As três coisas que sempre irritam Bob Dylan, segundo o próprio
Por Gustavo Maiato
Postado em 11 de outubro de 2025
Bob Dylan nunca foi conhecido por ser uma pessoa fácil de agradar - e, segundo a jornalista Lucy Harbron, do Far Out Magazine, há pelo menos três coisas que o lendário músico simplesmente não suporta. O artigo reforça algo que seus fãs já intuíram ao longo das décadas: o prêmio Nobel da Literatura pode até ser um gênio, mas é também um homem de pavio curto e manias muito próprias.
Harbron começa lembrando que "ninguém mais vive sob a falsa impressão de que Dylan é fácil de agradar". O próprio cantor, aliás, já deixou isso claro em suas letras - como quando, em "Idiot Wind", resume sua frustração num verso direto: "You're an idiot, babe". Para a jornalista, "a irritação é um dos sentimentos mais recorrentes na discografia de Dylan", que mesmo em canções de amor sempre dá um jeito de incluir uma dose de rancor.


Segundo Lucy Harbron, o primeiro grande gatilho de Bob Dylan é a presença de celulares em seus shows. "Quer realmente irritar Dylan? Tire o telefone do bolso", escreve a repórter. O músico mantém uma política rigorosa de proibição de fotos e gravações em suas apresentações. Mas o motivo, como ela destaca, vai além de querer um público atento - ele simplesmente odeia a sensação de estar sendo fotografado enquanto toca, como se cada show virasse uma sessão de fotos.

Durante um concerto em que flagrou um fã quebrando a regra, Dylan reagiu com ironia: "Tirem fotos ou não tirem fotos. A gente pode tocar ou pode posar, ok?". Harbron observa que, para um artista que passou mais de seis décadas sob os holofotes, essa exaustão é compreensível - e que o avanço da era dos smartphones só ampliou seu desconforto com a plateia.
Mas a jornalista também resgata uma entrevista rara de 1986, concedida por Dylan à revista Interview, na qual o músico listou, sem rodeios, suas três maiores irritações pessoais: "Pregadores que divulgam a doutrina da prosperidade. Mulheres que passam o dia inteiro comendo carne. Vendedores que te dão tapinhas nas costas e piscam."

Harbron destaca o tom quase poético e enigmático da lista. "Recém-saído de sua fase cristã, Dylan parece ter voltado sua frustração contra a própria Igreja, o que até faz algum sentido dentro de sua trajetória espiritual", analisa. Já o ódio aos vendedores carismáticos, segundo ela, combina com o perfil de um artista averso a bajulações e falsos sorrisos - um traço que o acompanhou desde o início da carreira, quando rejeitava entrevistas e autopromoção.
A terceira irritação, porém, segue um mistério. "Mulheres que comem carne o dia todo? O que elas fizeram para merecer isso, Dylan?", ironiza a repórter. Ela sugere que, como muitas das declarações do cantor, essa também pode ter sido uma provocação, um comentário deliberadamente absurdo que esconde alguma metáfora perdida entre o sarcasmo e o cansaço.

No fim das contas, o retrato que Lucy Harbron traça é o de um Bob Dylan cada vez mais recluso, cético e incomodado com o mundo moderno, mas ainda fiel ao seu espírito imprevisível. "Ele é um homem que não quer ser entendido - e talvez seja exatamente por isso que ainda estamos tentando decifrá-lo", conclui a jornalista.
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