril de 2021
Em setembro de 2012, o baterista Aquiles Priester participou do "Programa do Jô", na TV Globo, e levou sua banda, o Hangar, para uma apresentação acústica. A entrevista acabou não saindo como o planejado, com Jô Soares perguntando diversas vezes por que o músico não havia levado sua bateria completa para demonstrar sua técnica de bumbo duplo, com os pés, ao público.
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Quase uma década depois, Aquiles foi convidado a relembrar-se daquele fatídico episódio em entrevista ao Podihhcast. Conforme transcrito pelo Whiplash.Net, o baterista revelou o que deu errado naquele dia e expressou sua frustração pelo ocorrido.
O que rolou no programa do Jô
Antes, vale relembrar o que aconteceu durante a participação de Aquiles Priester no programa de Jô Soares, exibida em 26 de setembro de 2012. O assunto principal da entrevista era o fato de o músico brasileiro ter sido eleito o quinto melhor baterista do mundo pela revista especializada Modern Drummer - algo que nem foi citado durante a conversa.
Na época, ele também divulgava o álbum acústico "Acoustic, But Plugged In!", com o Hangar, e o livro "Aquiles Priester: de fã a ídolo". Apesar de todos os "ganchos" para o bate-papo, o músico foi chamado ao palco da seguinte forma: "Ele não quis mostrar aqui (a técnica na bateria), acho engraçado isso. O negócio dele é ser baterista, um craque, o polvo, mas aqui é um monopolvo. Não trouxe a bateria. É um preguiçoso. Aquiles 'Polvo' Priester', venha para cá".
Após conversar um pouco sobre as origens do entrevistado, Jô voltou a citar que Aquiles "ficou de trazer, mas não trouxe" a bateria completa, com o bumbo duplo. Em seguida, o músico contou como começou a tocar o instrumento - e o apresentador acabou perguntando por que ele "não quis" trazer seu kit na íntegra.
Priester contou a Jô, inicialmente, que não levou a bateria completa porque preferia "mostrar seu trabalho com o Hangar", que era acústico, e a história da banda. "Também acho, mas uma coisa não invalida a outra", comentou o apresentador, que, inconformado, comparou o músico a David Copperfield - o ilusionista concedeu entrevista ao programa anteriormente, mas não realizou nenhuma mágica.
Com a insistência de Jô, Aquiles acabou entregando o que seria a verdade: a produção pediu para que fossem tocadas músicas em um estilo mais leve, acústico, que tivesse mais a ver com o programa. Jô chegou a dizer: "Já percebi convidado que vende uma pauta, chega aqui e fala de outro assunto".
Por fim, foi exibida uma filmagem com uma pergunta enviada por Vera Figueiredo. A baterista pediu para que Aquiles Priester mostrasse o segredo para sua velocidade com os pés - o que deixou o músico sem reação, já que, novamente, a bateria não estava lá. Jô acabou pedindo desculpas pelas brincadeiras e anunciou o show acústico do Hangar.
Assista à entrevista de Aquiles Priester a Jô Soares no site do Globoplay. Confira também a performance acústica do Hangar na plataforma.
Aquiles Priester se explica
Ao Podihhcast, Aquiles Priester relembrou que o vocalista e amigo Theo Vieira conseguiu uma pré-entrevista do baterista com Miriam, produtora do "Programa do Jô". "Conversamos por três horas, ela falou que a pauta estava incrível e que seria uma grande entrevista. Fiquei ansioso. Fui o primeiro músico de metal que sentou ali sozinho, sem uma banda", afirmou.
A profissional disse que precisaria de um show do Hangar em formato acústico, mais leve, para ser exibido durante o programa, junto da entrevista. "Falei que estávamos lançando um DVD acústico e ela disse que era perfeito. Fechamos um set acústico, que é o oposto do normal: tem um bumbo só, não tem nem pedal duplo. Gravamos o set acústico (antes da entrevista) e foi tudo ok", disse.
O problema começou quando o show acústico já estava gravado. "A Miriam falou: 'o Jô pediu para você deixar a bateria porque ele vai pedir para você tocar algumas coisas com dois bumbos'. Eu falei: 'mas essa bateria não tem dois bumbos, dá tempo de montar?'. Ela falou que não, que teria que ser naquela, mas aquela não tinha dois bumbos, nem pedal duplo. Aí você vai explicar para uma pessoa que não entende... a pessoa pensa que você quer passar a perna", comentou Aquiles.
O baterista acabou sentindo o "climão" logo ao ser anunciado por Jô Soares como "preguiçoso". "Eu entrei e ele já começou: 'por que você não quis montar a bateria?'. Eu via a pauta passar no teleprompter e pensava: 'mas ele deveria estar falando outra coisa'", declarou.
A situação deixou Aquiles ainda mais chateado porque a bateria estava dentro do ônibus da banda, estacionado em frente ao estúdio. "Eu levo essa bateria dentro do meu ônibus. Viajava dias para ir até o Nordeste, levando bateria, P.A. e tudo... você acha que eu não queria levar a bateria para o Jô?", explicou.
Ele reforçou: "Não faz o menor sentido. As pessoas sabem que eu levo a bateria para todo lugar. Eu dirigi a Transamazônica, fui até Euclides da Cunha, Altamira, levando a bateria. O pior é que o ônibus do Hangar estava estacionado na frente da Globo o dia inteiro com a bateria inteira montada lá dentro. Toda hora, eu perguntava se não precisava trazer, mas falaram que era só o acústico".
Entre o show acústico e a entrevista, tentaram fazer com que Aquiles improvisasse com a bateria reduzida que estava montada - o que ele recusou. "Pediram para que a bateria do acústico ficasse montada e eu falei que não, pois não fui até ali para sair vendido do jogo. Se você quer que eu toque acústico, preparo acústico. Se quer metal, que é a coisa que faço todos os dias, preciso das minhas ferramentas, que eu não tinha. Eu não ia tentar improvisar, porque ficaria gravado eu me f*dendo", disse.
Por fim, Aquiles deixou claro que não se arrepende de ter se recusado a improvisar sua técnica em uma bateria reduzida. "Falar 'não' para a produção da Globo é muita responsabilidade. E é tipo: 'se o cara não quer, ok, vou f*der ele'. Mas não me importo com esse tipo de coisa. O importante é quando você tem certeza de que fez tudo aquilo que precisava ser feito", concluiu.
Assista à entrevista ao Podihhcast a seguir (a partir de 1h12min):
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