A capa que melhor conseguiu traduzir um título de álbum do rock nacional
Por Gustavo Maiato
Postado em 22 de fevereiro de 2025
Lançado em 1988, "Ideologia", de Cazuza, se consolidou como um dos álbuns mais emblemáticos do rock brasileiro. As letras refletem a inquietação política e existencial do cantor, que já enfrentava os efeitos da AIDS. Mas não foi apenas o conteúdo das músicas que chamou atenção: a capa do disco também se tornou um símbolo poderoso.
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Criada pelos artistas plásticos Barrão e Luiz Zerbini, a arte do álbum reúne elementos aparentemente aleatórios recolhidos na praia após uma tempestade. Bonecas quebradas, pedaços de plástico, objetos descartados — todos reorganizados de forma caótica e simbólica. O resultado foi uma capa que, além de traduzir visualmente o nome do álbum, carregava uma mensagem de questionamento e provocação.
O músico e produtor Nilo Romero, que trabalhou com Cazuza no disco como produtor e baixista e coescreveu o hit "Brasil", lembra detalhes sobre a concepção da capa e seu impacto. As falas foram transcritas de uma live no canal Pitadas do Sal.
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"Eu tenho uma versão original, com um tipo de papel diferente. Essa capa tem a suástica e a Estrela de Davi juntas. Ela é só para quem estuda, aí consegue entender. Quem fez foi o Barrão e o Luiz Zerbini. O Zerbini eu amo, todas as exposições dele eu vou. Uma vez teve uma no CCBB, no Rio, e fui duas vezes. Eu queria entender como foram feitas essas fotografias. Quando cai uma chuva, um temporal, na praia surgem um monte dessas porcarias na areia. Se você vê, tem pedaço de espremedor de frutas, pedaço de boneca. Eles foram na praia, cataram e fizeram a capa."
Para Nilo, essa é a capa que melhor representa um título na história do rock nacional. "Ela é bem a cara do Cazuza. É inspirada nas obras do Bispo do Rosário. Essa capa é a que mais traduz o nome de um álbum. Acho que poucas têm esse poder de traduzir o nome mesmo do disco. Foi o que precisava ser, chamou atenção e cumpriu seu papel."
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A jornalista Julliany Mucury, autora do livro Renato, o Russo, comentou sobre o caráter provocativo da arte. "Essa ideia da capa foi muito provocativa. Ele faz muitas referências e provocações. Ela joga um monte de ideologias no liquidificador para refletirmos sobre o quão positivo ou negativo isso pode ser. É dar rótulo e minimizar as ideias."
O jornalista Sal, do canal Pitadas do Sal, reforça que a identidade visual do disco acompanha sua proposta musical. "Ela traduz muito o conceito do álbum, não que nos outros não houvesse isso. O Só se for a dois tinha algo assim, mas em Ideologia, a capa ilustra muito bem a temática que o Cazuza quis trabalhar. Ela gerou polêmica."
Confira a live completa abaixo.
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