Doro Pesch no Bangers Open Air: Um reinado não é dado, é merecido

Uma das headliners de todo o festival, ficou a cargo da conhecida "Rainha do Metal" encerrar as atividades do 1º dia do Bangers Open Air no Ice Stage, um dos palcos principais. Já era esperado que a pista tradicional estivesse em grande movimentação, porém mesmo a área separada da frente estava bastante tumultuada com o espaço dedicado ao palco que iria testemunhar algo que os familiarizados com a contracultura headbanger honram e respeitam: é mais do que um show; é um estilo de vida.

Fotos: Diego Camara

Doro Pesch - Mais Novidades

Só é apropriado um palco principal do festival da música extrema com o maior escopo do Brasil como o local digno de uma das primeiras integrantes da banda alemã formada no longínquo ano de 1982, o WARLOCK. Precisamente às 19:24, 1 minuto antes do planejado, o som de fundo ficou em silêncio, e a iluminação ficou em escuridão, com a acústica humana dos ali presentes respondendo em imediato para o que estava prestes a acontecer. Era a hora e a vez de DORO.

ATÉ AS ESTRELAS SE CURVAM DIANTE DA SUA CHEGADA

Assim que todos chegaram ao palco, a erupção sonora que ocorreu no grande Memorial da América Latina tem nome: "I RULE THE RUINS" foi o cartão de visitas na forma de decibéis elevados que dominou o ambiente do Memorial da América Latina como um todo. Se após uma tarde tão brilhante quanto o forte calor que devastou o solo paulista horas antes, a energia contagiante e envolvida com pureza emanada por Doro era exatamente o "espinafre do Popeye" que os corpos cansados precisavam para aqueles que estivessem fazendo um passeio pela terra dos cansados.

Logo de cara, os entusiastas do WARLOCK seriam agraciados com a aparição da icônica banda, dispensando quaisquer cerimônias. "EARTHSHAKER ROCK" possuiu os ouvidos com um som que de tão potente, poderia ser ouvido até quem estava no Terminal Rodoviário da Barra Funda, voltando para casa após um dia duro de trabalho, e que não tinha nada a ver com o festival.

Prosseguindo com o repertório, outro petardo do 1º álbum da sua banda anterior deu o ar da graça: "BURNING THE WITCHES". Seja por acaso ou por design, antes de ser anunciada, a vocalista alemã aproveitou para fazer um trocadilho com o quinteto das BURNING WITCHES apresentar na manhã do dia seguinte, e coincidentemente no exato mesmo palco. Após perguntar se o público estava animado em estar presente para prestigiar a banda suíça, a resposta foi um desafio imposto aos que gritaram para ver se as suas vozes rivalizavam com o áudio dos instrumentos.

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A energia tão grandiosa deste que demonstrou ser a definição no dicionário do termo ESPETÁCULO era o suficiente para arrancar sorrisos descontrolados no epicentro da multidão (nota do escritor: coisa que aconteceu com este quem escreve), até para quem possui vasta experiência no ramo e está no seu primeiro show desta que é popularmente conhecida como a "Rainha do Metal", título este que não precisa de um longo artigo explicando detalhadamente as razões: quem a vê em ação entende claramente o porquê, em especial quando "FIGHT FOR ROCK" entra em cena.

Uma pessoa sozinha ajuda a fazer a diferença, mas os créditos são merecidos a todos que fizeram esta conjuração ambiental de retorno aos anos 80. Os mestres da prática incluem o brasileiro Bill Hudson na guitarra, corriqueiramente indo para o limite onde se localizava o palco, encontrando apoio nas caixas de retorno para agitar todo mundo. Bas Mass era o seu parceiro de guitarra, um pouco menos expressivo, mas que não fica atrás na questão tecnicidade.

Danny Piselli estava lá atrás na bateria, substituindo onde Johnny Dee originalmente estaria, devido ao fato de estar participando das gravações do novo álbum do Tyketto. Nick Mitchell estava presente nas atividades do baixo, completando este autêntico Quinteto Fantástico.

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Se até agora o ouvinte não foi convencido, foi exatamente com a aparição do dueto "TIME FOR JUSTICE" e "RAISE YOUR FIST", vindos da sua carreira solo, que um TSUNAMI dos anos 80 tomou de assalto o Ice Stage, e não seria algo considerado "fora do lugar" para os que viveram a época mencionada receberem a invasão de um flashback em suas memórias. Mas é comumente dito que "o melhor ainda está por vir", e esta frase não poderia ser mais precisa para o que estava aguardando todos os presentes.

E eis que chegamos ao ponto mais alto da apresentação, acompanhada da devastadora "FÜR IMMER". Devastadora não de maneira agressiva, mas de uma outra variante do termo "impactante". Uma canção profundamente enraizada com emoção que parece vir não do coração, mas da voz da alma, e justamente por isso que a Rainha do Metal se vestiu com uma bandeira do Brasil durante a sua exibição. Existe uma expressão na gringa não muito usada aqui no Brasil chamada "O Diabo está nos detalhes", que basicamente quer dizer que o que mais importa não é o resultado em si de um processo, mas sim que o desenrolar do próprio pode vir de n maneiras. Ou seja, a forma como Doro a fez que torna o gesto tão memorável, e que um texto não seria poderoso o suficiente para conseguir traduzir o que foi exposto neste momento. Gesto este merecidamente ovacionado em união, e não poderia ser diferente.

Bill Hudson conduziu este momento dignamente atrás dos teclados, e na hora de um coro da plateia, a própria Rainha ficou impressionada com o volume dos que a acompanharam.

"FIRE IN THE SKY", do último álbum (Conqueress - Forever Strong And Proud) e expressamente mencionada como composta por Bill antes de ser tocada, entrou na sequência. Uma vibe bastante Speed Metal com uma produção moderna envolveu o Memorial, e testando quem realmente estava apreciando o que estava sendo testemunhado, porque o que ela invoca é um headbanging contínuo o qual somente os familiarizados sabem fazer na duração da canção inteira, mantendo o pescoço intacto.

UM REINADO NÃO É DADO, É MERECIDO

Após perguntar se o público gosta de um Judas Priest, todos foram pegos de surpresa com um cover da clássica "BREAKING THE LAW", com direito à famosa balançada do quadril durante aquela parte. Se muitos estavam tímidos a aproveitarem o show de uma maneira mais "selvagem", foi aqui que parte da plateia se sentiu segura ao abrir um moshpit para levar a diversão a um outro nível.

Sob uma análise mais detalhada, "ALL WE ARE" é uma declaração de intenção. Mesmo o Bangers Open Air sendo uma comunhão do Metal, há diferenças substanciais entre os subgêneros, e nenhuma pessoa acabará gostando de todo o "cardápio" (por assim dizer) do festival, mas o significado que "ALL WE ARE" carrega é que, em seu núcleo, somos todos unidos pelo mesmo ideal de uma contracultura que possui mais de meio século de existência. Pontos bônus por ela ter o refrão mais cativante de toda a sua vasta carreira.

Alimenta o interior do nosso ser ver que, mesmo aos 60 anos de idade, Doro exala um nível de carisma e uma energia que poucos mortais na Terra possuem a capacidade de chegar perto. Seu sorriso e seu vigor legítimos falam muito mais alto do que um discurso emocionante ao demonstrar em ações que ela realmente ama o heavy metal, além de tratar com carinho aqueles que dão suporte a ela. Deve ser mencionado que, assim como o lendário KING DIAMOND, a própria se garante em estar acompanhada de musicistas com alto grau de profissionalismo.

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Após a abertura do último disco do WARLOCK (Triumph and Agony), os trabalhos do primeiro dia de um dos palcos centrais do Bangers Open Air foram finalizados. E sendo brutalmente sincero, poucas opções são tão merecidas para serem encerradas desta forma. Tanto os entusiastas pela carreira solo da Rainha, como os que adoram o WARLOCK foram bem servidos nesta que é forte candidata em ser a melhor apresentação de todo o festival.

Em um mundo governado por um individualismo atomista, ser infectado pela simpatia astronômica e pura em seu esplendor da alemã chega a ser uma sensação quase alienígena nos dias de hoje.

E uma coisa é garantida: mesmo quem coloca a categoria de "Rainha do Metal" a outra pessoa, após isto aqui, alguns saíram entendendo o porquê deste título ser largamente atribuído a ela em específico (nota do escritor: este aqui é o meu caso).

Repertório:

1) I Rule The Ruins
2) Earthshaker Rock
3) Burning The Witches
4) Fight For Rock
5) Time For Justice
6) Raise Your Fist
7) Metal Racer
8) Für Immer
9) Hellbound
10) Fire In The Sky
11) Breaking The Law (Judas Priest cover)
12) All We Are

Bangers Open Air

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