Triumvirat: Mediterranean Tales, início da epopeia progressiva
Resenha - Mediterranean Tales (Across the Waters) - Triumvirat
Por Rafael Lemos
Postado em 08 de março de 2016
Nota: 9
Estarei fazendo uma resenha para cada álbum da banda Triumvirat onde, além de analisar os discos, estarei falando também sobre a história do grupo e algumas curiosidades.
A banda Triumvirat é, certamente, um dos melhores grupos do estilo conhecido como Rock Progressivo, gênero musical que se desenvolveu especialmente durante a década de 70 e que se caracteriza pela complexidade nas composições e por utilizar instrumentos não tradicionais dentro do Rock. Nele, muitas vezes a guitarra (que é o símbolo do Rock) não é utilizada pelas bandas de Progressivo ou, quando a tem, é deixada como instrumento secundário, sem com isso perder o peso, que é dado em especial pelo órgão, sendo este o instrumento a marca registrada do gênero.
O nome do grupo deriva do fato deles possuírem somente três integrantes, além de ser uma referencia ao triumvirato romano. A banda foi formada em 1969, na cidade de Colônia, na Alemanha, através do talentoso pianista clássico Jürgen Fritz que, na época, tinha somente 16 anos de idade, junto com Hans Bathelt na bateria e Dick Frangerberg no baixo. A proposta inicial era de ser um grupo instrumental que interpretasse a seu modo peças clássicas de compositores como Beethoven, Bach, Paganini e outros, o que não teve muita aceitação em sua cidade. Em 1971, levaram uma gravação de ensaio que fizeram em um quarto e, mesmo com esse material precário, conseguiram um contrato musical com a EMI Electrola da cidade da banda. Esta gravadora estava formando uma outra gravadora subsidiária, a Harvest, que trabalharia somente com bandas de Progressivo em seus anos iniciais e estavam a procura de novos talentos.
A EMI de Colonia faliu mas a Harvest existe até hoje e por lá passaram bandas como Barclay James Harvest, Focus, Soft Machine, Pink Floyd, até mesmo Scorpions, Iron Maiden e Deep Purple fizeram parte da gravadora no futuro, quando estavam ampliano os gêneros trabalhados. O Triumvirat decidiu mudar o estilo que faziam, passando a compor músicas autorais, para iniciar a gravação de seu primeiro trabalho. Nesse processo, Dick Frangerberg saiu da banda e, para a sua vaga, foi chamado Hans Pape, outro virtuoso baixista. A partir desse momento, se forma o estilo musical da banda como ficou registrado em seus álbuns.
Muitos acusam o Triumvirat de ser uma cópia do grupo inglês Emerson, Lake and Palmer. Existem muitas semelhanças, com certeza, a começar pelo fato de ambas as bandas terem três integrantes (pelo menos no começo da carreira, pois o Triumvirat já chegou a ser um quarteto) e usarem os mesmos instrumentos (basicamente bateria, baixo, órgão e piano, raramente possuindo alguns trechos com guitarra em poucas músicas). Além disso, Jürgen Fritz foi bastante influenciado pelo The Nice, antiga banda de Keith Emerson. Todavia, quem conhece bem o trabalho de ambas as bandas, percebe as diferenças, que se encontram no próprio estilo, sendo o grupo alemão menos caótico do que o grupo inglês, que muitas vezes passam a fazer composições que flertam com o abstrato. A verdade é que ambas as bandas são geniais e merecem o total respeito dos apreciadores de Progressivo.
O primeiro álbum do Triumvirat foi gravado em três dias no ano de 1972, no estúdio da EMI Electrola da cidade de Colônia, sendo lançado três meses depois. O disco desenvolveu-se em cima da música principal, a faixa título "Mediterranean Tales (Across the Waters)", que trabalha com um das maiores paixões de Jürgen Fritz: os temas históricos, no caso, um conflito no mar Mediterrâneo e os acordos sobre ele. Outros assuntos históricos seriam abordados em outros trabalhos da banda que estarei falando em breve.
Ela se trata de uma suíte (música com varias partes) que deriva da interpretação que o Triumvirat fez para "Die Entführung aus dem Serail (Overture)" de Mozart. Contando com seis partes, demonstra uma riqueza musical fantástica, mesclando o Rock com o Clássico, Blues e o Jazz. Hans Bathelt sabe usar os sons altos e baixos dos pratos com maestria. As linhas de baixo de Hans Pape chegam a ser hipnóticas, enquanto Jürgen Fritz dá um show a parte, fazendo um hibridismo sonoro entre o órgão e o piano, criando uma composição única na história do Progressivo. Por causa das variações e dos belos arranjos, os seus mais de 15 minutos de duração passam sem que percebamos o seu tempo de duração. Os pontos fracos são algumas passagens de um dos trechos da passagem "5 o’clock tea", onde ouvimos backing vocals típicos da década de 70 que, aos ouvidos de hoje, soam bregas e chegam a irritar um pouco mas que condiz totalmente com o período, acreditando eu que tenha sido bem aceito naqueles tempos. Mas como são apenas algumas frases que se inserem nisso, qualquer ouvinte atual vai continuar se deliciando com esta portentosa música assim como ocorreu em seus primeiros dias de criação: trechos de pianos que imitam salões e bares de filmes do Velho Oeste, pirações progressivas, momentos cadenciados semelhantes à musicas clássicas e contratempos jazzísticos são somente uma pequena mostra do que se ouve em apenas na primeira faixa do álbum: ainda temos mais três.
Em seguida vem "Eleven kids", que traz um tema onde Fritz abusa do órgão, em um belo solo ritmado. Com passagens descontroladas de volume que causam uma sensação ébria no ouvinte, temos a instrumental "E minor 5/9 minor/5". Imagino que este tenha sido um dos pontos altos de suas apresentações (algo raro de se encontrar, disputado pelos fãs da banda – alguns bootlegs rolam por ai), pois essa música parece funcionar muito bem ao vivo. Temos muita influência de Bach e Brahms aqui, pois o trabalho de órgão nos remete facilmente às peças desses compositores.
O álbum encerra com outro ponto alto, "Broken mirror", que se inicia com um belo solo de piano, o que será melhor desenvolvidos em trabalhos futuros, que serve como ligação para o som progressivo que se ouve em seguida. Com belas variações, se trata de uma das melhores músicas do disco.
Em 2002, todos os trabalhos do Triumvirat, que já existiram em CD, foram remasterizados e vieram com bônus, que são todos (sim, todos) os compactos da época. "Mediterranean Tales" rendeu dois singles: "Be home for tea/Broken mirror" (editadas para as rádios) e "Ride in the night/Sing me a song". Estas duas últimas demonstram um Triumvirat um pouco mais comercial e provavelmente foram tentativas de incluir a banda na programação das rádios, que foi um desejo que Fritz teve durante toda a sua carreira, chegando ao extremo que desintegrou a banda em seus últimos dias, no começo dos anos 80. Essas edições em CD a qual me refiro possuem belos encartes, com algumas fotos, histórico em alemão e em inglês e as letras das músicas.
Como curiosidade, temos que consta no encarte que o vocal neste primeiro disco foi feito por Hans Pape. Na verdade, quem cantou foi o próprio Jürgen Fritz. Ouvimos a voz de Pape somente na parte final da música "Broken Mirror", a mesma parte editada para a rádio no ep que se encontra entre as músicas bônus. A voz de Fritz não era muito agradável, sendo este também um dos poucos pontos fracos do disco.
Bem aceito pela crítica e pelo público, "Mediterranean Tales" foi somente o início da discografia desta excelente banda: o melhor estava por vir.
Tracklist:
01- Mediterranean Tales (Across the Waters)
A- Overture
B- Taxident
C- Mind Tripper
D- 5 o’clock tea
E- Satan’s breakfast
F- Underture
02- Eleven kids
03- E minor 5/9 Minor/5
04- Broken Mirror
Bonus:
05- Be home for tea (edit of track 1d)
06- Broken mirror (edit)
07- Ride in the night
08- Sing me a song
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