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The Nameless Cry, o apogeu musical do Tuatha de Danann

Resenha - Nameless Cry - Tuatha de Danann

Por Marcelo R.
Postado em 29 de janeiro de 2024

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

Matéria originalmente publicada pelo autor no espaço virtual Rock Show.

Os veteranos do Tuatha de Danann dispensam apresentação mais demorada. O nome do conjunto, que ocupa, há muito, espaço consolidado na cena do metal nacional, evoca, por si só, a inconfundível ideia de qualidade musical. A sua discografia é prova disso. O conjunto cativa e impressiona não apenas pela longevidade e pela extensa quantidade de material lançado, mas, sobretudo, pela invariável excelência de suas canções, com seus já conhecidos elementos multifacetados, calcados em fincas de folk metal (não limitados, porém, apenas a esse gênero) e com amplas doses de experimentações.

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A inventividade é uma, e talvez a única, constante imutável do trabalho artístico do Tuatha de Danann. E isso, no melhor dos sentidos. Afinal, o conjunto fascina pela inesgotável criatividade, raro dom, e pelas insaturáveis experimentações, sempre coesas e bem dosadas, enriquecendo e maravilhando a experiência musical proporcionada ao ouvinte.

Às vésperas do apagar das luzes de 2023 – mais precisamente, ao final do mês de novembro –, o Tuatha de Danann brindou-nos com um lançamento oficial inédito. O álbum The Nameless Cry viu a luz do dia três anos após a estreia do material antecessor, In Nomine Éireann (2020).

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Nesse intervalo, o conjunto divulgou duas novas canções, em dois singles distintos: The Nameless, em dezembro de 2022, e United, em outubro de 2023. Esses promissores aperitivos, considerando a tamanha qualidade das canções homeopaticamente disponibilizadas, aumentaram o apetite e a ansiedade pelo aguardado lançamento do material completo.

E a espera, claro, valeu a pena.

Tuatha de Danann foi o primeiro show a que estive presente em 2023 (no Jai Club, em janeiro, na cidade de São Paulo). Foi, também, o último ao qual, no mesmo ano, compareci (na cidade de Americana, em novembro, no espaço Civi, durante um evento denominado Feca).

No show ocorrido no Jai Club, o Tuatha de Danann inaugurou a apresentação com a canção The Nameless, que já havia sido lançada oficialmente, àquela época, como single. Ao resenhar o show, assim descrevi a referida faixa de abertura:

"Embora contenha, já ao seu início, todos os elementos típicos que identificam o som do Tuatha de Danann, The Nameless congrega influências menos habituais à sua música. A canção não é tão pesada e vibrante, no sentido de velocidade do seu ritmo. Ao contrário: ela é construída a partir de bases mais atmosféricas e em tons mais sombrios (com direito, inclusive, a passagens com vocais eletrônicos, na versão de estúdio). À época de lançamento, lembro-me de comentários de integrantes da banda, em redes sociais, afirmando que essa canção continha os traços típicos do Tuatha de Danann somados, porém, a outros ingredientes, inspirados, inclusive, em bandas como Anathema e assemelhados, estilos não tão usuais às suas composições e à sua orientação musical.

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The Nameless, canção primorosa, é um encontro entre o clássico Tuatha de Danann com as fases mais obscuras, introspectivas e atmosféricas de bandas como Amorphis, Katatonia, Anathema, Paradise Lost e Tiamat".

Lançado o material completo, as excelentes impressões (até então, apenas parciais) se confirmaram integralmente, validadas pela audição de um produto musical caracterizado pelo refinamento, pela maturidade e pela indiscutível excelência.

A intenção, aqui, não é a de esmiuçar as canções individualmente, analisando-as uma a uma. A ideia é a de traçar um horizonte do panorama musical que direciona a verve de The Nameless Cry.

The Namelss Cry retrata trabalho maduro, robusto, pesado, atmosférico, bem produzido e bem gravado. E, naturalmente, multifacetário e experimental, como é praxe ao Tuatha de Danann.

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Se, por um lado, a faixa The Nameless, como já afirmado, inaugura o material de forma soturna e, em certa medida, gélida (com a exploração de campos menos convencionais às influências habituais do conjunto), o trabalho sequencia-se com United, uma canção com elementos mais típicos à sonoridade do conjunto. Os arranjos de música folk e celta destacam-se logo na introdução da faixa, desenvolvida com matizes mais espirituosos e vivazes, naturais ao estilo.

Uma característica, porém, perceptível nessa segunda canção, United, que se estende ao longo de toda a audição de The Nameless Cry, diz respeito à "sobriedade" (palavra mais próxima que encontrei para caracterizar a experiência sonora geral proporcionada pelo álbum). É dizer, em outras palavras e melhor explicando: ainda que os instrumentos e os arranjos mais animados e multicoloridos estejam presentes – como é próprio ao estilo da banda –, as canções apresentam, no espírito geral de The Nameless Cry, uma tonalidade mais obscura, sombreada, soturna, efeito provável do maior peso inserido nas canções e do andamento ritmicamente mais cadenciado.

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Esse contraste experimental ensejou resultado singular e agradável, ao confrontar, sadiamente, elementos vivazes, de um lado, com aspectos e arranjos mais sombrios e pesados, de outro. Apesar desses polos opostos, o Tuatha de Danann não perdeu o direcionamento, tampouco soou desconexo. Ao contrário: entrançou, com coesão, características díspares, conferindo unidade e sentido às canções, entregando ao ouvinte, assim, prazerosa experiência sonora, conciliando e amalgamando, com equilíbrio, sentimentos distintos e mistos, sem excessos ou exageros.

E assim se desenvolve e avança a audição de The Nameless Cry.

A Fragile Whisper to a Raging Roar, terceira faixa do material, merece menção individualizada, por sua surpreendente excelência e por suas características singulares. Distinta por escapar ao espírito geral do álbum, A Fragile Whisper to a Raging Roar é menos pesada e menos sombria, com traços que exploram influências fora das raias do metal. A faixa é notoriamente inspirada por elementos de rock progressivo, com toques, ainda, de música folk, numa linha que remete, diretamente, ao estilo de conjuntos como Jethro Tull. Essa canção é, sem dúvidas, um dos grandes destaques do álbum.

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The Nameless Cry também revisitou, em certos momentos, terrenos menos explorados pela banda nos últimos álbuns. Refiro-me, especificamente, aos vocais guturais, que felizmente ressurgiram, aqui e acolá. E esse fator, inserido sem exageros, igualmente contribuiu à prodigalidade e à variedade musical adicionada ao álbum.

A esse propósito, em The Virgin's Tower, há alternância entre vozes guturais masculinas, de um lado, e delicados e limpos cantos femininos, de outro, numa espécie de "jogo de cena" ao estilo A bela e a fera, bastante popular no gothic metal. O Tuatha de Danann adaptou e acomodou esse arranjo excelentemente bem, ao seu próprio estilo, ponto igualmente digno de destaque.

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A faixa The Rabble's Cry, com sua letra dotada de forte conotação social, também merece menção. Musicalmente, a canção possui uma bela e cadenciada introdução, com predomínio de instrumentos e arranjos típicos ao estilo celta e folk. A faixa conta, ainda, com um refrão visceral, pesado, direto e agressivo, construído sobre as bases de uma impactante explosão sonora que parece representar, até mesmo pela sobreposição de vozes uníssonas (e, claro, pelo próprio conteúdo lírico), o grito revoltoso de massas histórica e tradicionalmente silenciadas.

As surpresas reservadas ao ouvinte, em The Nameless Cry, acompanham-lhe até os últimos minutos da audição. Isso porque a faixa de encerramento, Revenge, com seus 8 minutos, possui duração superior à média das composições do conjunto. Os 2 minutos finais da canção, porém, fragmentam o seu ritmo e, de modo não precavido, amainam, num súbito, o ânimo do ouvinte.

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Preparando, assim, o espírito para o fim da audição, Revenge entrega um desfecho magistral ao imponente The Nameless Cry, com um atípico e inesperado arranjo instrumental exclusivamente no teclado.

Após sofrer ruptura e quebra no seu tempo – ritmado, até então, com o estilo típico do Tuatha de Danann –, Revenge arrebata o ouvinte de forma desprevenida, conduzindo-o a uma ambiência repleta de sentimentalismo e beleza. O tom desse trecho instrumental, inserido ao apagar das luzes de The Nameless Cry, tem matiz melancólico, sentimental e dramático, conferindo um tom triste de encerramento, finda a jornada épica. E é isso que The Nameless Cry representa: uma aventurosa, fulgurante, vivaz e, por vezes, sombria aventura épica, que transcorre em meio a paisagens sonoras construídas a partir de uma deleitosa e dinâmica experiência musical, fértil em qualidade, criatividade e inspiração.

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Por fim, é importantíssimo ressaltar que o conceito de letras de The Nameless Cry encontra forte e direta inspiração em questões e conceitos políticos e sociais, com tons e brados de protesto em prol de valores de minorias e de grupos socialmente vulneráveis. Ilustrando essa forte veia temática, citam-se canções como The Nameless, The Rabble's Cry e Clown, entre outras. Para uma completa e imersiva experiência proporcionada pelo conceito do álbum, que supera os aspectos exclusivamente musicais, recomenda-se enfaticamente a leitura e a absorção do conteúdo das letras.

Em The Nameless Cry, o conjunto alcançou o apogeu musical, entregando ao público um álbum maduro e fértil em qualidades.

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Tuatha de Danann é inventivo, criativo e, com The Nameless Cry, comprovou, novamente, que, para o grupo, o céu é o limite. Ao dominar, com segurança, a habilidade e o talento de trabalhar com diversas e tão distintas influências, conjuntando-as equilibradamente, sem perder unidade, foco e direcionamento, o Tuatha de Danann demonstrou, novamente, que a sua carreira será longeva e criativamente próspera, para a alegria dos fãs.

Assim o desejamos e esperamos.

Vida longa ao Tuatha de Danann.

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Sobre Marcelo R.

"Marcelo R. é natural de Itu. Da fama de sua cidade, herdou alguns exageros, como o gosto pela música e pela literatura. Ávido leitor e aficionado por uma imensa gama de subgêneros do rock, possui especial paixão pelo metal nacional, do qual é incansável apoiador. É colecionador de discos, já tendo completado algumas discografias, como a do Katatonia e a do Bruce Dickinson. Nas horas vagas, é um despretensioso escritor, aventurando-se especialmente em resenhas de livros e de música. Colabora com a página Rock Show, sediada no site Medium. É formado em Direito."
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