Rival Sons: Banda surpreende em novo álbum
Resenha - Great Western Walkyrie - Rival Sons
Por Guido Lopes
Postado em 20 de junho de 2014
Nota: 10
"Great Western Walkyrie" é o quarto álbum de studio da banda americana de Blues Rock Rival Sons. Lançado em 10 de Abril de 2014 pela Earache Records, o álbum foi gravado no LCS Studios em Nashville, Tennesse e produzido por Dave Cobb, produtor dos álbuns anteriores "Pressure and Time" e "Heads Down".
Apontados pela Classic Rock Magazine em 2012 como Revelação do Ano e após extensa turnê em divulgação do último álbum (abrindo shows de bandas como Aerosmith e Guns’n Roses), os Rival Sons demonstram em Walkyrie uma grande capacidade em manter a singularidade clássica patenteada em seus trabalhos anteriores, e ao mesmo tempo expandir suas fronteiras musicais.
O disco se inicia com "Electric Man", uma faixa certeira e direta, revelando de cara os elementos característicos da banda: ótimos riffs de guitarra fuzz, cozinha bem alinhada e vocais soberbos. O andamento médio da canção confere uma certa "malandragem", que fica mais evidente com a letra da música e a inclusão de um sutil hammond.
"Good Luck" começa com um riff de guitarra mais direto (na linha de "The Ventures") e segue com a entrada de todos os instrumentos. A escolha dos acordes e a presença do tênue wurlitzer ao fundo (cortesia do competente Ikey Owens, tecladista do The Mars Volta e Jack White) preparam a cama para o vocal de Jay (Buchanan), que opta por um registro mais grave, fazendo uma referência direta ao rock dos anos 50.
"Secret" é um blues rock envenenado e fervoroso, na minha opinião um pouco diferente dentro do repertório da banda, com uma riffagem mais intensa (a la Black Sabbath) e incursões vocais bastante peculiares; aliás, uma das (boas) características de Jay Buchanan (vocalista) é justamente seu range e dinâmica, oferecendo uma performance excêntrica que varia de momentos sutis à extensas notas com drive em região agudíssima.
"Good Things" é uma das músicas que foi divulgada pela banda antes do lançamento do disco, e tem algo que remete à sonoridade do The Doors. A letra, embora simples, é reflexiva e fala sobre aproveitar a vida diante das diversas situações ("Good things will happen, bad things will happen too / Enjoy your ride now, ‘cause you never know how it’s gonna end").
"Play the Fool" lembra um pouco "Wild Animal" do disco anterior, entretanto sem soar uma cópia. A música possui um refrão mais comercial e simples. Destaque à execução primorosa do baterista Mike Miley, bastante consciente ao acelerar ligeiramente o andamento num segmento instrumental (durante o solo de guitarra), voltando ao beat normal novamente no refrão.
"Open My Eyes" é a música de trabalho do disco, para a qual a banda lançou recentemente um clipe. A introdução de bateria (que lembra "When the Levee breaks" do Led Zeppelin) prepara a entrada de um riff seguro e potente do guitarrista Scott Holiday, que serve de base para toda a canção. Holiday também atua com maestria, nas ótimas bases de acordes "twang" durante as estrofes (lembrando o Black Crowes em seu antológico "Southern Harmony and Musical Companion") e no marcante solo bluesy, cheio de feeling.
"Rich and The Poor" é também uma boa canção, com uma estrutura mais simples e direta e uma tonalidade mais soturna que chega a soar em alguns momentos como Moody Blues. Seguimos para as três últimas faixas do disco, que para mim são as melhores.
"Belle Starr" versa sobre a homônima e infame ladra americana dos anos 50, sendo também a faixa que batiza o disco. Citando em sua letra a "grande valquíria do ocidente" (The Great Western Walkyrie), a breve canção transita com propriedade em um território ainda não muito explorado pela banda, com modulações tonais, criando um clima etéreo e psicodélico, em contraponto a uma levada rápida com um groove mais moderno. O baixista Dave Beste (recém integrado à banda em substituição a Robin Everhart) mostra estar totalmente ambientado, criando ótimas intervenções e frases que preenchem as pausas no refrão; um dos pontos altos do play.
A próxima música, "Where I’ve Been", poderia ser considerada a balada do disco. A banda oferece uma silhueta sonora despretensiosa e singela, intimista, sem exageros técnicos. Jay Buchanan volta a cravar uma performance franca e arrebatadora, revelando em sua voz a fragilidade confessional e honestidade que a letra sugere ("I feel like I don’t deserve you... how could you love me, when you know where I’ve been?") Bela letra que retrata com candidez a dor e o perdão numa relação amorosa, quando uma pessoa não consegue se esquecer dos erros que cometeu no passado.
Se o álbum acabasse aqui, acreditem: teríamos em mãos um brilhante trabalho, que faz jus às altas expectativas atribuídas à banda, bem como aos elogios feitos em outras resenhas.
Mas para extirpar de vez qualquer possibilidade de dúvidas, e extremar as impressões já criadas no decorrer do play, a banda volta como que em um "bis" para oferecer o último e monumental registro do disco, a épica "Destination on Course" (a faixa ultrapassa qos 7 minutos de duração).
Este grand finale exprime de forma vertiginosa todos os elementos apresentados durante o disco, mostrando uma banda completamente afinada e entrosada. Holiday empreende experimentações de timbre que beiram a psicodelia, ora despejando riffs e fraseados com seu característico som fuzz, ora soando como um crossover entre Gilmour e Hendrix. Jay Buchanan em alguns momentos lembra Robert Plant (em "Since I’ve Been Loving You"), e no refrão, parte para uma abordagem incomum (quase lírica) de sua voz. O contraste entre a sutileza e a tensão são brilhantemente trabalhados pelo baterista Mike Miley, que constrói junto com Dave Beste uma seção rítmica densa e coesa, de tirar o fôlego. A música e o álbum terminam em um fade out repentino e repleto de efeitos sonoros, fazendo o ouvinte pensar "What the hell? Acabou?"
De forma resumida, este disco não somente faz jus ao exigente catálogo da banda e consolida sua posição entre os grandes; ele eleva o quarteto a um outro patamar, transbordando maturidade e identidade musical. É também uma prova aos mais duvidosos, de que a mensagem do bom e velho Rock, forjado pelos mestres em sua época áurea, continua a ser proclamada nos tempos atuais, só que por outros discípulos.
Great Western Walkyrie (2014)
1. Electric Man
2. Good Luck
3. Secret
4. Play The Fool
5. Good Things
6. Open My Eyes
7. Rich And The Poor
8. Belle Starr
9. Where I’ve Been
10. Destination On Course
Vídeo de "Open My Eyes".
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