A palavra alterada na 2ª versão de "Alvorada Voraz" do RPM que altera sentido original
Por Gustavo Maiato
Postado em 13 de dezembro de 2024
A canção "Alvorada Voraz", da banda RPM, marcou os anos 1980 ao criticar os abusos e contradições do Brasil durante a ditadura militar. No entanto, a letra foi adaptada em 2002 para refletir um novo cenário político e social. Segundo o artigo "Revoluções por minuto: Retrato do Brasil nos anos 1980 e as perspectivas de um novo milênio na canção Alvorada Voraz da Banda RPM", de Adenilson Moura Vasconcelos, publicado na revista REVDIA, as alterações revelam a continuidade de problemas históricos do país.
Uma mudança significativa está na substituição de uma frase marcante: na versão original, de 1986, lia-se "e juram que não torturam ninguém". Já na nova versão, o verso foi reescrito como "e juram que não corrompem ninguém". A troca ilustra como o principal símbolo de indignação pública migrou da tortura, característica do regime militar, para a corrupção, um dos maiores escândalos do novo milênio.
Outro ponto curioso levantado no artigo é a personalização das denúncias na letra de 2002. Ao invés de mencionar escândalos dos anos 1970 e 1980, foram incluídos nomes de figuras públicas envolvidas em casos de corrupção contemporâneos. Entre os citados, aparecem Paulo Maluf, preso apenas em 2017, e Nicolau dos Santos Neves, ex-juiz federal condenado por desviar milhões de reais do Fórum Trabalhista de São Paulo.
Essas atualizações na letra também apontam para a persistência desses problemas ao longo das décadas. Como observa Vasconcelos, "muitos dos personagens envolvidos em casos de corrupção continuam ativos na política ou em outras esferas de influência. Se uma nova versão fosse escrita hoje, certamente não faltariam escândalos para inspirar a composição, reforçando a ideia de que, como sugere a letra, vivemos um eterno ciclo de incertezas, em um filme que insiste em se repetir".
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