Arnaldo Baptista: o gênio passado a limpo
Resenha - Box Arnaldo Baptista - Arnaldo Baptista
Por Claudinei José de Oliveira
Postado em 22 de dezembro de 2015
Nota: 9
Em edição limitada, o "box" "Arnaldo Baptista" traz, novamente, à luz do dia a obra de um dos mais inventivos e ousados músicos brasileiros de todos os tempos, nos brindando com uma arte que, para o bem ou para o mal, ainda incomoda e, melhor, ainda surpreende.
O ano de 2015 poderá ser lembrado, pelos apreciadores da boa música, como o ano em que o rock nacional teve uma de suas maiores injustiças corrigidas: o lançamento, em CD, da obra (quase que) completa do eterno mutante Arnaldo Baptista. Embora em "edição limitada" (portanto é bom os interessados agirem rápido), a "caixa" "Arnaldo Baptista" traz cinco dos seis álbuns gravados pelo ex-Os Mutantes até agora, em embalagem "digipack", encarte com letras das músicas, ficha técnica das gravações e, na medida do possível, a reprodução da arte gráfica original.
Começando com a obra-prima "Loki?", lançado no ano de 1974, no meio da turbulência de sua saída dOs Mutantes e do fim do casamento com Rita Lee, o álbum é centrado no piano e conta com a participação de Dinho e Liminha, na época, bateria e baixo de sua ex-banda. Apesar de musicalmente acessível, as letras já indiciavam uma idiossincrasia que só iria se fortalecer nos próximos anos. Mesmo nos momentos supostamente mais descontraídos como, por exemplo, em "Vou Me Afundar Na Lingerie" e em "Cê Tá Pensando Que Eu Sou Loki?" é a voz de alguém arrastando uma dor maior que o mundo que ouvimos.
Em seguida, pela ordem da data de gravação, já que ambos foram lançados somente em 1988 pelo selo Vinil Urbano vem os dois álbuns com a banda Patrulha Do Espaço: "Elo Perdido", gravado em em estúdio, em 1977 e "Faremos Uma Noitada Excelente", gravado ao vivo em 1978. Um "progressive hard'n blues rock" dá a tônica em ambos e nos faz imaginar quais rumos a banda poderia ter tomado se a genialidade de Arnaldo não caminhasse sobre os muros da instabilidade emocional. A se lamentar, somente o fato da arte da capa do primeiro ter se perdido e, assim, não ter sido reproduzida e a belíssima capa do "ao vivo" ter sido aproveitada somente no encarte. Ainda sobre o Elo Perdido, há, nele, a adição de cinco faixas bônus aproveitadas de uma gravação em cassete, apelidada pelo próprio Arnaldo de "Elo Mais Que Perdido".
No ano de 1982, com a ajuda de de Luiz Calanca, Arnaldo gravou praticamente sozinho o álbum "Singin' Alone", já resenhado no link abaixo e lançado, de maneira independente, pelo selo da loja de discos de Luiz, a Baratos Afins. Aqui, a idiossincrasia de Arnaldo chega às últimas consequências, tanto que é praticamente impossível definir o álbum com adjetivos convencionais, usualmente utilizados na crítica musical.
Por último, temos "Let It Bed", lançamento encartado na revista "Outracoisa" de Lobão, no ano de 2004, contando com a produção e a colaboração de John Ulhoa, guitarrista da banda Pato Fu. Quem acompanha a trajetória de Arnaldo sabe que a música para ele é hoje, acima de tudo, assim como a pintura, uma terapia. Ele carrega gravíssimas sequelas de um "acidente" sofrido durante uma de suas muitas internações, logo após as gravações de "Singin' Alone". Devemos ter isso em mente ao ouvir seu último álbum, onde, agora, as idiossincrasias são imposições de seus limites. Porém, em relação a Arnaldo, nunca se sabe. Talvez ele esteja vivendo no mundo que, através dos excessos de sua vida e de sua arte, incansavelmente buscou. Perfeitamente possível em se tratando de alguém capaz de ir para o outro lado e voltar.
Ficou faltando, para a obra ser completa, "Disco Voador", também produzido por Calanca e, também lançado pela Baratos Afins em 1986, logo após sua convalescença e, portanto, ainda mais marcado pelas sequelas e por um minimalismo musical que chegas às raias do infantil.
Gravadora: Canal 3
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