As duas músicas do Ultraje a Rigor que Raul Seixas usou para ilustrar crise da juventude
Por Gustavo Maiato
Postado em 08 de junho de 2025
Em 1988, durante uma entrevista à FM Record, resgatada pelo canal do Djailson, Raul Seixas fez uma crítica ao que via como empobrecimento da música feita no Brasil. Sem meias palavras, o cantor citou versos de duas faixas da banda Ultraje a Rigor, que ganhava popularidade na época, para exemplificar sua visão de que o rock nacional atravessava um momento de crise criativa e intelectual.
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Para ele, canções como "Pelado" e "Inútil" refletiam um sintoma de uma revolução cultural. "Esses conjuntos estão fazendo uma música mais pobre de harmonia. Já tivemos o Tropicalismo e agora é só ‘Nós somos inúteis’ e ‘nu com a mão no bolso’, afirmou Raul, referindo-se diretamente aos versos do grupo de Roger Moreira.
A crítica não se limitou à música. Para Raul, o que ele via era reflexo de um cenário mais amplo de falta de cultura. "A falta de cultura na juventude… os desenhos animados são preguiçosos hoje em dia. Você vê que fica tudo parado. Só move a boca, daqui a pouco move o olho. Tá tudo assim meio desanimado mesmo. Desenho animado desanimado", ironizou.

Raul Seixas e o fim do rock
Raul também fez uma análise histórica do rock, apontando o fim de seu caráter revolucionário. Segundo ele, o movimento cultural do rock and roll "terminou em 1959", quando, nas palavras do artista, passou a ser explorado como produto comercial. "Depois virou aquela coisa de marketing, né? Porque as fábricas não podem parar. Pirou twist ali para poder vender chave, aquelas danças todas da época."
Apesar disso, o músico enxergava valor na essência original do gênero. "Foi um movimento do planeta. Em termos de planeta Terra. Um movimento em termos de cultura, todos os setores culturais: sociologia, psicologia, arte como espelho social de uma época. Isso foi o rock", declarou.

Ao falar sobre o cenário nacional, Raul reconheceu que o Brasil vivia uma apropriação cada vez mais consciente da linguagem do rock. No entanto, reiterou que ainda havia uma grande distância entre essa nova geração e a riqueza musical do passado. "Nós já chegamos em uma fase de música muito mais rica".
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