A justificativa de Eric Clapton em 1965 para sua saída do Yardbirds
Por André Garcia
Postado em 26 de julho de 2022
1965 foi o ano em que os Rolling Stones estouraram com o lançamento de "(I Can't Get No) Satisfaction", e os Beatles surpreenderam com seu amadurecimento musical em "Rubber Soul". E mesmo assim um dos fatos que sacudiram o rock britânico foi a saída de Eric Clapton do Yardbirds, banda onde ele era tido por muitos como o membro mais importante. A notícia pegou a todos de surpresa, ainda mais pela separação ter ocorrido pouco antes de "For Your Love" chegar ao topo das paradas.
Conforme resgatado pelo canal Yesterday's Papers no YouTube, naquele mesmo ano o guitarrista contou à revista Rave o que o levou a deixar a banda. A matéria o descreveu como "um músico compulsivo que sacrificou a fama por sua crença em sua própria música. Aos 20 anos, ele é inteligente, sensível e altamente profissional." O autor registrou ainda que ele "apertou minha mão, mas não sorriu a princípio. Sua boca estava tensa, e suas mãos nos botões de sua jaqueta."
"Não quero criticar o Yardbirds", adiantou o Slow Hand, "porque pareceria ressentimento. Eles são a melhor banda de pop e R&B, e podem ser incrivelmente bons. Sinto saudades de muita coisa em relação a eles e aquela velha vida, principalmente as noites no Marquee [Club]."
Em outra entrevista o baterista Jim McCarthy revelou que ao entrar para o Yardbirds, Clapton logo começou a chamar cada vez mais atenção do público:
"Nossa banda era na época a típica banda que girava em torno do vocalista. O vocalista era o frontman, então toda a atenção ia para o Keith [Relf]. Depois de um tempo, quando ele [Eric Clapton] tocou com a banda, notamos uma multidão se formando do seu lado do palco. Um monte de garotas, e homens também, sabe, muito interessados no que ele estava fazendo."
Quando perguntado pela Rave se fora da banda ele era uma pessoa solitária, a resposta de Eric foi sincera: "Sim, para falar a verdade, eu sou. Mas não tão solitário quanto eu era com o Yardbirds. Naquela época era uma questão de estar sozinho em meio a uma multidão, que é o pior tipo de solidão. Eu vivi como parte do Yardbirds até que me vi completamente deslocado com aquilo: eu não conseguia falar e ser entendido, e eles não conseguiam falar comigo também. Nós simplesmente não conseguíamos nos comunicar."
"['For Your Love'] fez tanto sucesso que eu queria ter ficado um pouco mais — o dinheiro teria vindo bem a calhar. Eu estaria mentindo se dissesse que não pensei isso depois. Mas a coisa chegou a um ponto entre nós que eu não teria como encarar."
O guitarrista se queixou ainda de que a exploração e pressão a que as bandas eram submetidas faziam com que elas implodissem: "Eu acredito que muitos grupos pop são explorados demais, não dá para evitar perder parte do sentimento. E a tensão entre os membros pode facilmente se acumular. Tocando todas as noites, você vira uma máquina. Você é programado para tocar; tem que fazer sua parte direito para que o empresário não grite com você. Você perde a consideração por seus colegas de banda. E aí a tensão toma conta."
Sobre a saída de Eric Clapton do Yardbirds, o vocalista Keith Relf disse: "Eric é um verdadeiro blues man. Ele curte música ousada, profunda, nós estamos tocando um R&B acessível. Excesso de trabalho e o conflito de personalidades causaram o problema, mas nós seguimos caminhos diferentes como bons amigos."
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