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Tommy Bolin: Tênue linha entre a fama e o anonimato

Resenha - Teaser - Tommy Bolin

Por Mitsuo Florentino
Postado em 28 de agosto de 2012

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

Que Tommy Bolin é um dos mais injustiçados guitarristas da história, não existe nenhuma dúvida. Afinal, por que alguém com habilidade exímia para tocar jazz, blues, funk, reggae e rock seria odiado pelas "massas"? Exatamente pelo fato da "massa" existir, com certeza 70% das pessoas que conhecem Tommy Bolin só conhecem-o pela sua passagem pelo Deep Purple, que com certeza, foi seu pior trabalho na curta carreira (ainda sim fantástico, vide Owed to G, Comin' Home e You Keep On Moving). Lá no Purple ele sofria de problemas de ser o substituto de ninguém mais e ninguém menos do que Ritchie Blackmore, além claro, das drogas (dizem que onde o Purple MKIV ia, ia um grupo de "dealers" atrás). Tudo isso somado resultava em performances ao vivo abaixo da média, então, o que o público da época fazia? Gritava "Bring Blackmore Back". Porém, Come Taste The Band era apenas a parte conhecida de Bolin. Um pouco antes de ser chamado para tocar no Purple, ele tinha acabado de gravar o excelente álbum Moxy da banda homônima e tinha começado a gravar seu primeiro álbum solo, Teaser - Este que foi interrompido por um breve tempo para a audição de Bolin com o Purple. Após unir forças ao Purple, junto a Come Taste The Band, Bolin começou a gravar Teaser de novo, com muitos convidados especiais, como Jan Hammer, Dave Samborn e Glenn Hughes. E é sobre esse álbum que irei falar.

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Começamos com The Grind, aquela musiquinha para animar, sabe? Tem um toque bem groovy nela, além do refrão contagiante e o solo bem executado de Bolin. Apesar de tudo, é a pior música do álbum. Em seguida vêm Homeward Strut, ela é levemente baseada em Jazz Fusion (mas não é fusion - é mais um experimento de Bolin, dá para dizer que é uma música vagamente de vanguarda, o início lembra música eletrônica) com uns toques de música latina (vide solo de bongô no fim), Bolin também apavora, fazendo bem seu trabalho. Detalhe: Homeward Strut aparecia na maioria dos setlists dos shows do Purple MKIV. Em seguida vem a belíssima Dreamer, uma balada escrita por Bolin e Jeff Cook em 1972 nos seus tempos de Energy, após ser resgatada do fundo do baú, um trabalho de mestre foi feito. A letra continuava a mesma, mas algo tinha mudado - não era mais Cook que cantava, e sim o próprio Bolin, que aplicou seu estilo próprio, e muito bem. Falando em cantar, sabe quem canta no último verso? Um tal de Glenn Hughes (talvez você já tenha ouvido falar dele por aí, não?). O vocal de Hughes é magnífico, magnífico como o solo de guitarra de Bolin no meio: Um solo veloz com feeling (característica marcante de Bolin) e bastante delay. Que música! A próxima música também é excelente, Savannah Woman, música com influências latinas (principalmente da Bossa Nova, já que Bolin era fã de música brasileira). Um ritmo cadenciado e um belo solo acústico no final são as características dessa canção relativamente peculiar. A próxima faixa é a faixa-título: Teaser. Teaser é um hard rock bem swingado, mas bem mesmo, a música em alguns momentos chega a ser dançante, o riff é muito bom, tal como o solo. Uma música consistente e convincente. Após a swingada e movimentada Teaser, temos People, People para acalmar os ânimos. Uma coisa marcante nessa música é seu toque reggae, bem conduzida e cadenciada por Bolin, Dave Samborn vai fazendo um show a parte com seu sax, adicionando um toque jazzistíco ao reggae, outra música consistente, principalmente pelo seu instrumental (não é atoa que Bolin sempre falou "hear the band" nas apresentações ao vivo de People, People). Se você tem ainda alguma dúvida de que esse álbum é complexo e eclético, temos agora Marching Powder, agora sim, Jazz Fusion - e de primeira qualidade, buscando inspiração em seu passado, Bolin faz um misto de seus álbuns com Alphonse Mouzon e Billy Cobham, utilizando toda agressividade e precisão presente no Mind Transplant (Mouzon), Bolin executa um dos seus solos mais velozes, porém também temos toda a sofisticação de Spectrum (Cobham), as linhas instrumentais são complexas, o baixo é constante e o saxofone nunca deixa espaço para vazios, assim como a bateria e os sintetizadores. Marching Powder é uma música extremamente complexa, completa e concreta. Assim como na sequência Teaser - People, People, temos aqui uma música para acalmar, um rock de primeira linha - Wild Dogs, após a introdução calma ao som da guitarra, temos Bolin fazendo um belíssimo vocal (além de exímio guitarrista, Bolin cantava muito), a música vai em uma levada calma, tendo um refrão bonito, é uma faixa extremamente agradável de se ouvir. Agora chegamos ao final do álbum - só resta uma faixa: Lotus, a melhor música, para encerrar o álbum com chave de diamante, ouro, ou qualquer outra coisa de grande valor, pois Lotus é fantástica, após a introdução calma e sentimental, com Bolin cantando quase à capella, temos uma parte pesada, muito bonita (!), onde Bolin novamente mostra sua qualidade como vocalista - perceba que ele não grita em nenhum momento. E ao fundo, temos um instrumental de primeira. Na metade da música, temos aqui um solinho pequeno, onde Bolin mostra todo feeling, e nos prepara novamente para a parte pesada, que após acabar, nos conduz para uma parte completamente mágica, o solo que Bolin toca no "outro" é de outro mundo, velocidade, feeling, velocidade, feeling em dobro,... Se você acha impossível um épico de menos de quatro minutos, escute Lotus, é
uma música indescritível, assim como Teaser por completo.

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Track-list
1. The Grind (Bolin/Cook/Sheldon/Tesar) – 3:29
2. Homeward Strut (Bolin) – 3:57
3. Dreamer (Cook) – 5:09
4. Savannah Woman (Bolin/Cook) – 2:47
5. Teaser(Bolin/Cook) – 4:26
6. People, People (Bolin) – 4:56
7. Marching Powder (Bolin) – 4:14
8. Wild Dogs (Bolin/Tesar) – 4:40
9. Lotus (Bolin/Tesar) – 3:57


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Sobre Mitsuo Florentino

Curitibano, nascido em 1999, que escuta boa música, independentemente de gêneros, porém que tem uma leve preferência pelo rock dos anos 60, pelo hard rock setentista, pela NWOBHM, pelo jazz fusion, e é claro pelo rock da década em que cresceu: o indie. Aspirante a jornalista, é poeta e pianista/organista de segunda, mas escuta, coleciona e consome música desde muito pequeno - conta com uma coleção de quase 400 CDs - e mais recentemente também começou a escrever sobre música, no blog que mantém com alguns amigos: Afluentes do Rock.
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