Cracked Skull: Falando de luta de classes e não do capeta
Resenha - Social Disruption - Cracked Skull
Por Willba Dissidente
Postado em 09 de maio de 2018
Nota: 8
Um grupo jovem formado por ex-membros do CALVARY DEATH e do DEADLINESS, o CRACKED SKULL é uma banda que começou e em pouco tempo, sem demo ou ep, já lançou debut "Social Disruption". A nova empreitada de velhos guerreiros do metal em Itaúna em Minas Gerais, esse power trio faz um death metal inovador que não foge da tradição e traz letras de críticas sociais tão contundentes que fazem "Que país é esse" soar tão inocente quanto "Ilariê". Que tal rachar seu crânio no jazz metal bruto de contestação social?
Um velho fantasma assombra a comunidade do heavy metal. O socialismo? Não! E assim aquela caótica pergunta se ainda seria possível criar algo de novo no som pesado sem soar apelativo, comercial e tão descartável quanto o "hit do verão". Juntando influências no Thrash do NUCLEAR ASSAULT, no peso bruto de KRISIUM e na inventividade do DEATH (o dos anos oitenta, nesse caso), o CRACKED SKULL faz Death Metal com mudanças de tempo e andamento junto à convenções inusitadas na seção rítmica. Inusitadas para o Metal, mas que seriam comuns à big bands de jazz. Em termos práticos é seguro de dizer que esses três rapazes de Itaúna por vezes soam como se estivessem sendo declaradas poesias sobre as injustiças sociais em bases pesadas com vocal gutural e, essas partes, não repetindo muito.
São muitas possibilidades que o som assim permite e o CRACKED SKULL está disposto à explorá-las. Logo após a intro "Forge the Fury", canção "Dark 1964" já abre estapeando os ouvidos do bangers que estavam se interessando pelo desenvolvimento da introdução. Aqui já vemos nas letras que abordam o Golpe de Estado sofrido pelo Brasil em 1964 como obra do imperialismo yankee uma marca distintiva do trio. "Rise Up Revolution", um dos destaques do disco só reforça o quanto é o conjunto e também que além dos crânios, os tempos estão todos quebrados.
O CRACKED SKULL é para ouvintes que querem ter de ouvir muito o disco para assimilar as músicas. Quem quer ouvir uma vez e já sair cantarolando sairá mal com o grupo. Mesmo "A Flame in The Dark Ages", que tem o refrão mais massa da bolachinha, mas tem o tempo mais "convencional", não escapa à regra. Tema com a maior duração do disco "Misery of Mind", não tem pobreza de espírito criativo, começando numa balada que vai mudando constantemente de tempo. Uma outra característica da banda é que os solos de guitarra, normalmente, são curtos, mas a guitarra sola o tempo todo em leads curtos nos espacinhos, enchendo fissuras, durante as convenções de baixo e bateria. Numa passeata de bons riffs, a pesada "Fascism" inicia bem metal e parte para o peso do groove. Uma dúvida que surge durante a audição do disco é porque tanto ódio às serpentes? Elas são associadas ao capitalismo, ao povo sendo ludibriado pela burguesia, ao fascismo emergindo em períodos revolucionários durante as letras da banda. E vale lembrar que no belíssimo encarte de doze páginas é todo desenhado à mão, não por computador e cada pagina a arte criada reflete a letra da música como o "Victim of Yourself" do NERVOSA. E na página dedicada a "Fascim", quem está ilustrada? A serpente!
Dando prosseguimento, "Selfish Gene" é a música mais caótica no pandemonim de riffs, viradas e fraseados que é o CRACKED SKULL. "Time of Ignorance" já é mais repetitiva na letra e o instrumental também é menos fracionado soando mais como um prog-metal mais vitaminado e bombado do que como um Death Metal, mas sem chegar a destoar do contexto. O encerramento é com "Terrorism", que crítica a paranoia que governos, como os do EUA, usam para justificar a guerra imperialista por lucro. É uma outra visão sobre o tema que aparece tanto nos jornais e revistas burgueses só que com sinais invertidos.
Encerrando o disco é digna de nota a foto do trio com diversos crânios estranhos. Além de um estranhamente rachado, há supostamente o ET de Varginha e também o mostro tricórnio do episódio 34 do SPECTREMAN.
Finalizando, nas palavras do baixista e vocalista Clênio "teria sido muito mais fácil fazer, mais simples e também falar de coisas que não existem e contos do capeta, mas história da humanidade, que não é outra senão a história da luta de classes é mais brutal e sangrenta e assustadora" que qualquer conto satânico". É seguro dizer, tanto como a quase toda riqueza se faz por herança, que o CRACKED SKULL rachará os crânios dos headbangers pelo som bruto e destrutivo como também por apresentas nova ideias violentas contra a opressão e dominação que existe desde que a bonança gerada pela produção foi apartada daqueles que à produzem.
Quem quiser adquirir "Social Disruption", debut do CRACKED SKULL deverá contatar o conjunto nos sites oficial e pelo facebook (link no final).
CRACKED SKULL:
Clênio de Souza Faria (ex - DEADLINESS) - Vocal e baixo.
Tarciso Guimarães (ex- CALVARY DEATH) - guitarra.
Marco Túlio (ex- CALVARY DEATH, ex- TUMÚLO DE FERRO, ex- HEADHUNTER D.C.) - bateria
Discografia:
Social Disruption (Full Length, 2017, cd).
Social Disruption - 41'18'' - 2017 - Nacional - Independente.
01 . Intro - Forge the Fury (01:01)
02 . Dark 1964 (04:23)
03 . Rise Up Revolution (05:38)
04 . A Flame in the Dark Ages (04:44)
05 . Misery of Mind (07:02)
06 . Fascism (05:22)
07 . Selfish Gene (06:50)
08 . Time of Ignorance (02:54)
09 . Terrorism (03:22)
Site:
http://crackedskull.com.br/
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