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Thrash Metal: Álbuns injustiçados nos anos noventa.

Por Adriano Souza
Postado em 23 de maio de 2016

A década de noventa foi um período um tanto peculiar para o heavy-metal. Naqueles tempos ainda não se sabia que a cena, ainda muito jovem, não apenas manteria-se forte, mas se consolidaria de forma definitiva nas décadas seguintes. Nesse contexto, o surgimento do Grunge no início daquela década fora talvez o grande atenuadaor desse clima de incerteza que pairou sobre o metal naquela época, já que as bandas de Seattle bebiam muito na fonte do heavy-metal e haviam tomado de assalto a cena músical rockeira. O Grunge era percebido não apenas como uma consequência natural do heavy-metal, mas como uma espécie de evolução, que eventualmente forçou a cena metaleira a rever conceitos, adaptar-se e sobretudo, reinventar-se enquanto gênero musical.

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Se por um lado os grandes nomes do thrash esforçavam-se para diluir aquela velha estética do preto e das calças agarradas, como o Metallica em "Load" e o Megadeth em "Risk", por outro, lá no segundo escalão do thrash, onde habitam nomes como Testament, Overkill, Kreator e Destruction, o que se viu foi um movimento de resistência e reafirmação do estilo que deu luz a uma coleção de álbuns predominantemente experimentais, alinhados com a idéia de renovação em voga, porém muito mais condizentes com o passado do estilo.

Toda essa busca pelo novo, aliada a influência de nomes emergentes como Pantera e Sepultura (em sua roupagem CHAOS A.D. / ROOTS), moldaram a personalidade do thrash nos anos noventa e garantiram a continuidade da cena, ainda que muitos discos lançados naquele período, permaneçam até hoje no obscurantismo.

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É hora então de fazer justiça e relembrar aqui alguns dos melhores e mais injustiçados discos daquele período:

Kreator - "Cause for Conflict" (1995)

Se hoje o KREATOR vive sua melhor fase no sentido comercial, CAUSE FOR CONFLICT talvez represente o oposto: Lançado em 1995, o disco chegou desapercebido, sem causar qualquer alarde. Apesar disso, CAUSE FOR CONFLICT é muito mais que uma mera tentativa de permanecer revelante frente as dificuldades da época. É um álbum cheio de atitude onde a banda eliminou quase por completo seu componente melódico, permitindo uma conversa imediata com o punk e o hardcore.

Em CAUSE FOR CONFLICT não existe espaço para aqueles típicos fraseados de guitarra entoados em couro durante os shows. Trata-se de um disco bem mais enxuto, rápido e direto. Subapreciado e sensacional na mesma proporção.

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Kreator - "Endorama" (1999)

Muitas vezes apontado como o álbum mais fraco, ENDORAMA consegue ser muito mais honesto do que os trabalhos mais recentes da banda, que por sua vez, já não esconde ter abandonado qualquer intenção de reinventar-se.

Em ENDORAMA porém o KREATOR conseguiu equilibrar peso e melodia de uma forma muito bem resolvida, dando vida a algo até então difícil de ser pensado: Um crossover de thrash-metal e gothic-rock feito com muita propriedade.

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Overkill - "The Killing Kind" (1996)

Após escutar THE KILLING KIND pela milenésima vez, fiz-me a seguinte pergunta: Será que o Heavy-metal precisa sair dos holofotes, assim como aconteceu nos anos noventa, para se manter genial ?

Digo isso pois, assim como o KREATOR, o OVERKILL também passou por um período de relativo ostracismo durante aquela década, ainda que neste período a banda tenha entregue uma porção de discos memoráveis, como é o caso de THE KILLING KIND de 1996.

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THE KILLING KIND é um disco praticamente impensável para o momento atual, já que o OVERKILL, assim como a maioria das bandas oitentistas, deu uma certa encaretada e já não consegue pensar tão fora da caixinha.

O que chama a atenção aqui é a diversidade: Uma coleção de músicas que vão de um thrash rápido e virulento, a uma balada conduzida a piano, passando pelo doom, hardcore e até punk rock, sem que a suposta distância entre as diferentes influências crie um abismo na fluidez do disco. Ao contrário, mesmo tão diverso THE KILLING KIND soa incrivelmente homogêneo sem jamais deixar a peteca cair.

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Overkill - "Bloodletting" (2000)

Simplesmente um dos discos menos convencionais que você terá a chance de escutar dentro do thrash. BLOODLETTING (Sangria em português) é uma catarse sonora completa.

Pouco citado nas discussões mais acaloradas, é talvez o melhor exemplo de como o OVERKILL conseguiu se reinventar sem perder o espírito Old School. Aqui a banda decidiu dar uma repaginada e soa consideravelmente mais suja do que de costume.

Em alguns momentos fica inclusive a impressão de que as guitarras ficaram um pouco altas demais na mixagem, mas é exatamente esse pequeno exagero, aliado aos ótimos riffs, que fazem de BLOODLETTING um álbum único na discografia do OVERKILL.

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Testament - Low

O disco que representa a primeira mudança de formação na banda: Saem Alex Skolnick e Louie Clemente e entram James Murphy e John Tempesta para os postos de guitarrista e baterista respectivamente.

Mas apesar do novo line-up, o que realmente mudou aqui foi a atitude da banda em relação a sí mesma: Eric Peterson e Cia decidem mandar para as cucuias aquela velha imagem do thrash-virtuoso pela qual a banda era conhecida e entregam o disco mais orgânico e espontâneo que a banda havia feito até aquele momento.

Importante dizer também que muito do que a banda conseguiu realizar em LOW foi graças a adição de John Tempesta, baterista imensamente mais capaz, que apesar do curto período que esteve na banda, mostrou que uma seção rítmica bem resolvida faz toda a diferença. LOW mostra uma banda bem mais solta, menos preocupada com lirismos e virtuoses e é um petardo thrash maravilhoso que inaugurou uma nova fase de possibilidades para o Testament.

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Sodom - ´Til death do us Unite

É verdade que a discografia do Sodom é um tanto irregular e foi justamente na década de noventa que a banda editou seus discos mais fracos.

Por outro lado, a banda lançou também neste mesmo período um de seus melhores trabalhos: Trata-se de "TIL´ DEATH DO US UNITE", primeiro a contar com Bernemann, guitarrista que deu uma tremenda injeção de ânimo na banda. Mais do que isso, TIL´ DEATH DO US UNITE é o disco que moldou a sonoridade da banda em todos os álbuns subsequêntes.

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Não consigo me lembrar de outra banda que tenha sido tão feliz ao combinar thrash-metal clássico, punk, hardcore e é justamente essa capacidade de amarrar estilos de forma tão consistente que faz de TIL´ DEATH DO US UNITE um disco sensacional.

Destruction - The Least Successful Human Cannonball

Se existe uma banda que passou por maus bocados durante a década de noventa foi o Destruction. Já não bastasse o momento incerto pelo qual o metal atravessava, o Destruction ainda decide demitir o emblemático vocalista / baixista Schmier, membro fundador do grupo.

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O que geralmente passa desapercebido porém é a admirável integridade da banda que decidiu continuar a fazer a música que bem entendia, contrariando a tudo e a todos. "Ninguém está interessado em nossa música ? Foda-se, nós estamos ! E quem quiser embracar conosco será bem vindo."

Foi com essa atitude em mente que o grupo, mesmo sem gravadora, continuava na ativa e lançava seus discos por conta própria, algo muito comum hoje em dia porém muito raro no mundo pré-internet para uma banda já estabelicida e com uma base de fãs considerável, como era o caso do Destruction.

O fato é que independente do "estado pouco favorável das coisas", e após dois EP´s lançados, a banda solta seu único álbum deste período: O insano "The Least Successful Human Cannonball" - Um disco que representa uma ruptura ainda mais radical com a antiga sonoridade e que por este motivo permanece indigesto para grande parte dos fãs.

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O grande problema é que para apreciá-lo em sua plenitude, TLSHC deve ser entendido não como um disco tradicional do Destruction, mas como um disco de thrash-noventista a "La PANTERA", ou seja: Se você tem dificuldade em fazer essa separação, (o que é compreensível), melhor mesmo é deixar este álbum no esquecimento. Por outro lado, se você, assim como eu, tem o desprendimento necessário e acha que na arte nada é sagrado, não consigo pensar em nada melhor do que este álbum. Por ser tão indiferente ao passado da banda, The Least Successful Human Cannonball pode até parecer um tanto vil, mas é com certeza uma porrada deliciosa.

Obs.: Para quem quiser saber mais sobre essa fase do DESTRUCTION, clique no link abaixo e leia a matéria completa que escreví sobre o tema.

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Carcass - Swansong

Ok. Tecnicamente este não é um disco de thrash, mas decidí mencioná-lo pois é um exemplo muito bom de um grande álbum que foi negligenciado pelos fãs neste mesmíssimo período.

Após "Heartwork", o Carcass decidiu lançar um disco consideravelmente diferente, que misturava o Death Metal característico da banda com uma boa dose de Stoner Rock, estilo muito apreciado pelos músicos, especialmente por Bill Steer, guitarrista e principal compositor.

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O fato é que essa mudança de direcionamento foi demasiadamente contra a expectativa dos fãs, de modo que SWANSONG, como o próprio título do disco sugeria, acabou sendo o "Canto do Cisne" da banda, pelo menos por um tempo.

O que escapa ao metaleiro-médio porém, é que na perspectiva do artista a mudança muitas vezes é o próprio combustível que viabiliza novas empreitadas. Em outras palavras, alguns músicos simplesmente não encontram motivação para produzir algo novo, se o novo é exatamente igual ao velho, de forma que SWANSONG, assim como cada disco anterior a ele, tem uma identidade própria dentro da discografia do Carcass, pois é único e não tenta emular fórmulas previamente testadas - Algo que não é possível dizer de "Surgical Steel", álbum de retorno da banda, que apesar de muito bom, soa de certa forma como uma colcha de retalhos, mesmo que muito bem costurada.

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Em resumo, Swansong é o produto final dos primeiros dez anos de atividade de uma banda que tradicionalmente sempre desafiou ouvidos de fãs, seja nos primórdios, com seu grindcore virulento, seja no Death n´ Roll de Swansong.

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