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Legião Urbana: O discurso de tristeza e morte no álbum A Tempestade

Resenha - Tempestade - Legião Urbana

Por Paulo Faria
Fonte: Whiplash
Postado em 27 de abril de 2020

"E quando eu for embora
Não, não chores por mim" (Renato Russo)

Dia 27 de março último foi a data que se comemorou os 60 anos do nascimento de RENATO RUSSO – o maior poeta da música brasileira. Poeta, sim, pois nem antes nem depois dele ninguém conseguiu com maestria unir versos únicos em acordes com tamanha perfeição. (Ouça a canção "Acrilic on Canvas", do segundo disco da LEGIÃO URBANA e comprovem).

Em vida, RENATO RUSSO foi alçado à condição de "Messias" devido a sua capacidade de sintetizar através do rock todas as aspirações e frustrações da sua geração. Foi ele o maior porta-voz de brados engasgados de uma juventude ávida por liberdade de expressão.

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Até a sua morte, com a LEGIÃO URBANA, RENATO compôs oito álbuns; em carreira solo, dois álbuns. Mas foi com o derradeiro disco da LEGIÃO URBANA, "A Tempestade", de 1996, lançado às vésperas de sua morte, que RENATO RUSSO externou toda a dor de seu sofrimento. À época, padecendo dos males que a AIDS lhe trazia, este disco foi escrito envolto de uma atmosfera melancólica em todos os sentidos: reclusão, depressão, alcoolismo, o abandono dos medicamentos do tratamento da doença e o clima nada amigável com seus companheiros de banda. Tudo isso culminou para que o disco "A Tempestade" trouxesse uma temática devastadora de perda, pessimismo, solidão, tristeza e morte, se transformando numa espécie de "carta de adeus" de RENATO RUSSO ao mundo através de canções que fazem uma ode à melancolia. Nada no disco é alegre ou traz esperança. Nada. O clima é de desalento total - fruto das letras mais introspectivas que RENATO escrevera até ali interpretadas com uma voz fraca e debilitada somada aos arranjos musicais tristíssimos feitos sob medida para cada uma das 15 músicas que recheiam o disco, principalmente os arranjos de teclado.

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É sob todos estes aspectos que "A tempestade" é o disco mais triste do rock brasileiro e figura também dentre os mais tristes do rock de todos os tempos.

A faixa que abre o disco, "Natália", é a mais pesada, mas nem por isso há alívio na "cólera" que se estende durante sua execução. Os primeiros versos são o prenúncio do que virá à frente no decorrer do disco: "Vamos falar de pesticidas/E de tragédias radioativas/De doenças incuráveis/Vamos falar de sua vida". Nestes versos, é como se RENATO comparasse a vida do interlocutor com tragédias radioativas ou doenças incuráveis. E continua: "Ter esperança é hipocrisia/A felicidade é uma mentira/E a mentira é a salvação. No fim deste caos todo misturado à riffs de guitarra, RENATO tenta se redimir quando entoa a frase "Mas quem sabe um dia eu escreva uma canção pra você". O problema é a adversativa "mas" que impede qualquer tipo de sentimento de misericórdia.

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Em "L'Avventura", diz RENATO: "E nem o céu é belo e prateado/E o que eu era eu não sou mais/E não tenho nada pra lembrar". em "Longe do meu lado", o "alvo" é a paixão: "A paixão quer sangue e corações arruinados/E saudade é só mágoa por ter sido feito tanto estrago/E essa escravidão e essa dor não quero mais/Quando acreditei que tudo era um fato consumado/Veio a foice e jogou-te longe; longe do meu lado".

A "Via-Láctea" é sem dúvidas um dos pontos mais dramáticos de "A Tempestade". Nela, RENATO narra em primeira pessoa seu estado emocional de uma forma crua e amarga. Quando se ouve a música é como se o cantor estivesse te fazendo uma confissão: "Quando tudo está perdido/Eu me sinto tão sozinho/Hoje a tristeza não é passageira/Hoje fiquei com febre a tarde inteira/E quando chegar a noite/Cada estrela parecerá uma lágrima/Queria ser como os outros/E rir das desgraças da vida/Ou fingir estar sempre bem". Realmente é uma canção muito dolorosa de se ouvir. A atmosfera triste, de desamparo e confidência, faz com que o ouvinte se torne parte da narrativa do autor. Outro ponto dramático está em "Música Ambiente" quando RENATO numa ambiguidade declara: "E quando eu for embora/Não, não chores por mim".

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Dando um salto mais à frente, na faixa 9, "Dezesseis", é contada a história de João Roberto, o ‘Johnny’, um jovem de dezesseis anos que morre praticando um "racha" automobilístico; e tudo "por causa de um coração partido".

Não vou me estender analisando faixa a faixa do disco, mas é impossível não citar a trilogia que encerra o álbum e que coincidentemente são as três melhores canções de "A Tempestade": "Esperando por Mim", "Quando Você Voltar" e "O Livro dos Dias".

"Esperando por Mim" é a música que mais gosto da carreira da LEGIÃO URBANA. Tudo nela é fantástico: os arranjos, a letra, a melodia (triste) e um "q" de rock progressivo. Ao mesmo tempo que ela me causa uma sensação de agonia, me causa também uma sensação de redenção. Depois do instante em que RENATO diz que o "mal do século é a solidão" ele arrebata dizendo que "nossos dias serão para sempre".

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"Quando você Voltar" é uma singela balada acústica que descreve a briga de um casal: "Meu amor, cuidado na estrada/E quando você voltar/Tranque o portão/Feche as janelas/Apague a luz e saiba que te amo...". Essa é uma daquelas músicas para se ouvir sob a luz da lua que entra gentilmente pela fresta da janela enquanto você está devidamente acomodado numa poltrona pensando naquele alguém que partiu...

E pra fechar o disco temos a também ultra dolorosa "O Livro dos Dias". A canção é um épico em todos os sentidos com um dos melhores versos compostos pelo RENATO. Mas aquele que definitivamente marca é "Meu coração não quer deixar meu corpo descansar". Com isso encerra-se o ciclo de umas das mentes mais brilhantes que já pisou na terra.

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"A Tempestade" foi lançado no dia 20 de setembro de 1996, três semanas antes da morte de RENATO RUSSO. O cantor quase não compareceu aos estúdios de gravação devido aos problemas já relatados neste artigo; ele acompanhou as gravações, mixagem e produção à distância, em casa, e invariavelmente brigando e desaprovando o trabalho que o resto da equipe fazia no estúdio. A verdade é que poucos sabiam até o momento da morte de RENATO RUSSO o real estado do artista. O próprio guitarrista DADO VILLA-LOBOS em seu livro diz que falou com RENATO por telefone uma vez dois meses antes de sua morte. O diretor artístico do disco tentou convencer o vocalista a voltar ao estúdio e regravar os vocais, pois as vozes até ali registradas eram apenas as "vozes-guias" que servem de parâmetro para conduzir as gravações. RENATO RUSSO se negou e o que ficou registrado no produto final foram as primeiras vozes mesmo e pronto. Por isso – apesar do estado debilitado do cantor – é perceptível ao ouvir "A Tempestade" um vocal cansado, fraco e quase sem expressão, muito diferente dos trabalhos anteriores de RENATO RUSSO. Este fato ajudou ainda mais na carga de dramaticidade que o disco "A Tempestade" carrega.

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"A Tempestade" foi o primeiro disco da LEGIÃO URBANA que não aparece a frase em latim "Legio omnia vincit" ("Legião a tudo vence") substituída por outra de Oswald de Andrade: "O Brasil é uma república federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus". "A Tempestade" foi uma das formas que Renato encontrou de dizer "adeus".

O mosaico de sentimentos como o de perda, paixão, pessimismo, solidão, tristeza, depressão e morte faz de "A Tempestade" uma obra icônica - fruto dos momentos mais desoladores do maior compositor brasileiro, e que em maior ou menor grau também ecoa em cada ouvinte.

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Sobre Paulo Faria

Paulo Faria tem um montão de anos; é um amante do cinema de horror, literatura e rock 'n' roll. É professor por formação, humorista por conveniência, músico por obsessão e escritor por aspiração.
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