Doors: mais que apenas uma coleção de canções
Resenha - Doors - Doors
Por Gustavo Berlin
Postado em 03 de dezembro de 2009
Existem álbuns,e existem sopros de vida capturados em disco. Sim, estes últimos são tão raros e incomparáveis que sua simples existencia deve ser celebrada e cultivada como uma jóia. Dentro do rock pouquíssimos trabalhos atingiram este estado de graça, talvez menos de uma dúzia. E nenhum deles conseguiu, até hoje,igualar o abalo sísmico que o primeiro álbum dos Doors tem a capacidade de gerar na mente de um indivíduo. Não se trata de uma coleção de canções. É algo mais próximo de uma experiência de vida, e para alguns uma potencial jornada pelo subconsciente. Exagero? Para muitos, talvez.

Há algo humano, selvagem, primitivo neste album, que é realmente difícil de expressar em palavras. É claro, extinguir sua natureza destrinchando-o com compactos e execuções em rádio faz com que a mágica desapareça, mas esperar algo diferente de gravadoras é uma utopia desnecessária. Basta preservar a obra completa como um segredo bem guardado, para aqueles que conseguirem enxergar alem da levada contagiante de "Light My Fire". Seu espírito casa com o do longa de Francis Ford Coppola, "Apocalypse Now", de maneira quase sobrenatural.
O que é realmente curioso é que há uma certa incerteza em relação à proposta da banda até os ultimos minutos do disco. Ele começa iressistível e inigualavelmente psicodélico com a antológica "Break On Through (To The Other Side)", e segue um clima cada vez mais distante do prosaico com as hipnóticas "Crystal Ship" e "End Of The Night", passando por verdadeiras pérolas do rock de San Francisco. Mas é apenas com "The End", uma das músicas mais pertubadoras ja escritas, que percebe-se o quão longe Jim Morisson se encontrava do "Summer Of Love" de 67, tal como o poder apaixonante que este manifesto obscuro tem de envolver seu ouvinte.
Seja pelas letras, uma dramática interpretação de Édipo Rei entrelaçada com viagens lisérgicas e cenas apocalípticas de um Vietnã devastado, ou simplesmente pela maneira selvagem que Morisson pronuncia cada palavra, "The End" é pura e simplesmente o coração de toda a música. É seguramente um dos mais chocantes momentos do rock n' roll, e seus ecos perduram na mente por horas após a audição. Sua estrutura de Raga indiano é o traço defintivo que distancia a composição de tudo que se tenha conhecimento, enquanto uma voz anuncia intimadoramente por cima: "Lost in a roman wilderness of pain, and all the children are isane". Imaginamos os quadros descritos em nossa mente, e Morrison se remoe profeticamente. Nos últimos momentos, quando não há nada mais que possa ser dito, o vocalista inquieto e apaixonado pela sua cria altera o tom apocalíptico e balbucia em um pós-clímax perturbadoramente instimista: "my only friend, the end... it hurts to set you free, but you'll never follow me... The end of laughter and soft lies, the end of nights we tried to die". Em meio a lágrimas sentidas encerra tudo como uma passagem para o outro mundo. As portas da percepção são, de fato, abertas.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



Os 5 discos de rock que Regis Tadeu coloca no topo; "não tem uma música ruim"
Motörhead "salvou" baterista do Faith No More de ter que ouvir Ted Nugent
Wolfgang Van Halen diz que as pessoas estão começando a levar seu trabalho a sério
O que Max Cavalera não gostava sobre os mineiros, segundo ex-roadie do Sepultura
A única banda de rock brasileira dos anos 80 que Raul Seixas gostava
A melhor música do AC/DC de todos os tempos, segundo o ator Jack Black
O fenômeno do rock nacional dos anos 1970 que cometeu erros nos anos 1980
Clemente segue no CTI, informa novo boletim médico
Cinco bandas que, sem querer, deram origem a subgêneros do rock e do metal
O padrão que une todos os solos da história do Iron Maiden, segundo Adrian Smith
Ritchie Blackmore aponta os piores músicos para trabalhar; "sempre alto demais"
Metal Hammer inclui banda brasileira em lista de melhores álbuns obscuros de 2025
Novo álbum do Violator é eleito um dos melhores discos de thrash metal de 2025 pelo Loudwire
Metal Hammer aponta "Satanized", do Ghost, como a melhor música de heavy metal de 2025
3 gigantes do rock figuram entre os mais ouvidos pelos brasileiros no Spotify
Corey Taylor e a banda que consegue ser pior que o Nickelback; "Eles são horríveis"
Eagles: o significado da clássica "Hotel California"
Assessor dos Ramones relembra o bizarro ritual alimentar pré-show da banda

A banda que "nocauteou" Ray Manzarek, do The Doors; "Acho que era minha favorita"
A banda que gravou mais de 30 discos inspirada em uma única música do The Doors
O Jim Morrison que Roger McGuinn viu de perto, longe do mito do "Rei Lagarto"
"Estúpidos de doer"; a adorada banda que, para Lou Reed, concentrava tudo que ele odiava
Coldplay: Eles já não são uma banda de rock há muito tempo



