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Papangu - banda brasileira herdeira de Angra e Sepultura que tocará no Knotfest

Por Gustavo Maiato
Postado em 19 de outubro de 2024

A banda Papangu, formada em 2012 em João Pessoa, Paraíba, vem ganhando destaque no cenário do metal progressivo e rock experimental. Com influências que vão desde Hermeto Pascoal até o metal extremo, o grupo lançou seu segundo álbum, Lampião Rei, em setembro de 2024, consolidando-se como uma das bandas brasileiras mais inovadoras da atualidade.

Em entrevista ao jornalista Gustavo Maiato, a banda comentou sobre suas inspirações e sua conexão com gigantes do metal nacional como Sepultura e Angra. Eles se apresentarão no Knotfest no dia 20 de outubro e estão com shows marcados para Santo André, Curitiba, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Rio de Janeiro e Recife.

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Rodolfo Salgueiro, tecladista e vocalista da Papangu, falou sobre a mistura única de influências musicais que caracteriza o som da banda. "Eu toquei muitos anos numa banda de forró, Vitor [Alves] é percussionista de trios pé-de-serra, e Pedro [Francisco] é estudioso e compositor de várias obras dentro do variado leque de músicas tradicionalmente brasileiras", afirmou. Esse caldo cultural permitiu que a Papangu desenvolvesse uma sonoridade que transcende o metal tradicional, o que Fernando Yokota, amigo da banda, batizou de "Hermetocore" — uma homenagem ao estilo do multi-instrumentista Hermeto Pascoal.

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Sobre o legado do metal brasileiro, a banda reconhece a importância de nomes como Sepultura e Angra, mas ressalta que busca trilhar seu próprio caminho. "A Papangu se aproveita um pouco mais do legado do Sepultura", diz o guitarrista Raí Accioly, destacando que o objetivo do grupo é enriquecer esse legado, mas sem replicá-lo. "Tentamos criar uma nova história incorporando nossas influências para trazer algo único", explica. Essa abordagem permitiu que a banda chamasse a atenção de revistas internacionais como Decibel e Treble, além de ter seu álbum de estreia, Holoceno (2021), aclamado por público e crítica.

Foto: Adri L
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A banda Papangu não se limita apenas ao metal. Em Lampião Rei, eles narram a história do lendário cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, através de uma combinação ousada de baião, MPB, jazz e sintetizadores setentistas. "Embora haja muito peso nesse segundo lançamento, também ouvimos sons descaradamente otimistas, como maracatu e progressões mais suaves", descreve o baixista e vocalista Marco Mayer.

1. Vocês vão se apresentar no Knotfest, com bandas de heavy metal na maioria dos casos. Como veem a inclusão de músicas mais experimentais, como a de vocês, nesse festival?

Marco: É super encorajador ver que a nossa música, que por vezes escapa de rótulos mais fáceis, consegue encontrar espaços em importantes festivais no Brasil e no exterior. Para o Knotfest, acho que faz total sentido. Outras bandas experimentais figuram no lineup, como os nossos ídolos do Meshuggah, e até o próprio Slipknot inovou bastante, especialmente no disco de estreia e no álbum de 1999, que será executado no mesmo dia em que tocaremos no Knotfest. Eu particularmente acho que o debut é um marco do metal experimental da década de noventa e seguramente garante ao Slipknot lugar no mesmo panteão de artistas como Mr. Bungle e Sigh.

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2. Quais bandas que tocarão no Knotfest vocês acreditam que têm mais chances de que os fãs delas se convertam em fãs de vocês? Lá será uma grande vitrine, certo?

Marco: Acho que fãs de Meshuggah e da primeira fase do Slipknot verão bastante coisa no nosso som que lembra a inventividade rítmica e melódica dessas bandas. Temos riffs super pesados e um jeito bem inconvencional de construir peso sem abrir mão da dinâmica. De fato é uma grande vitrine, e várias vertentes do metal estão representadas – e honraremos a oportunidade para apresentar esse metal troncho a um público gigante!

Rodolfo: O público tradicional hoje em dia tem estado mais aberto a experiências alternativas. Para além do progressivo e do som mais "cabeçudo" aqui e ali, nossa performance e execução das músicas tende a ser bastante descontraída, de modo que acredito que o público consiga interagir bem com isso e se divertir. Bandas como Baby Metal, por exemplo, foram abraçadas pelo público mais tradicional. Então abertura sabemos que há.

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3. Quais são os principais desafios que vocês enfrentam ao crescer nas redes sociais, como o Instagram, e como estão lidando com a produção de conteúdo?

Marco: Com exceção da produção de alguns shows no Brasil e do booking dos shows da turnê europeia do ano que vem, organizamos absolutamente tudo sozinhos, incluindo a gestão de nossas redes sociais. Não temos empresário ou produtor. É um saco gastar tempo que poderia ser usado para compor ou estudar música, mas o nosso método tem funcionado bem. Rodolfo e eu temos alguma expertise em design gráfico e edição de vídeos, o que ajuda bastante na hora de "produzir conteúdo" (que expressão horrível, né?).

Acho que o único desafio é a mudança do algoritmo das redes. Já dominamos bem o Instagram, e nosso número de seguidores dobrou nos últimos dois meses, mas parece que, nos últimos anos, aumentar o alcance no Facebook e no YouTube virou totalmente dependente de investir em anúncios.

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4. O álbum "Lampião Rei" tem um conceito bem definido? Como vocês incorporaram elementos da cultura brasileira, como o boitatá e a música "Mulher Rendeira", nesse trabalho?

Marco: Tem sim! Até agora, a Papangu só lançou álbuns conceituais, com uma linha de narrativa contínua da primeira à última música. Trouxemos muito do jeito nordestino de contar estórias para a nossa narrativa no disco, fazendo uso de ferramentas que também se encontram na literatura de cordel, no teatro, e na literatura modernista do Nordeste. Em vez de costurar uma série de referências, tentamos montar um roteiro que absorvesse e ressignificasse as nossas fontes históricas e literárias.

Mulher Rendeira é uma das músicas cantadas pela trupe de Lampião, e aparece para dar um momento de leveza e descanso ao ouvinte e à história após o atropelo que é o lado A do álbum. O boitatá aparece como ideia em vez de personagem, retratando o bebê Virgulino na assunção de seu destino como figura alumiada.

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Rodolfo: Alguns elementos tradicionais da música brasileira estavam pensados desde o início em algumas composições, de modo que não seriam meras inserções, mas parte constituinte do todo. Exemplos disso são Ruínas, Maracutaia e Sol Raiar, onde os ritmos nordestinos evidentes que são a fundação de muitos trechos dessas faixas requerem o uso de percussões e levadas icônicas da história de nossa região.

5. A combinação de guturais com riffs de guitarra lembra um pouco o som mais recente do Opeth. Como vocês descreveriam o estilo de vocês para quem ainda não conhece a banda? Bandas lá de fora influenciaram vocês?

Queco: Para facilitar, eu sempre digo que nós somos uma banda de rock/metal experimental e progressivo com inserção de elementos de música nordestina. Acho que é uma forma bem enxuta de explicar para quem não nos conhece ainda.

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Queco: Apesar da forte presença de música brasileira no nosso som, algumas das principais bandas que nos influenciaram dentro do rock e do metal são sim estrangeiras. Vale citar, logo de cara, alguns medalhões clássicos do prog como King Crimson, Magma, Gentle Giant, Camel e Frank Zappa. Dentro do metal tem sempre um quê de Black Sabbath e outras bandas da escola Iommi de riffs pesados e arrastados, como Sleep, Electric Wizard, Kyuss, Melvins e Elder. Dá pra adicionar também algumas bandas que fazem fusão de estilos mais tortos mas ficam dentro desse âmbito mais pesado, como Kayo Dot, maudlin of the Well, Mr. Bungle e, mais recentemente, o Blood Incantation.

6. O refrão de "Boitatá" é um dos pontos altos do disco. Quais foram as inspirações por trás dessa música, especialmente no que diz respeito ao refrão?

Marco: Boitatá é uma representação de um momento em que sonho, realidade e mentira se confundem numa psicose pós-parto que teria acometido a mãe de Lampião. Possuída por uma santa que teve o mesmo fim reservado ao filho, a mãe faz o Virgulino recém-nascido passar por um batismo esotérico melhor descrito pela letra da música.

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Marco: Vai parecer piada, mas o refrão de Boitatá foi baseado na linha de guitarra que o Lulu Santos fez para a música "Adivinha o quê". Óbvio que a gravação original tem um efeito de chorus oitentista que talvez não tenha envelhecido tão bem, mas é uma guitarra sinuosa que lembra bastante o que Robert Fripp fez a partir de 1973. Na hora de compor, eu estava firulando na guitarra em casa e me surgiu esse riff do refrão, ao qual adicionamos uma linha de guitarra que salta entre pergunta e resposta nas oitavas, e um baixo sujão cromático, que se conecta com o cromatismo usado no nosso disco de estreia Holoceno.

Marco: O resto da música foi construído ao redor de um minúsculo trecho de nossa música Terra Arrasada. De certa forma, Boitatá é, musicalmente, a parte dois da Terra Arrasada.

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Queco: Conectando com a resposta à pergunta anterior, os riffs dos versos são totalmente inspirados naquilo que eu chamei de escola Iommi de riffs lentos e pesados. Quando Marco trouxe a ideia do riff de Lulu Santos para o refrão e a abertura inspirada no trechinho de Terra Arrasada, eu senti que o verso precisava trazer peso e balanço. E isso me remeteu ao Sabbath e na hora eu puxei aquilo ali. É um riff que remete aos 6 primeiros discos do Sabbath, que, em minha opinião, continuam imbatíveis no que diz respeito à mistura perfeita de peso e groove. Nenhuma outra banda conseguiu replicar aquilo até hoje, e o Sabbath é a prova de que uma banda não precisa utilizar afinações muito graves para fazer riffs pesados. Ainda que a gente tenha músicas em afinações alternativas, Boitatá não é uma delas, e soa bem pesada! É tudo uma combinação de arranjo, execução e timbres.

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Rodolfo: Durante as gravações tive um pouco de dificuldade de achar o timbre e arranjo ideal para o teclado do refrão. Eventualmente, acabei utilizando o mesmo sync lead inspirado no prophet 5, que introduz a faixa Oferenda no Alguidar, porém um pouco mais suave. O synth faz entradas e saídas que referenciam aparições (fogo-fátuo), com uma vibração e oscilação levemente fantasmagórica quando vai e vem.

7. O metal brasileiro sempre se destacou por unir a música nacional com o metal, como fez Angra e Sepultura. Vocês se veem como herdeiros desse legado de alguma maneira?

Rodolfo: Sim. Uma coisa que é muito evidente na Papangu, no entanto, é que pelo menos três dos membros têm experiência em bandas de gêneros tradicionais. Eu toquei muitos anos numa banda de forró, Vitor é percussionista de trios pé-de-serra e Pedro é estudioso, compositor e arranjador de várias obras dentro do variado leque de músicas tradicionalmente brasileira e nordestina, destacando-se principalmente na Música Universal, como capitaneada por Hermeto Pascoal, uma das grandes inspirações da Papangu. Daí o sub-gênero cunhado pelo nosso amigo Fernando Yokota quando nos viu: Hermetocore.

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Raí: Acreditamos que sim. É inegável a importância do papel do Angra e do Sepultura no cenário do metal mundial. Além de terem sido duas bandas que definiram vários aspectos importantes de seus respectivos gêneros, foram elas que acabaram fazendo com que o mundo olhasse para o Brasil no que diz respeito à música pesada.

Raí: Da herança deixada por essas duas bandas, acredito que a Papangu se aproveita um pouco mais da que veio do Sepultura. Contudo, o nosso objetivo não é o de pegar o legado deixado por esses gigantes e tentar replicar o som deles, mas de ampliar, deixar o que já existe mais rico, incorporando as nossas influências para tentar criar uma nova história.

Queco: Com certeza. É quase impossível ser um brasileiro que gosta de rock ou metal e não se sentir, de alguma forma, inspirado pelo que o Sepultura e Angra fizeram. Eu particularmente não sou muito fã do som mais puxado para o power metal, mas devo confessar que alguns amigos, dentre eles Marco e Rodolfo da Papangu, recentemente me influenciaram a ouvir o Temple Of Shadows com atenção e eu achei bem maneiro. Já o Sepultura é uma grande influência, sem dúvida. Sou um grande fã da banda e admiro muito vários sons de diferentes fases. Dito isso, ainda que a gente tenha essas inspirações, não nos sentimos pressionados ou forçados a carregar qualquer tipo de legado, é algo que vem naturalmente com o simples fato de que estamos tocando a música do nosso jeito, com nosso sotaque, utilizando nossos sons locais, nosso idioma, nossa forma de compor, etc. O Sepultura e o Angra já contaram as narrativas musicais que eles tinham pra contar e, assim, solidificaram esse nicho do metal com toques de brasilidade. A gente tem inspirações, claro, mas nós fazemos o que fazemos porque é o que a gente tem vontade de fazer e flui naturalmente na hora de compor.

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8. Vocês utilizam uma variedade de instrumentos, como gaita, percussão e diferentes timbres de teclado. Como é o processo de criar arranjos que considerem todas essas possibilidades sonoras?

Pedro: Em meu caso, tive a experiência de estudar um pouco sobre arranjos musicais com a Mariana Zwarg (RJ) e o Nailor Proveta (SP), além de ter tido a oportunidade de tocar com grandes arranjadores, como o Itiberê Zwarg (SP) e o João Egashira (PR). Essa escola da música brasileira e da música universal estará sempre comigo independente do que eu estiver escrevendo. Com o Papangu foi assim, na hora de escrever os arranjos de Ruínas e Sol Raiar, compus as partes me inspirando nos membros do grupo e a coisa foi surgindo naturalmente. Aproveitei muitas ideias que já havíamos experimentado em outras músicas, como as polirritmias, os compassos compostos e os ritmos nordestinos. No entanto, o grupo é bem diverso, não há uma única forma de arranjar, mas sim várias. Cada música pede uma história, por mais que algumas músicas tenham sido escritas no papel, todo o grupo opina e ajuda aquilo a tomar forma.

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9. Quais são os cinco discos que mais influenciaram sua vida e por que eles têm esse significado especial para vocês?

Marco: O disco que mais me influenciou talvez seja o Permanent Waves do Rush. Ouço muito pouco de Rush esses dias, por misto de desinteresse na nostalgia e um certo tédio com bandas que já ouvi demais da conta, mas ainda não tem tempo ruim para eu ouvir esse álbum. É um disco bem sequenciado, extremamente bem produzido, com uma banda pegando fogo e se arriscando na mudança de som na virada da década. Fora isso, tem linhas de baixos incríveis, composições cinemáticas, e me pegou justamente na adolescência, quando comecei a tocar baixo. Levo esse disco pro túmulo.

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Rodolfo: Pela nostalgia, Nevermind do Nirvana, A Night at the Opera do Queen, Nightfall in Middle-Earth do Blind Guardian e Nine Lives do Aerosmith—estes marcaram minhas caminhadas diárias para a escola num discman da Sony. Com relação ao aprendizado de produção, o One Size Fits All, de Frank Zappa me ensinou a apreciar a excentricidade dentro de arranjos complexos no rock. Da mesma forma, Rain Dogs de Tom Waits se destacou por sua autenticidade crua, mostrando que desafinações e simplicidade podem ser poderosas quando executadas com sentimento. Por fim, The Lamb Lies Down on Broadway, do Genesis, é um testemunho de excelência musical. A sua capacidade de cobrir todo o espectro emocional com timbres, harmonias e letras complexas é algo que poucos álbuns conseguem atingir.

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Raí: Acredito que seja o Roots do Sepultura. É um disco que descobri lá pelos meus 14-15 anos, escuto até hoje e acredito que faz parte do DNA da Papangu. É um disco bastante especial para mim, pois é uma obra que impactou boa parte da minha vida como músico. Sofri o choque e paixão inicial quando ouvi a primeira vez e à medida que ia amadurecendo e conhecendo novos sons, sempre escutava um pouco dele dentro das composições de diversos artistas.

Queco: Hoje vou falar do Master Of Reality do Black Sabbath. É uma mistura perfeita de muita coisa que eu gosto. Tem peso, tem groove, tem experimentalismo, dinâmica. As linhas jazzísticas da bateria de Bill Ward dão um balanço aos riffs de Iommi que deixam tudo com um fluxo e um swing perfeito, sem batida quadrada. As faixas mais agressivas são intercaladas por interlúdios limpos, de uma beleza harmônica e melódica inacreditável.

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10. Quais artistas nacionais fora do metal vocês mais admiram e o que os atrai no trabalho deles?

Marco: Eu admiro bastante o trabalho de Itiberê Zwarg (baixista de longa data da banda de Hermeto Pascoal), pelo bem público que é o seu projeto da Orquestra Família para a música universal brasileira, e da cena multifacetada do jazz norueguês. Nesse último caso, trata-se de músicos que cresceram banhados pelo metal mas que estudaram jazz em conservatórios, e essa combinação tem resultado em discos super legais e cheios de energia.

Marco: Óbvio que aí tem o fator do investimento público massivo, com vários benefícios fiscais e bom financiamento do Estado, ações que mantêm a cena mais que viva, movimentando a economia e fortalecendo a cultura. Mas seria bacana se o Brasil tivesse gana para se espelhar nesse modelo de política pública e investir mais nas cenas musicais independentes – em centros de ensino, casas de show, e em editais para shows e gravações de artistas menores –, em vez de zerar o orçamento cultural na contratação de shows gigantes de artistas já muito bem estabelecidos.

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Raí: Admiro muito o Gabriel Nóbrega, da Silibrina. Acabei descobrindo o som deles depois de ter entrado numa neura de ouvir Snarky Puppy. Após ouvir a discografia dos caras de cabo a rabo algumas boas vezes, fui atrás de artistas que tivessem um som semelhante e me deparei com Silibrina. Foi paixão à primeira vista. Acho que o resumo mais clichê do som dos caras é um "imagine se Snarky Puppy fosse nordestino".

Raí: Mas eu acho que as composições do Gabriel e do restante do grupo vão muito além disso! Eles conseguem capturar muito bem a essência do jazz com o melhor dos ritmos nordestinos e às vezes colocam um peso interessante nos arranjos. É uma mistureba gostosa danada. Escutem Frevo Maligno e vocês vão entender bem o que eu estou tentando dizer.

Queco: Não posso deixar de citar um conjunto de artistas que eu cito em quase todas as entrevistas que eu já dei: Mestre Ambrósio e Siba. Mestre Ambrósio deve ser minha banda favorita de todos os tempos. É até difícil descrever o som da banda, e normalmente são colocados como parte daquela sonoridade manguebeat dos anos 90 em Recife. Para mim o que o Mestre Ambrósio fez e faz é trazer elementos contemporâneos, com inspirações no rock, psicodelia e outras coisas, para ritmos tradicionais da cultura nordestina como a ciranda, o coco de roda, o maracatu e o caboclinho. Siba é um grande guitarrista, e quando eu pude vê-lo ao vivo inserindo a guitarra em músicas que são construídas com base nos ritmos nordestinos, uma luzinha se acendeu na minha cabeça para determinadas formas de tocar a guitarra na Papangu, desde a gênese da nossa banda.

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Sobre Gustavo Maiato

Jornalista, fotógrafo de shows, youtuber e escritor. Ama todos os subgêneros do rock e do heavy metal na mesma medida que ama escrever sobre isso.
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