Nirvana: resenha do disco Incesticide
Resenha - Incesticide - Nirvana
Por Brunelson T.
Fonte: Rock in The Head
Postado em 19 de abril de 2020
Nota: 10
Este 3º trabalho de estúdio do NIRVANA, "Incesticide" (lançado em dezembro de 1992), foi colocado no mercado com o intuito de suprir as necessidades dos fãs, gravadora e empresários, devido ao sucesso monstruoso do álbum anterior, "Nevermind" (2º disco, 1991), além da banda estar precisando apresentar algum material "novo" para todos.
Após o fim da turnê do álbum "Nevermind" em fevereiro de 1992, no decorrer do ano, NIRVANA realizou poucas sessões em estúdio e nenhuma turnê foi agendada, gerando alguns shows esporádicos, apresentação na MTV, no lendário Reading Festival (Inglaterra), um pulo na Argentina e algumas datas na Europa no meio do ano (material raro) devido alguns shows que foram cancelados na turnê européia do disco "Nevermind".
NIRVANA e Kurt Cobain lidaram com o ano de 1992 mais entrelaçados com problemas de saúde, familiar e particular do frontman da banda, lidando com drogas/clínicas de reabilitação, guarda judicial da filha recém nascida e relacionamento tempestuoso com sua esposa, Courtney Love - tudo com os holofotes da mídia em cima.
Com a carreira ocupada também desta forma e não tendo um álbum novo de inéditas a caminho, NIRVANA pegou um punhado de singles e EP's abandonados (raros), canções que não entraram no disco de estréia, "Bleach" (1989), e no álbum "Nevermind", demos, covers e sessões em rádio, e lançou o disco "Incesticide".
Lembrando que na época, apesar de não serem músicas novas criadas para um álbum de estúdio, eram inéditas canções para grande parte da população mundial e aquilo nos acalentava fortemente como um adolescente que viveu esta época...
Originalmente, o grupo queria nomear cinicamente este disco como "Cash Cow".
No livro "Cobain Unseen" (2008), do biógrafo oficial de Kurt Cobain, Charles R. Cross escreve que Cobain concordou com o lançamento do álbum "Incesticide", só porque lhe foi permitido o controle completo sobre a arte do álbum.
A arte da capa foi pintada por Cobain, que é creditado como Kurdt Kobain nas notas de capa. Além do pato de borracha visto na foto da contracapa do álbum que pertencia a Cobain. A capa mostra com destaque uma papoula, sugerindo a luta de Cobain com o vício em heroína, o seu físico esquizoide (magreza e braços/anti-braços longos) e uma criança (filha?) dependendo dele.
As primeiras prensas do álbum continham raras notas escritas por Cobain, incluindo uma declaração que denunciava a homofobia, racismo e a misoginia, dizendo:
"Se algum de vocês de algum modo odeia homossexuais, pessoas de cores diferentes ou mulheres, faça um favor para nós: deixe-nos em paz! Não venha aos nossos shows e não compre os nossos discos".
Segundo relatos, versões do álbum contendo estas anotações de Cobain, foram vistas pela última vez a venda em lojas de discos em 1998.
Como as músicas foram gravadas em sessões diferentes e algumas foram gravadas quando o NIRVANA ainda não tinha uma formação estável, o disco inclui gravações de 04 bateristas diferentes: Chad Channing, Dan Peters, Dale Crover e Dave Grohl.
Para melhor entender a composição desse disco, vamos em ordem cronológica e não pela ordem da track-list do álbum.
Em 23 de janeiro de 1988, no Reciprocal Recording Studios, Seattle, de propriedade do produtor Jack Endino (patriarca de discos seminais do grunge nos anos 80 e continuando nos anos 90), NIRVANA havia gravado a sua 1ª fita demo com Dale Crover na bateria (baterista desde sempre do MELVINS, que estava "quebrando o galho" para o NIRVANA por um tempo), sendo que algumas canções desta fita demo foram parar no álbum de estreia e que Jack Endino iria produzir, "Bleach". Já outras músicas desta mesma fita que ficaram de fora do disco "Bleach", foram lançadas aqui no álbum "Incesticide". São elas: "Beeswax", "Downer", "Mexican Seafood", "Hairspray Queen" e "Aero Zeppelin".
A música "Downer" aparece na versão em CD no álbum de estréia do NIRVANA, mas só foi incluído nas reedições de 1992 em diante.
Entre dezembro de 1988 a janeiro de 1989, no mesmo Reciprocal Recording Studios, foram realizadas as sessões de gravação do disco "Bleach" e já com Chad Channing na bateria, Aqui, eles também haviam gravado a música "Big Long Now" e que não foi lançada no álbum "Bleach". Você pode conferir ela aqui no disco "Incesticide".
Em setembro de 1989, agora no Music Source Studios, Seattle, e com o disco "Bleach" já lançado, NIRVANA gravava o EP "Blew" com o iminente renomado produtor Steve Fisk. Neste EP, foi lançado uma canção que ficou esquecida no catálogo do NIRVANA e que foi lançada aqui no disco "Incesticide", chamada "Stain". Chad Channing ainda é baterista da banda.
No mês de abril de 1990, NIRVANA se instalou no Smart Studios, na cidade de Madison, onde foram iniciadas as sessões das famosas demos que iriam originar as canções do álbum "Nevermind". Já com Butch Vig produzindo (e que iria também produzir o disco "Nevermind"), a música "Dive" veio dessas gravações e posteriormente não seria lançada no álbum "Nevermind", já que as outras parceiras canções foram escolhidas para o disco "Nevermind". Ainda com Channing na bateria, esta gravação da música "Dive" foi lançada aqui no álbum "Incesticide".
Em 11 de julho de 1990, retornando ao estúdio de Jack Endino em Seattle, NIRVANA havia dispensado o baterista Chad Channing e nesta fase transitória quem "quebrou o galho" para eles agora foi Dan Peters (baterista desde sempre do MUDHONEY). Neste ínterim, Peters fez somente 01 show com o NIRVANA e participou da gravação do single "Sliver". Neste mesmo single a música "Dive" já tinha sido lançada, além da canção "Sliver" que também está aqui no disco "Incesticide".
No dia 21 de outubro de 1990, NIRVANA fez a sua memorável apresentação na rádio da BBC, Londres, nas sessões do icônico programa do radialista John Peel. Já com Dave Grohl na bateria, eles só tocaram covers e as canções "Turnaround" (DEVO), "Molly's Lips" e "Son of a Gun" (ambas do THE VASELINES), foram escolhidas e lançadas no disco "Incesticide".
Pulando para 09 de novembro de 1991, NIRVANA já tinha lançado o álbum "Nevermind" há 02 meses e novamente se apresentando na rádio da BBC, Londres, nas sessões do programa do radialista Mark Goodier. Aqui, as músicas "Been a Son" (que já havia sido lançada no EP "Blew"), "New Wave Polly" e "Aneurysm" (esta última já tinha sido lançada como lado-b nos singles do álbum "Nevermind"), foram lançadas no disco "Incesticide".
O álbum recebeu críticas diversas na época do seu lançamento. Confira algumas:
"Ninguém realmente quer uma variedade de sessões em rádios, lados-b, demos e obscuridades no lugar de um álbum adequado de estúdio", observou o jornalista Andrew Perry, da revista Select.
"Poxa, você não tentaria pôr um fim à loucura do consumidor em seu nome? E colher parte do dinheiro para si mesmo? De qualquer forma, as pessoas podem começar a falar novamente sobre música com o disco 'Incesticide'", crítica da revista Spin.
"A música 'Aneurysm' foi talvez a melhor canção do grupo já gravada", disse o crítico musical Stephen Thomas Erlewine, da revista AllMusic.
A gravadora do NIRVANA, Geffen Records, havia decidido não promover fortemente o álbum "Incesticide", lançando somente a canção "Sliver" como single - possivelmente para evitar um "esgotamento" do NIRVANA, pois a banda havia lançado o disco "Nevermind" e 04 singles nos dezesseis meses anteriores.
Apesar dessa falta de promoção e de ser uma coleção de material antigo e novo, o álbum "Incesticide" é muito apreciado e valorizado pelos fãs, onde estreou no número 51 do ranking da Billboard e vendeu mais de 500 mil cópias em 02 meses (somente nos EUA). O álbum "Incesticide" é certificado como Disco de Platina nos EUA e Reino Unido, duas vezes Disco de Platina no Canadá e Disco de Ouro na França.
Para comemorar os 20 anos do álbum em 2012, o mesmo foi relançado em vinil duplo apresentando as tapes master originais das canções.
Alcançou os seguintes rankings ao redor do mundo:
* 10º na Áustria
* 14º no Reino Unido
* 16º na Finlândia
* 17º no ranking geral da Europa
* 18º na Suíça
* 21º no Canadá
* 22º na Austrália
* 23º na Nova Zelândia
* 27º na Suécia
* 28º na França
* 31º na Holanda
* 39º nos EUA (Billboard)
* 40º na Alemanha
* 50º no Japão
Logo em janeiro de 1993, NIRVANA deu o ar da sua graça nos shows do Hollywood Rock Festival aqui no Brasil, e tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, foram apresentadas algumas músicas fresquinhas do disco "Incesticide" recém lançado. São elas: "Sliver", "Dive", "Molly's Lips", "New Wave Polly", "Been a Son" e "Aneurysm".
O disco "Incesticide" é indispensável para quem quiser acompanhar e entender partes significantes na história do NIRVANA.
Track-list:
1. Dive
2. Sliver
3. Stain
4. Been a Son
5. Turnaround
6. Molly's Lips
7. Son of a Gun
8. New Wave Polly
9. Beeswax
10. Downer
11. Mexican Seafood
12. Hairspray Queen
13. Aero Zeppelin
14. Big Long Now
15. Aneurysm
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