Os dois artistas que Bob Dylan considerava "relíquias do passado" nos anos 1980
Por Gustavo Maiato
Postado em 27 de setembro de 2025
Bob Dylan sempre enxergou a música como algo em transformação permanente. Para ele, cada novo disco precisava ser uma tentativa de dizer algo que fizesse sentido para o seu tempo, ainda que isso significasse perder parte do público. Mas, em 1989, o cantor surpreendeu ao se referir a dois ícones da música mundial como se estivessem artisticamente ultrapassados: Elvis Presley e Frank Sinatra.
O jornalista Tim Coffman, em artigo publicado na Far Out, contextualiza a visão do bardo: "Dylan sabia que alguns dos maiores astros de outrora tinham o potencial de se tornarem completos has-beens. O destino de Presley e Sinatra, na visão dele, era se tornarem relíquias de um passado que já não dialogava com o presente."


As palavras de Dylan, ditas em 1989, foram diretas. "[Elvis é] uma relíquia do passado. [Frank] está a caminho de se tornar uma relíquia. Se eu fosse ele, já teria me aposentado", disse o compositor, sem rodeios. Para Coffman, a declaração não era apenas uma provocação: "Tratava-se, sobretudo, de um comentário sobre quando um artista deve reconhecer que sua hora criativa passou."

A crítica pode parecer severa, mas fazia sentido dentro da lógica de Dylan. Enquanto muitos se acomodavam ao repetir fórmulas de sucesso, ele buscava sempre novas direções - fosse na fase elétrica dos anos 1960, na guinada cristã dos anos 1970 ou na retomada mais sombria de "Time Out of Mind" nos anos 1990. "Dylan nunca quis ser confinado a um único estilo", analisa Coffman, "e talvez por isso se sentisse à vontade para apontar que Presley e Sinatra já não tinham nada novo a oferecer."
Vale lembrar que Elvis havia terminado sua carreira mergulhado em tragédias pessoais e apresentações exaustivas, enquanto Sinatra insistia em se manter ativo mesmo sem a força criativa de décadas anteriores. Para Dylan, isso era o oposto do que ele acreditava ser a missão de um artista. "O objetivo de qualquer músico é ser aventureiro a cada nova canção que aparece sobre a mesa", escreve Coffman.

Ainda assim, Coffman lembra que a fala de Dylan não era simples desprezo: "Ele reconhecia a importância histórica de Presley e Sinatra. O que questionava era a relevância deles naquele momento. Para Dylan, ser uma lenda não bastava: era preciso continuar ousando."
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