Van Dorte: sensibilidade artística e qualidade da produção
Resenha - Epilogue - Van Dorte
Por Raphael Martinelli
Postado em 03 de maio de 2017
Nota: 8
Lançado em janeiro deste ano, o primeiro álbum da jovem banda paulistana de rock Van Dorte surpreende pela qualidade da produção musical e por ser mais uma chama de esperança no cenário rock brasileiro que anda tão carente de apoio profissional num mar de bandas underground sem orientação.
Mixado e masterizado por Marcelo Oliveira, conhecido por ter trabalhado com a saudosa banda Hydria, Epilogue é um álbum de rock alternativo com uma pegada bem sombria declaradamente inspirada pela sonoridade do grande sucesso mundial Evanescence e com arte e temas emprestados da obra do reconhecido cineasta Tim Burton.
Parafraseando o que os próprios artistas disseram, esse é um álbum em que cada faixa representa o capítulo de uma única história. O nome "Epílogo" em português, que significa conclusão, deixa claro que o álbum conta uma história que já terminou.
À medida que as faixas passam, todas elas extremamente carregadas de emoções escuras, são revelados os motivos por trás de tanto sofrimento, bem como as circunstâncias do fim do que poderia ter sido uma linda história de amor.
O protagonista revela assumir culpa de coisas que nunca fez, sentir-se claustrofóbico, destruído e preso num amor intenso, porém doentio, típico de relacionamentos tóxicos que vez ou outra nós mesmos podemos nos encontrar no decorrer de nossas vidas.
Na segunda metade do álbum, que em minha opinião é quando a banda realmente revela a que veio, é colocada à mesa uma série de sentimentos contraditórios que ilustram bem a confusão emocional vivida pela personagem.
Toda essa dor termina por tê-lo transformado em outra pessoa, agora vil e amarga, conforme diz a faixa "Evil Side", que encerra o álbum deixando o ouvinte curioso para saber o que viria então. O que houve depois do final dessa história tão triste? No que teria se tornado esse menino perturbado? Logicamente dá para perceber que o prognóstico é tão sombrio quanto já era a situação. E nós, enquanto isso, esperamos os artistas decidirem se vão ou não nos contar mais sobre isso nas suas próximas obras.
Musicalmente falando, o trabalho é simples. Não há muita variação entre as faixas no que concerne às melodias e aos arranjos instrumentais. Pessoalmente, senti falta de refrões mais fortes e bons bridges com solo de guitarra, mas essa é uma questão de gosto. As letras em inglês são fáceis de entender e absorver, apesar do sotaque do vocalista e de alguns tropeços gramaticais comuns a quem não domina a língua.
Os destaques positivos vão para o trabalho no teclado, sempre consistente em todas as faixas, especialmente em "My Pretty Prison". Apesar de "Fragile Dreams" ter sido lançada como single, minha faixa favorita é "In the Dark", pois é, de longe, a faixa mais ousada em termos de variação melódica. Uma grata surpresa é "Your Frequency". A canção aparentemente tímida e silenciosa, em comparação com o restante, revela profundidade emocional e peso musical mesmo no seu lento ritmo de balada, com versos que remetem expressamente à contradição entre sentimentos e desejos carnais.
Com tudo isso em mente, Epilogue, da Van Dorte, é um álbum consistente técnica e artisticamente dentro do cenário brasileiro e certamente mostra uma banda talentosa que chama a atenção e vale a pena acompanhar.
Aguardamos o próximo lançamento, que se seguir a mesma linha artística, amadurecer musicalmente e aprender com as lições do primeiro disco, poderá se tornar uma obra que poderá, quem sabe, ser reconhecida como um dos expoentes do rock nacional.
Van Dorte – Epilogue (2017)
01. Epilogue
02. The Blame
03. Claustrophobia
04. Breathe Now
05. Like Acid
06. Don’t Make Me Say Goodbye
07. Fragile Dreams
08. In the Dark
09. My Pretty Prison
10. Your Frequency
11. Evil Side
Site da banda:
http://www.vandorte.com/
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