A mitologia de diferentes culturas por meio de cinco bandas de Heavy Metal
Por Luis Fernando Ribeiro
Fonte: Hell Yeah Music Company
Postado em 21 de maio de 2025
Desde sua criação, em meados dos anos 70, o Heavy Metal sempre foi um espaço onde grandes histórias, mitos e lendas encontraram seu lugar. Entre esses temas, poucos são tão ricos em simbolismo quanto às mitologias antigas. Com suas histórias de deuses, heróis, monstros e mundos ocultos, esses universos continuam vivos através da música pesada, servindo de inspiração para bandas dos mais variados estilos.
Neste artigo, vamos explorar como cinco dessas bandas, de diferentes partes do mundo, mergulham nas mitologias ancestrais, transformando lendas antigas em músicas que conectam passado e presente de uma maneira única.

Mergulhe conosco nesta viagem pela mitologia universal através desta playlist.
A Mitologia Viking do Amon Amarth
Apesar de ser um tema explorado por centenas de bandas, nenhuma banda representa melhor a mitologia nórdica no Heavy Metal do que os suecos do Amon Amarth. Inspirados no universo dos deuses e heróis vikings, o grupo construiu uma discografia inteira com base em sagas e lendas escandinavas. Suas canções nos conduzem por batalhas épicas de honrados guerreiros que lutam em nome de deuses como Thor e Odin, tudo isso embalado por um som que mistura Death Metal melódico com arranjos cinematográficos e atmosféricos, fazendo da mitologia nórdica uma extensão da própria identidade da banda.


Alguns destaques:
- "Twilight of the Thunder God" narra o duelo final entre Thor e Jörmungandr (a Serpente do Mundo), um dos eventos mais emblemáticos do Ragnarök;
- "The Pursuit of Vikings" é um verdadeiro hino viking em celebração a jornada e a busca pela glória através das batalhas e viagens;
- "The Last With Pagan Blood" retrata a resistência final dos guerreiros vikings contra os cristãos, exaltando a fúria dos deuses, a liderança de Odin em batalha, a abertura dos portões de Valhalla e o orgulho de portar o último sangue pagão;
- "Hermod's Ride to Hel – Loke's Treachery Part I" narra a jornada do deus Hermodr montado em Sleipnir rumo a Helheim, buscando trazer Balder de volta dos mortos;
- "Guardians of Asgaard" retrata os guerreiros escolhidos para defender Asgard, o reino dos deuses Æsir, contra os constantes ataques dos gigantes (Jötnar);

A Mitologia Universal do Therion
Pioneira do Metal Sinfônico, a banda sueca Therion construiu uma carreira sólida ao explorar o esotérico, o oculto e, de maneira especialmente rica, o universo mitológico. Ao longo de sua discografia, o grupo incorpora elementos de diversas tradições — da mitologia grega à nórdica, passando por referências egípcias, orientais e até conceitos ligados à cabala e ao gnosticismo. Com arranjos orquestrais grandiosos, coros líricos e uma sonoridade que equilibra o épico com o sombrio, a banda transforma a mitologia em um veículo para mergulhos existenciais e questionamentos profundos sobre a natureza humana, o divino e o mistério da vida. O resultado é uma obra que funciona como uma ponte entre a arte, o sagrado e o metal — ao mesmo tempo intelectual e visceral.


Alguns destaques:
- "Birth of Venus Illegitima" relembra o mito de Afrodite (Vênus), associando seu nascimento à sensualidade, pecado e transgressão, ressignificando a deusa como símbolo da luxúria e do desejo proibido;
- "Leviathan", faixa título do 17º álbum da banda, faz referência à mitologia hebraica, retratando o Leviatã como uma entidade caótica e abissal ligada às origens do mundo, unindo simbolismo bíblico e cosmogônico para explorar o monstro como força primordial entre o divino, o mítico e o inconsciente humano;
- "Ruler of Tamag" faz referência à mitologia turco-mongol, abordando Erlik Han, deus do submundo, como uma entidade caída associada ao julgamento, fogo e criação dos humanos;
- "Tuonela" faz referência à mitologia finlandesa, retratando a jornada espiritual rumo ao reino dos mortos, governado por Tuoni. A música conta com a participação do músico finlandês Marko Hietala (ex-Nightwish);
- "In the Desert of Set" fala da mitologia egípcia, trazendo o deus Set como símbolo de caos, transformação e poder oculto, associando-o a rituais esotéricos e ciclos cósmicos, explorando temas de renascimento espiritual e forças primordiais;

A Mitologia Egípcia do Nile
Se existe uma banda que mergulha na mitologia egípcia com um rigor quase arqueológico, são os americanos do Nile. Transformando cada álbum em uma verdadeira imersão na cultura e nos mistérios do Egito Antigo, o grupo se destaca por um Death Metal técnico, brutal e extremamente detalhado. Suas composições são construídas a partir de extensas pesquisas de textos sagrados, rituais funerários, crenças cósmicas e aspectos históricos com uma fidelidade impressionante. Até o próprio nome da banda — uma referência direta ao Rio Nilo, símbolo de vida e espiritualidade para os antigos egípcios — destaca o compromisso do grupo com uma abordagem artística que vai além da estética.


Alguns destaques:
- "True Gods of the Desert" fala de entidades sombrias e invisíveis da mitologia egípcia que operam à margem da luz de Rá, o deus-sol, unindo terror cósmico com referências ao panteão egípcio, sugerindo deuses ocultos e antigos que desafiam a compreensão humana;
- "The Eye of Ra" retrata a raiva e vingança do deus egípcio Ra, personificada em sua filha Sekhmet, após ser traído pela humanidade;
- "Sacrifice Unto Sebek" aborda o deus crocodilo Sobek, associado à força bruta, fertilidade e ao submundo. A música descreve rituais de sacrifício e ressurreição ligados ao poder de Sobek sobre a vida, a morte e a renovação espiritual;
- "Papyrus Containing the Spell to Preserve Its Possessor Against Attacks From He Who Is In The Water" adapta um encantamento do Livro dos Mortos egípcio, invocando divindades e forças protetoras para afastar crocodilos e criaturas do Nilo;

A Mitologia Armênia do FireWing
Como de costume em nossas listas, fazemos questão de incluir o Metal Nacional, valorizando o espaço das bandas independentes do nosso cenário. No caso da FireWing — banda brasileira com integrantes também vindos do exterior — o foco não é a mitologia brasileira, mas sim a rica e pouco explorada mitologia armênia.
O conceito da FireWing está embasado na História e na Mitologia da Armênia e da Grécia, dentro de um universo no qual todas as outras mitologias e culturas distintas também estão inclusas. Em 1915, o povo armênio passou por um grande genocídio conhecido como o "Massacre Armênio", que deixou mais de 1,5 milhões de mortos. O ser que personifica a garra do povo armênio após esse Massacre é Vahagn - Rei da grande Armênia da Dinastia Orôntida (século V d.c). Vahagn é um dos filhos de Tigranes Orôntida e sucedeu o seu pai na luta contra dragões (Vishap), sendo conhecido como Vishapakagn - "o Matador de Dragões". Vahagn livrou a Armênia dos monstros e foi deificado por causa do seu valor, e a FireWing exalta esses valores em todo o desenvolvimento das suas canções.

Alguns destaques:
- "Last Gasp" trata da jornada espiritual e mental de seus protagonistas "Vahagn" e seu pai, Tigranes, o Ancião;
- "Time Machine" faz parte do álbum conceitual, "Resurrection" e sua letra trata do despertar de Vahagn, receptáculo dos poderes ancestrais de Ember, que movido pela angústia de perder o amor da sua vida em um ritual sombrio realizado por Vishap, busca transmutar sua alma por meio da meditação para acessar o portal do passado e reencontrar e reconstruir sua antiga realidade. Para isso, Vahagn precisa provar que sua alma é digna de se vincular à Ember. Entretanto, mesmo conseguindo encontrar sua amada no plano espiritual, os dois percebem que não haverá uma chance de reverter a realidade, e assim precisam seguir um propósito maior, e seu vínculo de amor eterno é tudo que resta. No fim, Vahagn precisa ser valente tal qual seu pai, Tigranes, e continuar o seu destino como eterno guerreiro;

A Mitologia Celta e Irlandesa do Tuatha de Danann
Outro representante brasileiro que mergulha em mitologias estrangeiras é o Tuatha de Danann, banda mineira considerada a maior referência do Folk Metal nacional. Suas composições são profundamente inspiradas na mitologia celta e irlandesa, celebrando divindades, seres mágicos e batalhas lendárias — tudo isso com composições, até mesmo na parte instrumental, que equilibram crítica social, fantasia e poesia.
Alguns destaques:
- "Trova di Danú" celebra o chamado mágico do povo encantado da deusa celta Danu, convidando o ouvinte a se reconectar com antigos saberes, melodias e mistérios da mitologia celta;
- "Immarama" narra uma jornada espiritual inspirada nos antigos relatos celtas de viagens míticas (immrama), em que o eu lírico busca seu destino guiado pela deusa Dana, refletindo a conexão entre natureza, divindade e autoconhecimento, pilares da mitologia celta;
- "The Wanderings of Oisin" retrata a jornada mítica de Oisin rumo a Tir Na nÓg, a "Terra da Juventude" - tema também abordado na música de mesmo nome, do álbum "Trova di Danú" - guiado por uma figura encantada dos Sidhe;

Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps