Resenha - Blessed Curse - Manilla Road
Por Diogo Muniz
Postado em 04 de janeiro de 2021
Os anos 2010 foram um período bastante produtivo para Mark Shelton, pois apesar do Manilla Road não estabelecer uma formação fixa desde o seu retorno, a banda continuava a lançar discos sob a batuta de seu líder. Além do Manilla Road, Mark Shelton também conduzia seu projeto paralelo batizado Hellwell. Em 2015 Mark Shelton se envolveu em dois lançamentos, um com o Manilla Road e outro (meses depois) com um álbum solo de músicas acústicas. O foco dessa resenha é o álbum do Manilla Road, batizado de "The Blessed Curse", sendo o décimo sétimo disco de estúdio da banda. A formação desse disco é composta por Bryan Patrick (voz), Josh Castillo (baixo), Neudi (bateria) e obviamente Mark Selton (guitarra e voz), sendo a mesma formação que gravou o disco anterior, "Mysterium" (de 2013).
Com uma capa belíssima que apresenta a figura de uma mão segurando um crânio, "The Blessed Curse" é um disco duplo, uma das propostas mais ousadas da banda. O disco um recebeu o mesmo título do álbum, e abre com a faixa título, "The Blessed Curse". Trata-se de uma perfeita faixa de abertura, com todos os elementos de uma canção do Manilla Road. Na época da divulgação do lançamento do disco foi a música utilizada como teaser.
"Truth in the Ash" é uma canção pesada que já chega direto na cara do ouvinte, sem fazer firulas.
Uma belíssima balada com toques orientais, essa é a melhor definição para "Tomes of Clay", a terceira faixa do disco um. É facilmente um dos grandes destaques do disco, sendo também uma das mais trabalhadas, com um trabalho instrumental muito marcante, sobretudo o solo de guitarra. O fato de termos Mark Shelton e Bryan Patrick cantando em coro durante toda a música conferiu um charme a mais, dando uma atmosfera hipnotizante, um grande diferencial para a canção.
Hora de voltarmos para a pancadaria. Conduzida por uma bateria insana, "The Dead Still Speak", cantada por Bryan Patrick, é mais uma canção que faz o ouvinte bater cabeça sem perceber.
"Falling" é uma canção acústica que já cativa o ouvinte com seus primeiros acordes. Uma belíssima canção acústica conduzida por Mark Shelton. Apesar de ser uma canção acústica e introspectiva, é também uma música grandiosa. O refrão é simplesmente perfeito, com Mark Shelton e Byran Patrick cantando em coro, o que dá um clima ainda mais especial para essa verdadeira joia musical.
"Kings of Invention" possui uma introdução bem sacada no baixo, algo bem diferente de tudo que o Manilla Road já havia feito até então. Essa é mais uma música pesada, muito bem executada e que mantém o nível do disco.
Sem dar tempo para respirar, logo começa "Reign of Dreams", outra pedrada conduzida pelos vocais de Bryan Patrick. Os riffs são bem marcantes, e (como em todo o disco) o entrosamento da banda é nítido.
Mark Shelton e companhia certamente estavam sedentos por fazer música pesada, e podemos ver isso em "Luxifera´s Light", a oitava faixa do disco. Mais uma música pesada e muito bem executada, que mesmo sendo um pouco mais cadenciada não deixa a peteca cair em nenhum momento.
A pancadaria continua seguindo em frente, e "Sword of Hate" cumpre bem o seu papel, com uma sonoridade sombria. Vale a pena mencionar o marcante solo de guitarra, cortesia de Mark Shelton.
Depois de uma sequencia de peso, temos "The Muses Kiss", outra belíssima canção acústica encerrando o disco um. Aqui podemos ver como Mark Shelton de fato se sente bem à vontade nesse estilo voz e violão. Lá pela metade, a canção começa a ganhar corpo, sendo acompanhada por batidas tribais, e cheia de solos e riffs inspirados e marcantes. É uma daquelas músicas na qual todos os músicos se destacam por suas performances. Uma canção perfeita para encerrar o primeiro disco
Todas as músicas do disco um tem como temática lírica a civilização suméria, uma das primeiras civilizações da humanidade, sendo que cada música aborda essa civilização sob diferentes aspectos. Por conta disso podemos considerar o álbum "The Blessed Curse" como sendo semi-conceitual. Um detalhe interessante a se mencionar, é que no disco um, a maioria das canções foi interpretada por Bryan Patrick, dando grande ênfase nas músicas pesadas.
Agora é hora de colocar para rodar o disco dois, batizado de "After the Muse", titulo esse também da faixa de abertura. Uma bela canção acústica conduzida por Mark Shelton. Tem um clima de mistério e contemplação.
Com belíssimos solos de guitarra temos "Life Goes On", com uma letra introspectiva e contemplativa, o que casa perfeitamente com a atmosfera proposta na canção. É uma daquelas músicas feitas para se ouvir de olhos fechados e se deixar levar.
Para quebrar totalmente as expectativas, a terceira faixa do disco dois nos apresenta uma versão demo de "All Hallows Eve" gravada em 1981. Sua sonoridade remete ao disco "Mark of the Beast", podendo facilmente ter entrado no tracklist do que originalmente seria o segundo disco da banda, mas que só foi lançado oficialmente em 2002. Apesar de ser uma versão demo, ao maior parte dos elementos da música já estão presentes, com exceção de algumas seções, o que naturalmente a deixou mais curta. Por ser uma versão demo do inicio dos anos oitenta, obviamente a voz de Mark Shelton não é a mesma. Isso é interessante notar, pois ao se comparar os registros vocais antigos e os mais recentes fica nítido perceber como a voz do líder do Manilla Road envelheceu bem, ficando mais encorpada, o que proporciona uma atmosfera diferente para as músicas.
Voltando para o clima acústico temos "In Search for the Lost Chord", uma canção intimista com belos toques de violão clássico. Sua letra é um verdadeiro paradoxo, pois aqui Mark Shelton encontrou os acordes certos para criar uma música belíssima.
"Reach" é a mais trabalhada das músicas acústicas que compõem o disco dois. Diferente das anteriores, "Reach" é uma canção bastante expansiva que chega a ter momentos mais progressivos. A introdução é longa, o que faz o ouvinte acreditar que seja uma música instrumental. A voz do velho bardo Mark Shelton só aparece na segunda metade da canção. Em outras palavras, uma canção rica e bem fora dos padrões.
Para encerrar o disco temos a versão definitiva de "All Hallows Eve", com toda a roupagem do Manilla Road do século XXI. Apesar de ser uma música longa (pouco mais de dezesseis minutos), dessa vez não houve a tradicional divisão por partes. Por ser a versão definitiva, obviamente está mais trabalhada, principalmente na parte instrumental. A voz envelhecida de Mark Shelton soa muito melhor, casando melhor com os versos tenebrosos da canção. Lá pela metade da música ela dá uma acelerada com direito a riffs com uma pegada mais punk (!) para depois voltar ao bom e velho heavy metal a la Manilla Road.
Como se pode perceber, o disco dois é basicamente um disco mais voltado para as músicas acústicas, sendo que em todas elas é Mark Shelton quem assume os vocais. Pode-se dizer que o segundo disco foi um experimento de Mark Shelton no estilo voz e violão, pois o estilo dessas canções é basicamente o mesmo estilo do disco acústico solo de Mark Shelton, que viria a ser lançado meses depois (o excelente "Obsidian Dreams").
Na verdade "The Blessed Curse" é um disco bem experimental e ambicioso, não só por ser um álbum duplo, mas também pelo fato de que nesse disco o Manilla Road trouxe vários elementos novos para as suas composições – e ainda assim conseguiu se manter fiel ao seu estilo. Por outro lado é um disco mais difícil de ouvir (principalmente para ouvidos leigos), pois é um disco bem mais complexo, desses que foram feitos para realmente se sentar e apreciar atentamente cada canção.
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Disco 1 - The Blessed Curse
The Blessed Curse
Truth in the Ash
Tomes of Clay
The Dead Still Speak
Falling
Kings of Invention
Reign of Dreams
Luxifera's Light
Sword of Hate
The Muses Kiss
Disco 2 - After the Muse
After the Muse
Life Goes On
All Hallows Eve (1981 demo)
In Search of the Lost Chord
Reach
All Hallows Eve
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