Black Pantera: a ascensão do trio mineiro com metal antirracista
Resenha - Ascensão - Black Pantera
Por Victor de Andrade Lopes
Postado em 27 de março de 2022
Nota: 9
Em seu oitavo ano de vida, o trio mineiro Black Pantera registra seu terceiro disco de estúdio, o primeiro por uma gravadora relativamente grande: Ascensão, que saiu em 11 de março pela Deckdisc.
Enquanto parte do Brasil vai à loucura por conta da cantora Anitta ter emplacado uma música no topo da parada global do Spotify, gostaria de usar este espaço para exaltar este grupo de letras ácidas porém necessárias que foi notada lá fora antes de ser notada aqui. Eu mesmo, se não me falha a memória, provavelmente só os conheci naquelas iluminadoras listas de "bandas brasileiras de rock/metal que você precisa conhecer".
Em Ascenção, os rapazes deixam seu discurso tão afiado quanto os imponentes facões segurados por Ana Francisco e Carolina Antônio, as duas moçambicanas retratadas na capa da obra em foto de Victor Balde.
A abertura convenientemente chamada de "Mosha" e iniciada com o verso "quero que isso tudo vá pra puta que o pariu" já deixa claro duas coisas: os shows do cara serão verdadeiras catarses e o álbum veio para socar mesmo.
Depois desta faixa "festiva" (na verdade a única outra menos "politizada" seria "Não Fode o Meu Rolê"), voltamos ao discurso antirracista nosso de cada dia com "Padrão É o Caralho", que questiona o uso da expressão "a coisa tá preta" como sinônimo de algo ruim antes de questionar, como o titulo indica, padrões em geral. E o que dizer de "Fogo Nos Racistas"? Preciso falar algo mais além do título?
"Revolução É o Caos" é outro petardo hardcore, cujos primeiros versos são curiosamente cantados num ritmo parecido com o de "O Namorado", de Caetano Veloso. "Anti Vida" é um necessário ataque ao negacionismo da COVID-19, enquanto que "Dia do Fogo", com Rodrigo Lima do Dead Fish, faz outra crítica ácida, desta vez ao descaso com a Amazônia. E que tal "Evilcred", que parece uma versão suja de "Dívidas", do clássico disco Titânico Cabeça Dinossauro?
E pra não dizer que a banda não é sensível, receeeeeba o encerramento "Estandarte", tão relativamente delicado que vem até com participação do grupo essencialmente pop Tuyo, de Curitiba.
Se você também contas os dias para o fim do governo do sujeito que foi eleito porque "falava o que pensava", aproveite para enriquecer a trilha sonora desta contagem regressiva com um lançamento pesado e direto de uma galera que também fala o que pensa - mas ao menos tem algo a dizer.
Abaixo, o vídeo de "Padrão É o Caralho".
FONTE: Sinfonia de Ideias
https://sinfoniadeideias.wordpress.com/2022/03/26/resenha-ascensao-black-pantera/
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