O disco do Pink Floyd que é amado no Brasil, mas foi reprovado por Roger Waters e Regis Tadeu
Por Bruce William
Postado em 24 de setembro de 2025
Em 1994, o Pink Floyd lançou "The Division Bell", um álbum que marcou a terceira fase do grupo sob a liderança de David Gilmour. O trabalho saiu depois de anos de disputas judiciais com Roger Waters, que havia deixado a banda em meados da década de 1980. Coube a Gilmour e Nick Mason manter o nome do Pink Floyd ativo, enquanto Waters seguiu em carreira solo. O título do disco faz referência ao sino usado no Parlamento britânico para convocar parlamentares ausentes, um detalhe que reforçava a aura de solenidade em torno do lançamento.
Musicalmente, o álbum trouxe faixas como "High Hopes", "Coming Back to Life" e "What Do You Want From Me", que se tornaram conhecidas principalmente em países como o Brasil, onde o disco vendeu expressivamente. Naquele momento, o rock passava pela ascensão do grunge e do britpop, e a decisão de Gilmour de conduzir o Pink Floyd sem Waters foi vista como arriscada. Ainda assim, a obra alcançou as paradas e rendeu turnês de grande porte, mantendo o nome da banda em evidência no cenário mundial.


Para Roger Waters, no entanto, o sucesso comercial pouco importava. O ex-baixista e letrista considerava "The Division Bell" uma afronta ao legado da banda, chegando a classificá-lo como "uma desgraça para o nome do Pink Floyd".
Waters criticava especialmente a participação de Polly Samson, esposa de Gilmour, nas composições: "Letras escritas pela nova esposa? Me poupe. Que audácia chamar isso de Pink Floyd. Foi um disco horrível", declarou em entrevista nos anos 1990, resgatada pela Far Out.

Já no Brasil, a recepção foi bastante distinta. Segundo o crítico Regis Tadeu, "The Division Bell" "conquistou uma geração de adolescentes que estavam descobrindo o rock progressivo", criando uma memória afetiva que explica o status diferenciado que o álbum ganhou por aqui. Ainda de acordo com ele, tratar o disco como um "clássico" é algo restrito ao público brasileiro, sem respaldo no restante do mundo, onde a obra costuma ser vista apenas como um esforço digno, mas longe da grandeza dos anos 1970. "Dizer que o Pink Floyd naquela época era uma formação caça-níqueis é injusto, mas é correto afirmar que sem Roger Waters, a banda era uma sombra do que já foi."

Essa diferença de percepção transformou "The Division Bell" em um caso curioso na discografia da banda. Para Waters, ele não passava de uma sombra mal resolvida do que o Pink Floyd havia sido. Para Regis Tadeu, é um exagero chamá-lo de clássico. Mas para parte dos fãs brasileiros, o álbum segue como uma porta de entrada afetiva ao universo do grupo, um símbolo de que, mesmo em fases contestadas, o Pink Floyd continuava a marcar gerações.

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