Sonic Youth: a resenha no encarte de "Bad Moon Rising"
Resenha - Bad Moon Rising - Sonic Youth
Por Brunelson T.
Fonte: Rock in The Head
Postado em 03 de maio de 2017
Em 1985 era lançado o 2º álbum de estúdio do SONIC YOUTH, "Bad Moon Rising". E no ano de 2015, esse disco havia sido relançado com a adição de algumas músicas inéditas, assim como uma resenha em anexo ao encarte do álbum sob autoria de Gerard Cosloy. Ele é um americano executivo da indústria musical, escritor e fundador da gravadora independente, Matador Records. Depois que o SONIC YOUTH encerrou o seu contrato com a sua super gravadora, Geffen Records (a mesma do NIRVANA), foi com a Matador Records que eles se filiaram para que os futuros álbuns da banda fossem lançados.
E por mais que o relançamento desse disco tenha sido em 2015, a resenha escrita por Gerard havia sido feita em 1993.
Portanto, segue a resenha traduzida na íntegra logo abaixo:
Cidade de New York, verão de 1984... BILLY PSYCHO é baleado na rótula do seu joelho. Ed Koch (prefeito de New York) e Keith Hernandez (jogador de baseball) se dividem porque parece estar sendo ruim para as suas carreiras. Bruiser Brody (lutador de luta-livre) havia sido esfaqueado. O reverendo Al Sharpton (ministro batista) possuía em abundância e realmente a preços baratos, ingressos extras à venda para a "Victory Tour" da banda THE JACKSONS 5. O 2º single de TOMMY DOG já estava à venda nas lojas, ainda que não estava sendo vendido na loja de discos Some Records, porque a mesma nem havia sido inaugurada ainda. A rede de lojas No Gap já estava instalada na St. Marks e na Times Square, ainda como shopping centers com 10 anos de atraso.
Mas por que se preocupar definindo a cena quando a conexão do SONIC YOUTH a esta cena apenas fizeram eles terem uma baixa venda de discos? Quantas vezes a porra das palavras "o lado leste americano é pior" figurou proeminente em algum confuso review de alguém? Com certeza, firmes e mais precisas do que os críticos de Chinatown, Tribeca (bairros de New York) e Hoboken (cidade do Estado de New Jersey), estas pessoas foram lentos pensadores que de uma forma terrivelmente rápida colocaram o SONIC YOUTH em uma caixa num gueto tão pequeno e sem nenhuma etiqueta de código postal para ser entregue, pois a mesma havia sido retirada...
Consciente ou não, este 2º álbum de estúdio, "Bad Moon Rising" (1985), assim como o seu single de lançamento da música "Death Valley 69", foram grandes gestos, você tinha que admitir (com a atriz/escritora/cantora Lydia Lunch fazendo os back-vocais e participando do clip dessa música), mesmo se você estivesse ocupado vigiando a portaria de algum campo de "internamento" de rock e artes ou até mesmo lendo o jornal Village Voice, que seja. Para todas as prévias merdas que caíram sobre o SONIC YOUTH que refletiam a claustrofobia de New York (eu sempre pensei que esta aplicação se dava ao Keith Streng, guitarrista e membro fundador da banda THE FLESHTONES e que estrearam em cima de um palco em 1976 no clube CBGB), o disco "Bad Moon Rising" estava BEM ABERTO e SÓLIDO como um canyon do sudoeste americano, que é somente a única coisa que eu posso imaginar... (e acabo de decidir agora, por um aterro sanitário em Long Island em vez do canyon).
O outono/1984 contou com alguns incríveis shows do SONIC YOUTH em New York que quase ninguém viu, o que não era tão incomum antes do lançamento deste 2º álbum de estúdio. Lembro-me de uma ardente apresentação de somente 15 minutos da banda no clube Pyramid, que terminou com o plug sendo puxado da tomada e com a Lady Bunny (famosa drag queen americana) dando um soco bem no olho do baterista da banda na época, Bob Bert.
Nesta mesma noite no interior deste mesmo clube, eu entrei em um grande argumento com Timmy "Noise The Show" Sommer (hoje, famoso produtor musical nascido em New York, que na década de 80 tinha uma banda de punk rock chamada EVEN WORSE junto com o vocalista/guitarrista do SONIC YOUTH, Thurston Moore) sobre construir uma "casa de passeio", porque ele pensou que eu havia dito para ele numa certa hora para "matar a porra dos homos", quando na verdade eu somente havia lhe dito para "assoar o nariz" (anos mais tarde, Tim teria uma troca quase idêntica a essa com o músico Michael Bolton antes de uma entrevista ao vivo para o canal de TV VH1. Muito chato ele nunca ter feito uma checagem naqueles ouvidos).
Depois, no dia de Ação de Graças no clube Maxwell’s (Hoboken/New Jersey) na frente de 15 pessoas, tudo estava crescendo até Thurston Moore decidir reencenar todo o lado A do álbum "Family Man" da banda BLACK FLAG (o lado A desse disco é todo falado/narrado somente, com o lado B sendo a parte instrumental).
O álbum "Bad Moon Rising" fez o seu respingo inicial no Reino Unido, onde o guitarrista britânico Richard Thompson o havia indicado como o novo "carimbo" do selo Blast First (Richard Thompson mais parece o sósia do próprio fundador deste sub-selo britânico, Paul Smith, que foi o selo que abriu as portas para várias bandas americanas no Reino Unido). O álbum foi originalmente programado para ser lançado pela distribuidora Cabaret Voltaire’s Colecovision, mas a empresa foi à falência durante toda a "febre" que foram os jogos de vídeo game no ano de 1984. O lançamento nos EUA veio logo em seguida em um pobre financiamento e muito mal distribuído pelo selo Homestead, cujas realizações anteriores estavam incluídas os lançamentos dos primeiros trabalhos de bandas, como THOR e VIRGIN STEELE (anos mais tarde, eu lembro de ter lido em algum lugar que o baixista da banda VIRGIN STEELE era antes um membro da banda/clã BUTTAFUOCO, mas talvez, esta banda deve ter sido um outro VIRGIN STEELE somente). O selo Homestead continuou a fabricar e a vender milhares de cópias de "Bad Moon Rising" mesmo depois que o contrato já havia expirado, investindo os seus lucros em títulos "emocionantes" como o nome da coletânea de bandas filiadas ao selo chamada "Best of The Batcave" (O Melhor da Batcaverna), que foram as sessões ao vivo que estas bandas haviam feito para a John Peel Sessions da rádio britânica BBC.
O vinil original do single "Death Valley 69" foi lançado pela gravadora Iridescence Records, que na época este lançamento foi uma corrida independente baseada somente na cidade de Los Angeles por Michael Sheppard. Michael, uma figura sombria mais conhecido por sua mão em lançar álbuns seminais de bandas como HALF JAPANESE, CHRISTMAS e do cantor GARY CLAIL, nesta mesma época teve as suas fitas máster deste single "recuperadas" pelo seu zangado produtor, Tabb Rex. Tabb inundou o universo com incontáveis e milhares de cópias em vinil do single "Death Valley 69", e até hoje estima-se que este single vendeu mais do que todo o resto do catálogo combinado do SONIC YOUTH.
Depois que o álbum "Bad Moon Rising" foi lançado nos EUA a reação havia sido OK..., mas ainda levaria vários meses para vender algumas cópias. Você tem que se lembrar que isso foi antes de quando as bandas independentes já conseguiam lançar um CD ou um vídeo-clipe na MTV. Não só a revista CMJ (de New York) deixou de colocar o álbum na sua capa, mas eles nunca sequer chegaram a analisa-lo. Algumas pessoas estavam tendo um tempo difícil para se acostumar ao fato de que as bandas LET’S ACTIVE e THE LONG RYDERS não eram mais um negócio tão grande assim...
Stuart Swezey organizou um festival de bandas no deserto de Mojave (California) com vários grupos como o SONIC YOUTH e MEAT PUPPETS, sendo que esta foi a estreia há muito tempo aguardada de um festival na Costa Oeste... Muito ruim ter acabado a gasolina de 01 dos ônibus, onde alguns membros da audiência foram comidos por coiotes (uma apresentação subsequente com a banda SWANS em um depósito de móveis terminou em tragédia semelhante, quando o público foi devorado por cupins gigantes).
Uma dopada escritora da revista Voice perguntou sarcasticamente ao SONIC YOUTH se eles achavam que existia alguma perspectiva especial no departamento de compositores da banda. Ela havia dito: "... porque vocês sabem..., marido e mulher, esse tipo de coisa, sabe? Como a banda X". Eles responderam: "O único X que nós temos para fazer alguma coisa com ele, seria para marca-lo na sua testa para Henry Rollins" (vocalista do BLACK FLAG). Porra, eu não me lembro se foi Kim Gordon (vocalista/ baixista do SONIC YOUTH) ou Thurston Moore (ambos casados) quem respondeu esta pergunta ou se a escritora apenas inventou isso, mas alguém deveria esculpir esta situação ocorrida na matriz de algum álbum pirata numa hora dessas....
A minha memória preferida de toda esta confusão foi quando os amigos suíços "zilionários" do SONIC YOUTH, Nicholas e Catherine, tiveram um ataque quando viram os seus nomes impressos com erros ortográficos nas mangas das camisas da banda. Estes 02 eram benfeitores/amantes da arte que, além de investir dinheiro em bandas e artistas como o SONIC YOUTH, LIVE SKULL, RAT AT RAT R, CHRISTIAN MARCLAY, VIRGIN STEELE e etc, também eram os empresários/publicadores (ou seja, o $$$ mesmo) por trás de Thurston "Killer" Moore. De qualquer forma, esta dupla dinâmica não demorou muito para que, gentilmente, tivessem os seus nomes escritos errados de propósito nas capas dos discos que eram lançados (que por sinal, isso foi culpa de Paul Smith, fundador do selo Blast First), para daí começarem a gritar e a clamarem em voz alta sobre o seu desejo em recolher e saquear grandes quantidades de cópias do álbum "Bad Moon Rising", querendo agir desta forma praticamente no mesmo dia em que o disco havia sido lançado. A melhor parte foi quando Catherine disse que "poderia ter comprado um barco" em vez de emprestar dinheiro ao SONIC YOUTH... Eu não sei que tipo de barco ela quis dizer..., talvez uma canoa.
Não há muito mais que eu possa me lembrar, exceto que, para mim, o papel do SONIC YOUTH como mentores/fãs foi quase como um grande impacto em mim, assim como a sua própria música havia sido. Se não fosse pelo SONIC YOUTH, eu nunca teria ouvido falar de bandas como SWANS, LIVE SKULL, RAT AT RAT R ou BAG PEOPLE, assim como Don King (produtor musical e empresário), Richard Kern (cineasta e fotógrafo de New York) ou inúmeros outros. Pelo menos, não até estas bandas/profissionais terem encerrado as suas atividades ou por já terem feito o seu melhor trabalho profissional. Então, novamente, se não fosse pela revista punk rock NY Rocker, eu nunca teria ouvido falar do SONIC YOUTH..., mas eu não estou agradecendo a banda THE BONGOS por nada, certo? Pelo menos, não por hoje...
Nostalgia realmente é uma porcaria, mas a banda PACER fez uma boa versão da música do SONIC YOUTH, "I Love Hear All The Time".
Ass: Gerard Cosloy
New York, Novembro de 1993.
Track-list:
1- Intro
2- Brave Men Run
3- Society is a Hole
4- I Love Her All The Time
5- Ghost Bitch
6- I'm Insane
7- Justice is Might
8- Death Valley 69
9- Satan is Boring
10- Flower
11- Halloween
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps