Robert Johnson: suas cinco músicas mais influentes no percurso do rock and roll
Por Paulo Severo da Costa
Postado em 30 de outubro de 2016
Anos atrás, publiquei uma matéria em que analisei alguns dos nomes do blues que, em meu entendimento, constituíram um legado estatutário para o rock and roll.
Encabeçando a lista, comentava a respeito de ROBERT JOHNSON: "Na minha opinião, esse cara – junto a HENDRIX- nunca existiu, ou pelo menos não nasceu nesse planeta. Guitarrista monstruoso, inventor de afinações que só ele conhecia, compositor de primeira e tendo morrido quase vinte anos antes de ELVIS gravar "That´s All Right Mamma", JOHNSON construiu um espólio de vinte e nove músicas que direta ou indiretamente encheram o bolso e fizeram a fama de muita gente depois. DERIVADOS: todo mundo!!". À parte toda euforia descritiva, JOHNSON foi introduzido na primeira turma do Hall da Fama do Rock and Roll em 1986 e atingiu o feito de ser classificado, ao longo da história, como "princípio ativo", tanto do blues quanto do panteão em que seria inserido quase meio século depois de seu (ainda) obscuro falecimento.
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"Eu penso em mim mesmo como um cara muito sortudo. Robert Johnson teve apenas o equivalente a um álbum do trabalho como o seu legado - e fez o que fez! Isso é tudo o que a vida lhe permitiu". Essa citação (que caberia precisa no discurso de ERIC CLAPTON a KEITH RICHARDS), provem de uma (a olhos leigos) inusitada citação de DAVID BOWIE, ao tratar da concisão da obra do bluesman. Gravado entre 1936 e 1937, o legado de JOHNSON se encerra no cabalístico número acima mencionado e, ainda assim, semeou de forma mais prolífera do que catálogos completos de bandas seminais. Por essa razão, elenquei cinco faixas (baseado em número de regravações clássicas, citações diretas e indiretas, e até plágios) que considero como arrimos de obras que, como disse acima, têm como patrono mor, o insondável talento de JOHNSON.
1) "Cross Road Blues" (1936)
JOHNSON morreu aos vinte e sete anos (lembra alguma coisa??) em circunstâncias até hoje mitificadas (sendo o envenenamento por um marido traído a tese mais aceita). Sua vida errática, sua enigmática morte, seu talento sobrenatural e a constante menção ao lado escuro do além em suas composições seriam, hoje, consideradas como banalidades de rock star - mas há quase um século a história era outra. A encruzilhada das rodovias 49 e 61 em Clarksdale, Mississipi (ou em Rosedale, segundo alguns), é considerado como o berço profano do famoso pacto de onde sairiam os versos "eu fui para a encruzilhada / Onde caí de joelhos" e "Você pode correr / Conte a meu amigo Willie Brown / Que esta manhã eu consegui o blues da encruzilhada", inchando o imaginário coletivo e se tornando imortal com a regravação do CREAM em "Wheels Of Fire" (rebatizada de "Crossroads").
2) "Sweet Home Chicago" (1936)
Em épocas priscas, o blues (então como um elemento emergente do folclore sulista) era objeto de constantes adaptações. Como resultado de uma fusão entre "Honey Dripper Blues", "Kokomo Blues", "Red Cross Blues" (e muito provavelmente outras não indexadas pela história), JOHNSON sintetizou a fórmula, saiu da de sua emblemática vocação ao sinistro e compôs- porque não- uma pérola "pop": "Oh, garota, você não quer ir? / Oh, garota, você não quer ir? / De volta à terra da Califórnia / Ao meu doce lar, Chicago?". "Sweet Home", além de regravada por dezenas de artistas, provavelmente inventou o conceito de jam session (antes de "Smoke On The Water" ser reproduzida bilhões de vezes nesse formato).
3) "Love In Vain" (1937)
"Indiscutivelmente a canção mais linda de ROBERT JOHNSON, "Love In Vain" é simplesmente uma das maiores canções de amor que o melhor intérprete de blues já escreveu", assinala o crítico THOMAS WARD. Concebida como uma pérola do delta blues, "Love In vain" é um mini épico da dor do amor romântico , trazendo versos dilacerantes como "E eu a segui a estação / Com uma maleta em minha mão / Bem, é duro dizer, é duro dizer / Quando todo seu amor é em vão" e "Quando o trem chegou a estação / E eu olhei-a no olho / Bem, eu era solitário, me senti assim solitário / E eu não pude fazer nada, a não ser chorar", JOHNSON colocou a figura do macho alfa do começo do século passado em xeque, expondo a fragilidade que daria a tônica da versão country/soul dos STONES décadas mais tarde.
4) "Hellhound On My Trail" (1937)
"Há um cão do inferno em meu caminho, há um cão do inferno em meu encalço". Se a imagem do demônio servia como uma ducha de água fria ao conceito hermético acerca do pecado, antes de JOHNSON, esse simbolismo já havia sido cravado em faixas como "The Evil Devil Blues" (JOHNNY TEMPLE, 1935) e "Devil Got My Woman" (SKIP JAMES, 1931) - porém nunca com tintas tão fortes. Registrada em Dallas em 20 de junho de 1937, "Hellhound" foi parte de sua última sessão de gravação e é uma das faixas mais lembradas de JOHNSON, em regravações como as do FLEETWOOD MAC e ERIC CLAPTON.
5) "I Believe I'll Dust My Broom" (1936)
Posteriormente conhecida como "Dust My Broom" (erroneamente atribuída a ELMORE JAMES assim como, "Walking Blues" de SON HOUSE é constantemente creditada a JOHNSON), a canção soma honrarias que vão do Grammy ao índex da Biblioteca do Congresso Americano. Contando com uma das melhores performances de JOHNSON em suas afinações autóctones, "Dust" (em suas inumeráveis adaptações), pode ser bem exemplificada pela citação de JACK WHITE quando de sua primeira audição da mesma: "Aquilo deu um curto circuito em minha mente. Era algo que eu estava procurando por toda a minha vida. Essa música me fez descartar tudo o mais e apenas chegar até a alma e honestidade dos blues".
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