Resenha - Beneath The Surface - Oceania
Por Gustavo Ávila
Postado em 26 de novembro de 2017
Os jovens de hoje talvez não saibam o que era o mercado da música antes da disseminação total dos arquivos digitais. Antes desse tempo, havia uma cena dividida em duas: a das grandes gravadoras (braços da indústria cultural) e a dos artistas independentes. No início dos anos 2000, uma banda mineira desse último grupo despontava: a Diesel.
O som era o grunge de Seattle, com letras em inglês, mas com uma sofisticação que não havia na maioria das bandas daquela cena. Venderam mais de 5 mil cópias daquele CD de estreia e fizeram shows por todo o Brasil. A cereja do bolo veio com a conquista do festival "Escalada do Rock", dando o direito de abrirem uma das noites do Rock In Rio III (2001).
Acompanhei a transmissão pela TV e vi uma banda com garra e vontade incomparáveis. Extremamente talentosos e cantando apenas músicas próprias, ganharam o público desde o primeiro acorde. "Nós somos a Diesel e vamos tocar 'rock' proceis", disse o líder Gustavo Drummond, antes de iniciar a catarse coletiva que terminou antes do tempo. Dizem, o público estava tão agitado que era um risco para a segurança continuar.
Depois, a banda iniciou uma incursão de 5 anos nos EUA. Gravaram um excelente disco engavetado pela gravadora, mudaram de nome (Udora), fizeram mais de 150 shows por lá e venderam 10 mil cópias do espetacular "Liberty Square", um dos meus álbuns preferidos dos anos 2000.
Desde a volta ao Brasil, Gustavo Drummond lançou dois ótimos álbuns em português com o Udora. Neste ano de 2017, porém, voltou ao inglês e a um tipo de som que caracterizou a Diesel e a primeira fase da Udora.
O "power trio" Oceania sacudiu o underground de BH, em um show de estreia que tive a alegria de assistir. Em Agosto, saiu o primeiro álbum da banda, o petardo "Beneath The Surface".
Novamente, temos o cuidado de arranjos precisos, timbres meticulosamente construídos, afinações pouco comuns e as composições empolgantes. O disco contém uma preciosa coleção de músicas como "Ammunition" (a melhor do ano até agora), "Disappear", "Far Beyond Control", a faixa-título e "Modern Slavery".
Se 2017 se coloca como um dos anos mais difíceis de nossa histórica democrática, ao menos no campo musical temos motivos para ter esperança. Mesmo que ela esteja assim, escondida, abaixo da superfície.
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