Capital Inicial - Entrevista com Dinho Ouro Preto, vocalista
Postado em 10 de agosto de 1999
Entrevista com Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial cedida pelo Fa Clube Oficial Capital Inicial - BH
FC / O Capital Inicial começou punk, namorou o pop, depois o som eletrônico, flertou com o grunge e até com o hard rock. Como você definiria o estilo da banda agora? ( Ricardo liguori -SP)
Dinho / De fato acho que você pode encontrar um pouco disso tudo no nosso som, mas ao mesmo tempo não somos nem grunge, nem eletrônico, nem nada, somos Capital. Na verdade, acho que acaba transparecendo no nosso som as diferentes coisas que ouvimos. Esse último disco talvez seja, digamos o "reconhecimento" que somos mesmo assim. Digo isso porque esse disco é exatamente isso, um pouco punk, um pouco eletrônico, etc. Acho que muitas vezes isso pode parecer um defeito, uma falta de estilo, mas nosso caso é justamente nosso estilo. Além do mais , a no favor, acho que se pode dizer que sempre fizemos isso.
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FC / O que o produtor David Z trouxe para o som da banda? ( Leonardo Luiz - RJ)
Dinho / Muito. É incrível que a essa altura do campeonato nos tenhamos passado por uma experiência que nos ensinou tanto. Se há uma área em que o rock brasileiro ainda come poeira, é na produção. As bandas evoluíram muito. Tanto em composição como quanto instrumentistas, mas a produção ainda nos fazia soar "menores" que as bandas gringas. O mais surpreendente é que isso não tem nada a ver com equipamento, lá ele é o mesmo. A diferença é o material humano. Os caras realmente tem a manha. Bom, não é de se estranhar, afinal eles inventaram o troço. Mas isso tudo é só parte da história. Ter ido lá, pra terra do rock, ficado um mês, gravado com caras que já participaram de discos antológicos foi um privilégio inesquecível. Agora, em relação ao disco em si, eu acho que esse é o melhor que o Capital já fez, e, em grande medida, é também graças a produção. Porque ele nos fez soar (pela primeira vez) como realmente somos e nunca tínhamos conseguido.
FC / O que sobrou do lema "Sexo, drogas e Rock and Roll"? ( João Paulo Andrade - Whiplash)
Dinho / Tudo. Mas cuidado com o exagero. Isso sim é perigoso.
FC / Você acha que o Bozzo Barretti influenciou decisivamente para deixar o som do Capital Inicial mais pop no final da década de 80, distanciando-se das raízes punks? (Ricardo Liguori - SP)
Dinho / Sim. Mas não digo isso com ressentimento. Aliás acho que fui o grande responsável pela sua entrada, gosto dele , mas concordo que acabamos botando açucar demais. Só não acho podemos culpa-lo. Principalmente porque estávamos todos lá, e nada fizemos.
FC / De que maneira o Aislan contribui para a banda? Seu estilo é diferente do Bozzo? (Leonardo Luiz -RJ)
Dinho / Por enquanto o Aislan é um músico acompanhante e um grande amigo. Ele ainda não compôs nada conosco. Quem sabe um dia... O que eu não queria é descaracterizar a banda de novo. Afinal somos um quarteto de rock de Brasília. Mas, o Aislan é um grande músico, com grandes idéias. Vamos dar tempo ao tempo...Quanto ao seu estilo, acho que ele ainda não se definiu.
FC / O Alvin L. pode ser considerado o sexto integrante da banda tendo em vista o grande número de músicas que ele compõe para a banda?(Leonardo Luiz - RJ)
Dinho / Como eu disse antes, o Capital é um quarteto e eu gostaria que ele ficasse assim. No entanto se há alguém que se aproxima de ser o quinto membro, acho que seria ele. Principalmente, o Alvim é um grande, e fiel amigo de todos nós.
FC / O capital já foi uma banda elogiada pela crítica no começo da carreira, depois foi muito criticada e agora com a volta foi bem recebida pelos críticos. O que você acha disso? Você dá importância a opinião dos críticos?(Márcia)
Dinho / Olha, eu reconheço que os elogios que recebemos ultimamente tem um certo sabor de vingança. Mas eu acho que o maior defeito que uma banda pode ter é a auto - indulgência. Ou seja, é preciso ficar sempre atento e vigilante. Você nunca pode estar satisfeito demais consigo mesmo. Nesse sentido, sim, os críticos são muito úteis. Freqüentemente eles dizem a verdade, mesmo que muitas vezes de modo exageradamente agressivo.
FC / Você ainda tem a mesma mentalidade de tocar por prazer ou está voltado mais para a divulgação do nome da Banda nas rádios e tvs?( Ronaldo Suggi -RJ)
Dinho / Eu só toco porque ainda é divertido. Se não fosse, faria outra coisa da vida.
FC / O capital marcou adolescentes dos anos 80 e com a volta de vocês também estão fazendo sucesso com os adolescentes de agora , isso nem sempre é fácil para uma banda conseguir, que você acha disso? (Márcia)
Dinho / Eu acho ótimo tocar pra molecada. Aliás, acho que é pra eles que tocamos. Quando recomeçamos, tinham vários obstáculos a nossa frente, porém, na minha opinião, o maior era que fossemos vistos como uma coisa do passado, uma onda nostálgica. Termos conseguido renovar nosso repertório e nossa platéia é a nossa maior conquista.
FC / Na minha opinião, existem dois Capitais diferentes ao mesmo tempo, o de estúdio com batidas em looping, uma coisa mais Pop e ao vivo é uma banda bem mais Rock e pesada? Isso pode fazer com que as pessoas que gostem do seu CD não gostem do show, e vice-versa. O que pensa sobre isso? Já havia pensado nisso antes? ( Freddy Hajas- RJ)
Dinho / Boa pergunta. Não, na verdade nunca tinha me ocorrido. Nossa, eu espero que não. Sempre achei natural que fossem duas coisas diferentes, o show e o disco. O show é mais sentimento, mais emocional, depende também da platéia e de sua reação.
FC / Brasília, Turma da Colina e Aborto Elétrico são assuntos que o Capital Inicial faz questão de abordar nas entrevistas. Por que a banda está enfatizando tanto este lado agora? (Ricardo Liguori-SP)
Dinho / Com o passar dos anos, em algum momento, chega a hora de olhar pra trás e fazer uma espécie de avaliação. Acho que a nossa hora de fazer isso chegou com a morte do Renato. Com a morte dele parecia que a história tinha começo, meio e fim. Porque começar a falar disso agora? É simples. Se você conseguir botar o que você faz no contexto de um "movimento" ele fica maior historicamente. Veja, por exemplo, a Bossa Nova, a Tropicália etc. Fica pra posteridade um movimento cultural muito mais relevante. A nossa geração, ao contrário das acima mencionadas, é e sempre foi, pautada pela rivalidade. Ora, todos, as bandas e o público, acham tudo o que foi feito, no passado e agora, importante, muito importante, pra cultura brasileira. Acho que falar em movimento e turma da colina é uma forma simples de explicar a nossa origem, sonoridade e histórias comuns. Acho que a união interessa a todos.
FC / Existem muitas contradições quanto ao Aborto Elétrico , em algumas entrevistas da Legião por exemplo, fala-se que o Dado não sabia tocar NADA de guitarra quando entrou na Legião, e outra história que Dado e Bonfá tocavam juntos no "Dado e o Reino Animal" , mas afinal Bonfá não fundou o Aborto junto com o Renato e o Pretorius?? Realmente são muitos boatos...Será que estas questões serão elucidadas no livro que você esta escrevendo??? (Celso)
Dinho / Sim, tudo será explicado. Mas respondendo já a algumas de suas dúvidas. Não o Bonfá não fundou nem nunca tocou no Aborto. O Dado e o Reino Animal era anterior ao Capital e a Legião e era formado por mim, pelo Bonfá, Dado, Loro e um cara tocando teclado cujo nome não me lembro. PODE? Quanto ao fato do Dado não saber tocar nada no começo, nenhum de nós sabia.
FC / Você está tendo algum tipo de contribuição de alguém para escrever seu livro ou está fazendo tudo sozinho? Se tiver, de quem? Já tem editora? ( Ana Beatriz - Mateus Leme/MG)
Dinho / Tô escrevendo sozinho. Não é fácil.
FC / Por que quem canta a música " Terra Prometida" no disco Eletricidade é o Loro Jones, sendo que você é o vocalista?? E por que ele nunca mais cantou? ( Adriana Pinheiro - BH)
Dinho / Ele canta porque ele quis, e eu acho bacana variar um pouco. Não sei porque não a tocamos ao vivo...Bem lembrado.
FC / Qual o critério usado para a escolha das músicas de trabalho? Porque amiga triste ficou fora das três escolhidas? Embora as três sejam maravilhosas...( Fabiano David - Lages/SC)
Dinho / É difícil escolher, além de ser muita responsabilidade, afinal se depois não dá certo é culpa do cara que escolheu. O que nós fazemos é deixar a gravadora escolher. Pensamos assim: gostamos de todas, o que eles escolherem, tá limpo.
FC / Comenta-se que o Capital Inicial pretende fazer um trabalho acústico. Você não teme que a banda caia na repetição de uma fórmula já utilizada por artistas como Rita Lee e Titãs, entre outros?( Ricardo Liguori -SP)
Dinho / Sim estamos pensando em fazer um ao vivo. Não sabemos se acústico ou elétrico. Veremos. Não tenho medo de soar como os Titãs ou Rita Lee porque o nosso , se rolar, vai ser mais rock,n,roll. Sem cordas, nem nada. Gostamos, por exemplo, do acústico do Nirvana. Além do mais, nos nunca fizemos um disco ao vivo juntos. Tô louco pra poder regravar algumas coisas.
FC / Como está sua relação profissional e pessoal com o Fê e com o Flávio, atualmente?( Ricardo liguori -SP)
Dinho / Tá ótima. Honestamente. Acho que estamos vivendo nosso melhor momento.
FC / O que pode-se esperar do Capital para o futuro, a velha rebeldia ou a nova tentativa de harmonia? ( Ronaldo Suggi- RJ)
Dinho / Esse último disco foi uma tentativa de reafirmar nossas raízes. Acho que futuro você pode esperar mais do mesmo.
FC / Duas músicas da época em que você esteve fora do Capital Inicial chegaram a ser executadas nas rádios: "Freiras Lésbicas Assassinas do Inferno" e "Marcianos Invadem a Terra". O que faltou para que o Dinho Ouro Preto estourasse como cantor solo? (Ricardo Liguori - SP)
Dinho / Sei lá, talvez sorte. Mas acho que foi pra melhor. Meu lugar é no Capital.
FC / Você pretende fazer algum disco solo paralelo ao trabalho do capital? (Márcia )
Dinho / Sim, mas dessa vez sem sair da banda.
FC / O próximo disco do capital será ao vivo ou acústico? (Rodrigo)
Dinho / Ainda não decidimos. Mas vai ser um dos dois.
FC / Qual a música do Capital Inicial que você mais gosta e qual a que você detesta ou se arrepende de ter gravado? Qual o melhor e o pior disco do Capital Inicial, na sua opinião? (Ricardo Liguori - SP)
Dinho / Acho o pior disco o terceiro, Você não precisa entender. A pior música seria alguma desse disco. HMMMM......deixa eu ver, sei lá, talvez Pedra na mão. O disco que mais gosto é o último, Atrás dos olhos. Gosto também de Todos os lados. Quanto a música favorita....não saberia dizer, gosto de muitas. Uma que eu acho que passou batida foi Eletricidade.
FC / Que bandas você destacaria do cenário nacional do pop/rock dos anos 90? ( Leonardo Luiz - RJ)
Dinho / Raimundos, Rumbora e Pato Fu.
FC / Você teria uma mensagem ou gostaria de dizer alguma coisa para os Fãs do Capital e do bom rock brasileiro ? ( Cleber )
Dinho / Minha mensagem é a seguinte: nossa paixão é tão grande e intensa quanta a de vocês. Fazemos o nosso melhor. E obrigado por tudo, durante esses anos todos.
FC / Essa não é nem pergunta, é uma sugestão. Acho que vocês deviam variar um pouquinho os shows. Gosto muito do som de vocês, já fui a vários shows e acho que por isso mesmo me incomoda um pouco o fato de todo show ser igualzinho. Sei que vocês têm as músicas programadas para tocar, mas deveria ter algumas variações de um show para o outro. Sem querer criticar, mas já criticando, as falas, os movimentos, até as roupas de vocês são sempre as mesmas... Não fica muito monótono para vocês? parece rotina de escritório... Não leve a mal, é só uma opinião. ( Ana Beatriz - Mateus Leme/MG)
Dinho / Obrigado pelo toque. Mas damos uns 100 shows por ano, e é dificil variar tanto. Também acho que mesmo que toquemos as mesmas músicas, na mesma ordem, com as mesmas falas, nunca um show é igual ao outro. Sei lá, nosso humor varia, a de vocês varia, isso faz cada show ser diferente. Mas, de qualquer modo, você tem razão. Vou tentar deixar umas coisas ensaiadas pra poder variar.
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