O dia em que Neil Peart descobriu que seus bateristas favoritos eram todos a mesma pessoa
Por Bruce William
Postado em 28 de agosto de 2025
Neil Peart sempre foi e será lembrado por sua técnica, criatividade e pela forma como transformou a bateria em um instrumento protagonista no Rush. Mas, antes de se tornar uma referência no rock progressivo, ele passou anos aprendendo na base da repetição, tocando em casa junto com os discos que mais gostava. O que ele não poderia imaginar é que muitos daqueles ritmos que marcaram sua formação vinham sempre da mesma pessoa.
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Na adolescência, Peart tinha o hábito de acompanhar as músicas que tocavam no rádio, sem saber exatamente quem eram os músicos por trás das gravações. Foi só mais tarde que veio a revelação: todos esses trabalhos tinham em comum o mesmo nome na bateria, Hal Blaine. Em entrevista à MusicRadar (via Far Out, Peart resumiu como foi essa descoberta. "Quando eu estava crescendo, toquei junto com o rádio, então toquei com Simon & Garfunkel, The Beach Boys, The Association e The Byrds. Eu estava, na verdade, tocando junto com Hal Blaine." Para ele, foi uma surpresa perceber que a sonoridade que admirava em tantas bandas diferentes era, na verdade, fruto da mesma mente rítmica.

Hal Blaine era parte fundamental do grupo de músicos de estúdio conhecido como The Wrecking Crew. Esses instrumentistas atuavam nos bastidores das maiores produções de Los Angeles nos anos 1960 e 1970. Sua agenda era intensa: chegava a gravar diversas faixas por dia, em sessões diferentes, para artistas que iam de Frank Sinatra às produções de Phil Spector. Para muitos ouvintes - e até para músicos em formação, como Peart - ele passava despercebido, já que seu nome não aparecia nas capas de disco.
A influência de Blaine não se restringiu apenas a Peart. O próprio baterista do Rush contou que outro colega de profissão passou por experiência parecida, chegando a comentar que ficou "arrasado" ao descobrir que seus seis bateristas favoritos eram todos Hal Blaine, o que reforça a dimensão do trabalho desse músico de estúdio, capaz de marcar gerações sem ter a mesma visibilidade de um integrante fixo de banda.

Até mesmo Blaine se divertia com essa situação. Em entrevista à Modern Drummer em 2005, ele lembrou o caso de Bruce Gary, baterista do The Knack, que teria respondido a uma pergunta sobre seu baterista favorito de todos os tempos. Ao descobrir que a maioria dos seus ídolos era, na verdade, ele mesmo, Hal comentou: "Ele nunca ficou tão frustrado como no dia em que percebeu que todos aqueles bateristas que admirava eram, na verdade, eu."
A anedota mostra como Blaine se tornou onipresente no pop e no rock da época, mesmo que sua imagem fosse quase invisível ao grande público. Ele estava lá em sucessos que definiram o som de uma geração, moldando ritmos que seriam absorvidos por músicos do calibre de Neil Peart, que ao tocar junto com discos aparentemente diferentes, acabou se aprofundando em um mesmo estilo, refinado e versátil, que Hal Blaine sabia entregar como poucos. Para quem cresceu tocando na mesma época, a surpresa era inevitável, mas também um sinal da grandeza de Blaine.

Hoje, quando se revisita a trajetória de Peart, fica claro como esse detalhe curioso da juventude ajuda a conectar dois mundos: o do baterista lendário do Rush e o do homem que, discretamente, moldou a sonoridade da música pop de toda uma era. Um encontro inesperado entre ídolo e influência, que só poderia acontecer através da bateria.
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