David Gilmour relembra "coincidência extraordinária" em último encontro com Syd Barrett
Por André Garcia
Postado em 12 de março de 2024
Com "Revolver", "Fresh Cream" e "Pet Sounds", os Beatles, o Cream e os Beach Boys deram início ao rock psicodélico e plantaram as sementes do progressivo em 1966. No ano seguinte, seguindo seus passos, lançaram seus álbuns de estreia The Doors, Jimi Hendrix e Grateful Dead, Pink Floyd…
O debut do Pink Floyd, "The Piper at the Gates of Dawn", diga-se de passagem, foi gravado nos estúdios Abbey Road enquanto os Beatles na sala ao lado trabalhavam no "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band".
O Pink Floyd brilhou na cena londrina com suas músicas experimentais, suas longas sessões de improviso e seu show de luzes. Em 1968, entretanto, problemas psiquiátricos foram afastando da banda seu líder Syd Barrett, que acabou substituído por David Gilmour.
Syd e Gilmour eram amigos de longa data, mas perderam contato a partir do começo da década de 70 — enquanto o primeiro "enlouqueceu" e desapareceu dos holofotes em uma vida reclusa, o segundo passou a viver na estrada. A última vez em que eles se viram foi quando Syd, gordo e careca, irreconhecível e aparentemente pouco lúcido, um dia apareceu sem mais nem menos no estúdio enquanto o Pink Floyd gravava o álbum "Wish You Were Here" — uma homenagem a ele.
À Uncut em 2015, David Gilmour relembrou como foi aquilo.
"Durante anos após sua saída, Syd foi o elefante na sala quando se tratava do Pink Floyd. Ele era a cola que unia todos nós. Ele conhecia Roger [Waters], Rick [Wright] e Nick [Mason] desde a primeira formação da banda; obviamente, antes de eu entrar. Mas eu e Syd também éramos amigos íntimos, desde antes da banda."
"Foi uma coincidência extraordinária que, pouco após terminarmos de gravar 'Shine On [You Crazy Diamond]', Syd tenha entrado no estúdio em Abbey Road. A memória de todos sobre o evento é um pouco nebulosa. A minha lembrança é de um sujeito bem rechonchudo andando pelo estúdio 3 enquanto estávamos mixando na cabine de controle. Só Deus sabe como ele conseguiu passar pela segurança - que era bem rígida época. [...] Demorou um pouco para que a gente descobrisse quem era, pois ficamos meio que abalados com sua aparência diferente. Tivemos uma conversa com ele. Quando tocamos para ele um pouco do material em que estávamos trabalhando, ele achou que era muito bom, 'mas um pouco longo'."
"Eu gostava de me lembrar do Syd da minha adolescência, esse amigo doce, louco e divertido com quem eu ia para a França e andava de ônibus; e o mais terrível é que eu não conseguia comparar essa figura com a pessoa em que ele se transformou. A questão é que seus problemas mentais sempre atacavam quando a banda vinha à tona. Por isso, sua família preferia que os membros do Pink Floyd não o visitassem, pois isso poderia desencadear outra crise. É surpreendente pensar que aquele momento no Abbey Road foi a última vez que o vi."
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