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Emerson, Lake & Palmer: "Love Beach" era um álbum que a banda não queria fazer

Resenha - Love Beach - Emerson, Lake & Palmer

Por André Pereira Rocha
Postado em 25 de março de 2021

Poucas pessoas podem ter escutado, mas qualquer um que goste de Rock, e obviamente todos aqueles que gostam de Progressivo da década de 1970, já se depararam no mínimo, e se espantaram, com a capa de "Love Beach", álbum lançado em novembro de 1978 pelo aclamado trio inglês Emerson, Lake & Palmer. Não só a capa escapava completamente de tudo aquilo que já havia sido feito pelos músicos, como a própria sonoridade parecia fora de esquadro. Os próprios integrantes, com o passar do tempo viam, não só essa época, mas o próprio disco como um problema. "Love Beach" não foi diretamente o responsável pela separação da banda, das várias que ocorreram ao longo dos anos, mas é parte fundamental da representação e dos claros dilemas que cada um tinha naquele momento.

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Para entender de fato o disco, é preciso retomar alguns pontos importantes do período.

Primeiro, havia uma clara tensão entre Keith Emerson e Greg Lake em meados da década de 1970 e que foi se agravando com o passar do tempo. Após os primeiros discos, a consolidação no cenário musical e a expansão da música do trio, ambos disputavam, direta e indiretamente, um espaço de centralidade, seja como liderança, como compositores ou na direção conceitual das produções. Após o primeiro disco autointitulado de 1970, "Tarkus", de 1971, "Trilogy", de 1972, "Brain Salad Surgery", de 1973, foram elevados a um alto patamar. Tornaram-se expoentes do Rock Progressivo, alcançaram grande público em festivais e shows e atingiram um número significativo de ouvintes com a acessibilidade que algumas músicas tinham, como "Lucky Man" e "From the Begining". Assim, as pausas, separações, dificuldades, muitas vezes, estavam diretamente relacionadas aos problemas de relacionamento entre os dois integrantes. Nas décadas de 1980 e 1990, as idas e vindas aconteciam também por essa razão.

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Segundo, os shows do trio eram um espetáculo à parte, eles não mediam esforços para tornar as apresentações em eventos épicos. Alcançaram um grande público na Europa e nos EUA, o que consequentemente aumentava o número de apresentações e público. Até hoje o antológico festival "California Jam", de 1974, que contava também com Black Sabbath e Deep Purple, é considerado dos maiores recordes para as três bandas. Contudo, quanto maior esse desejo de grandiosidade, maior eram os custos para a produção. Progressivamente, as despesas foram ficando cada vez mais altas, fazendo com que tivessem que ser compensadas pela gravadora e empresariado com mais shows e discos. Orquestras, instrumentos raros, consertos e reparos frequentes e excentricidades fizeram o ELP uma banda de sucesso, mas também difícil de gerir de forma contábil.

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Por fim, no fim da década de 1970, o mundo musical estava passando por profundas mudanças, principalmente o Rock. Novas vertentes ocupavam as rádios e os ouvidos do grande público, como a música Disco e o nascente Punk. Essas mudanças foram acompanhadas de novos direcionamentos musicais por parte de muitas bandas. Yes, Genesis, Jethro Tull, cada uma a seu tempo, também se transformavam nesse processo. Tornavam-se mais radiofônicas, deixavam as grandes obras por canções mais curtas e palatáveis. Hoje, é possível visualizar de forma mais clara o que aconteceu com cada uma delas e o caminho que seguiram.

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Entre 1974 e 1977, Emerson, Lake e Palmer fizeram uma pausa, que culminou em seu fim nos discos "Works - Volume I" e "Works - Volume 2", com turnês principalmente por EUA e Canadá. Entretanto, as apresentações não alcançaram o mesmo público e o mesmo alcance que anteriormente conseguiam. A partir daqui, iniciou-se o ponto de partida para a produção de "Love Beach".

Em uma entrevista de 1986, na época de Emerson, Lake & Powell, com o Cozy Powell na bateria, Emerson e Lake falaram sobre o período. Como colocou o tecladista: "Eu acho que nós não tivemos espaço para respirar. (...) Havia muita pressão sobre nós por parte da gravadora, acerca de questões financeiras, eu suponho". Lake complementa: "Eu acho que excursionamos demais também". Emerson completa: "Nós fizemos muitas turnês. (...) Não paramos para nada. Acabávamos de sair da turnê e a gravadora nos dizia: 'Olha, vocês voltaram! Vamos fazer um álbum'. Nós realmente precisávamos de um descanso".

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Em 2011, perguntado sobre o direcionamento do disco, Emerson desenvolveu mais sobre o assunto. Ele começa: "Naquela época, se você não fosse fotografado sorrindo, rindo, não daria certo. Foi basicamente um pacote completo que foi colocado sobre o ELP, uma capa no estilo "BEE GEES" e dando um grande sorriso. (...) Nós estávamos tentando fazer uma mudança que muitos dos nossos contemporâneos estavam fazendo, como Genesis e Yes fizeram muito bem. A Atlantic Records estava nesse processo e queria ir por esse caminho, com um material mais radiofônico. (...) e "Love Beach" foi a tentativa de fazer esse material. (...) Nós vivíamos nas Bahamas, porque os impostos na Inglaterra eram apavorantes, e Chris Blackwell tinha um estúdio lá e ficamos por volta de seis meses para produzir essas músicas que nós acreditávamos ser mais curtas e fáceis de tocar em rádios e então fizemos a arte da capa e as fotos. (...) Se ELP tivesse a coragem e a convicção, eu acho, nós poderíamos ter colocado tudo isso de lado."

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Pelo lado musical, ele afirma: "Não me sinto confortável com a progressão da música, apesar de existir alguns momentos bons. Realmente existem. (...) Música é sobre experimentação, se você não tenta, você está regredindo. Olhando lá atrás, não faria nada diferente. Foi importante tentar, porque não tivemos a coragem e a convicção de arcar com isso e dizer 'tem que ser assim'."

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Em 1986, Lake colocava seu ponto de vista sobre o álbum: "Na verdade, o álbum que nós não queríamos fazer era o "Love Beach". Nós fizemos sob pressão. Eu penso, que naquela época, nós poderíamos facilmente ter dado uma parada de turnês e gravações. E porque nós estávamos sob pressão, fomos colocados nessa situação. Foi onde poderíamos ter dito: 'Olha, precisamos parar um pouco'. E foi assim que aconteceu."

Sobre as pressões e tensões entre os integrantes, gravadora e empresariado, o vocalista disse que "não era uma daquelas separações cheias de problemas e amarguras. Nós apenas sentimos que fomos colocados de lado. Podíamos sentir isso. E melhor que olhar para trás e se flagelar com isso, por razões puramente comerciais... apenas não parecia certo. Essa foi uma das questões. Nós tínhamos que estar lá naquele momento, mas não sentíamos isso. Ninguém tinha vontade de tocar."

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Entretanto, em entrevista de 2013, vendo as coisas de outra perspectiva e falando sobre a musicalidade do álbum, ele explicou que " não é que "Love Beach" seja um álbum ruim, é apenas um álbum que a banda não queria fazer. Nós fomos forçados a fazê-lo contratualmente, mas, uma vez decidido a produzir, nós demos nosso melhor. Há muita coisa legal lá. Novamente, Pete (Sinfield, letrista) e eu fizemos muita coisa lá, Keith trabalhou muito no disco. Assim, é mais um disco do ELP, mas não o melhor. Não é um "Tarkus", "Trilogy", "Brain Salad Surgery", "Pictures at an Exibition" ou "Emerson, Lake & Palmer" ou "Work - Part I". Não é dessa qualidade. Foi um álbum que estávamos cansados criativamente."

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Aqui, este que vos fala, acredita que de fato o disco seja um ponto bem fora da curva na produção de ELP. O disco em si não é horroroso, mas é possível perceber a falta de criatividade e cansaço, um certo comodismo, busca por algumas saídas que não são comuns para o trio e a tentativa de fazer algo que não era o que queriam. As letras são simplistas e por vezes fracas, bastante voltadas para o contextos Disco, como citado, mas musicalmente é um disco "ok" de escutar. A tentativa de manter uma certa identidade, com "Memoirs of an Officer and a Gentleman", de 20 minutos, se perde em alguns momentos, mas músicas como "For You" e "All I Want Is You" ainda assim são boas. Como obra completa e pela história do trio, vale a pena , até mesmo para aqueles que repudiam simplesmente por olhar a capa. Mas, de fato, temos que concordar com Greg Lake, não é o melhor, mas não é necessariamente ruim. Só uma tentativa questionável em um momento desfavorável.

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FONTE:
Entrevista de 1986 ELP
Entrevista de 2013, Greg Lake
Entrevista de 2011, Keith Emerson

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Sobre André Pereira Rocha

Pesquisador, historiador, professor, gamer e nerd. Conheceu a base do Rock e Metal com "Rock 'n Roll Racing". Escuta muita coisa, mas depois que ouviu "Somewhere in Time" do Iron Maiden pela primeira vez, nada mais foi como antes.
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